Os Estados Unidos da América e a Rússia chegaram a acordo e definiram um plano para impor um cessar-fogo na guerra civil síria e estabelecer as bases de um processo de paz, de acordo com informação avançada pela BBC.

O acordo implica um cessar-fogo na Síria, a partir do dia 12 de setembro. Na próxima semana, todas as operações de combate, incluindo os bombardeamentos aéreos, terão de cessar para criar uma zona desmilitarizada que permita o acesso de ajuda humanitária.

A informação foi avançada pelo Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, que esteve reunido com o ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, em Genebra. John Kerry garantiu que o plano definido iria levar a negociações para “parar o conflito” e acrescentou que o acordo pode ser o “ponto de viragem” da guerra na Síria.

Os Estados Unidos da América vão trabalhar com grupos de oposição e Moscovo vai colaborar com o governo sírio de Bashar al-Assad para garantir que o cessar-fogo entra em vigor. No entanto, Kerry sublinhou que estas medidas só serão eficazes se “todas as partes cumprirem as suas obrigações”. Os dois países também se comprometeram a trabalhar juntos para derrotar o Estado Islâmico e os combatentes de al-Nusra.

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O ministro russo garantiu à Reuters que os dois países estão convencidos de que, após a implementação do plano, “haverá condições favoráveis” para levar a paz de volta à Síria.

Cessar-fogo celebrado com cautela e ceticismo. Confrontos continuam na Síria

O acordo celebrado entre os Estados Unidos e a Rússia está a ser recebido com alguma prudência. O próprio Secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, fez questão de lembrar que esta é uma “oportunidade” para restabelecer a paz na Síria, “mas nada mais do que isso até se tornar realidade”. “Ninguém esta a construir este acordo com base na confiança”. A chave, assegurou o norte-americano, será a “fiscalização” permanente.

Sergei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros, também celebrou o acordo, sublinhando, no entanto, que a situação na Síria é neste momento um “pântano”, com várias partes em conflito que podem tentar boicotar o cessar-fogo. Por essa razão, como explica o jornal britânico The Guardian, grande parte dos detalhes do acordo vão permanecer secretos, para minimizar os riscos de sabotagem.

Num comunicado, Bassma Kodmani, membro do Alto Comité das Negociações (ACN), que reúne os principais representantes da oposição e da rebelião sírias, congratulou-se com o acordo, mas as suspeitas ainda são muitas — sem uma pressão constante de Moscovo, acredita a responsável, Bashar al-Assad pode violar o cessar-fogo. “Estamos na expectativa. A questão chave é acabar com a estratégia de Assad de sitiar regiões inteiras” e com a “tortura de civis”.

Fares al-Bayoush, líder dos rebeldes do Exército Livre da Síria (ELS), também reagiu com prudência, lembrando que os russos e o exército do regime sírio já desrespeitaram o acordo anterior. As hipóteses deste cessar-fogo resultar são as mesmas que nessa altura, adiantou o responsável.

Abdul Salam Abdul Razak, capitão e porta-voz das brigadas rebeldes Nour al-Din al Zinki, por sua vez, condenou o acordo, argumentando que tal só servirá para permitir ao exército sírio recuperar forças antes de lançar nova ofensiva contra os rebeldes.

De resto, poucas horas depois do anúncio de cessar-fogo, continuam a registar-se confrontos na Síria. Este sábado, pelo menos 24 pessoas foram mortas por ataques aéreos contra a cidade rebelde de Idleb, noroeste da Síria, indicou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Os ‘raides’, efetuados por aviões que não foram identificados, visaram um mercado e diversos bairros de Idleb e feriram pelo menos 90 pessoas, precisou a OSDH, que dispõe de uma vasta rede de informadores através da Síria.

Um fotógrafo da agência noticiosa France-Presse viu homens a escalarem escombros, em sandálias, para ajudar à retirada dos feridos e de habitantes cobertos de poeira, após o colapso do seu edifício. Presenciou ainda o mercado em chamas, com civis a afastarem-se do local e alguns transportando feridos.

De acordo com Abdul Salam Abdul Razak, citado pela agência Reuters, também a cidade síria de Aleppo continua a ferro e fogo. Segundo o porta-voz das brigadas rebeldes Nour al-Din al Zinki, o exército sírio atacou zonas controladas pelos rebeldes, para tentar ganhar terreno até que o cessar-fogo entre em vigor, na próxima segunda-feira. “Os combates prosseguem em todas as frentes no sul de Aleppo mas os confrontos em Amiryah são os mais violentos”, adiantou Abdul Salam Abdul Razak.

Este sábado, a agência oficial síria Sana anunciou que o Governo de Damasco aprovou o acordo realizado entre os Estados Unidos e a Rússia. O conflito sírio já terá provocado desde 2011 mais de 290.000 mortos e mais de dez milhões de refugiados e deslocados.

O acordo entre Rússia e Estados Unidos acontece depois de as forças armadas turcas terem desencadeado em 24 de agosto a ofensiva militar “Escudo do Eufrates”, dirigida em simultâneo contra os ‘jihadistas’ do grupo Estado Islâmico e as milícias curdas locais.