“Se as Montanhas se Afastam”

Desde o seu primeiro filme, rodado em 1995 e nunca visto fora de portas, que o realizador chinês Jia Zhangke tem mostrado e refletido sobre as modificações políticas, económicas, sociais e culturais no seu país, e dado forma romanesca ou documental ao impacto destas, imediato, para um futuro próximo ou a longo prazo, nos seus conterrâneos, no seu modo de vida, nos valores e na mentalidade, não poucas vezes sofrendo por isso sanções das autoridades comunistas, que chegaram à proibição de filmar durante algum tempo. Em “Se as Montanhas Também se Afastam”, o realizador prossegue essa reflexão, através da história de Shan Tao (a excelente Zhao Tao, sua mulher), que, em 1999, entre casar com um pretendente pobre e outro rico, ambos amigos de infância, decide-se por este.

O filme desenrola-se em três tempos, 1999, 2014 e 2025, e em dois países, a ” nova China” do modelo económico capitalista incrustado num regime comunista, e a Austrália. E através de Shan, do seu marido, do homem que ela rejeitou e do filho que teve daquele (batizado “Dólar” por um pai embriagado de prosperidade “à ocidental”), e dos seus respetivos destinos, Jia fala da globalização, da separação das gerações e da gradual despersonalização cultural e perda da identidade dos chineses desde o final do século XX, sem nunca perder o pulso emocional às personagens. Por isso, “Se as Montanhas Também se Afastam” é um dos mais filmes mais dramáticos e melancólicos já feitos sobre uma mãe e um filho alienados um do outro – sendo que a perda da mãe é também, aqui, a perda da pátria. E veja-se a profunda ironia com que o realizador usa o tema “Go West” dos Pet Shop Boys.

“O Bebé de Bridget Jones”

Esteve por um fio, este terceiro filme sobre a personagem criada por Helen Fielding nas páginas do diário “The Independent” em 1995, e depois vertida para livros “best-sellers”. Desde 2009 que esta continuação de “O Diário de Bridget Jones” (2001) e “O Novo Diário de Bridget Jones” (2004) estava prevista, mas passou por toda uma série de vicissitudes desde que, em 2011, Renée Zellweger e Colin Firth concordaram em retomar os seus papéis, respetivamente da heroína do título e do seu apaixonado, Mark Darcy. O argumento passou por uma série de versões desde ainicial, escrita por Fielding e por David Nicholls, acabando por ser reescrito por Emma Thompson; Hugh Grant chegou a estar associado ao projecto e retomar a sua personagem, mas mudou de ideias à última hora e abandonou-o; e foi Sharon Maguire, que havia realizado o filme original, quem acabou por vir filmar “O Bebé de Bridget Jones”, depois das desistências de dois outros colegas. Mas tudo acabou por se compôr, e eis Bridget Jones de regresso, agora já na casa dos quarenta, separada de Darcy, derretida por Jack (Patrick Dempsey), um charmoso americano – e grávida e sem saber qual dos dois é o pai da criança, porque esteve com ambos em duas noites seguidas. Que mais lhe irá acontecer?

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https://youtu.be/zQkOY5H5d2g

“The Beatles: Eight Days a Week”

O novo documentário de Ron Howard sobre os Beatles “The Beatles: Eight Days a Week”, revive os anos loucos em que os Beatles andaram em digressão, entre 1962 e 1966, quando deram o seu último concerto pago, no estádio Candlestick Park, em São Francisco, mostrando também como à homogeneidade da imagem dos Fab Four, correspondia uma sólida unidade interna, que incluía votações democráticas. Howard teve tudo o que quis para fazer “The Beatles: Eight Days a Week”: fotografias, arquivos sonoros, documentos e imagens conhecidas, pouco vistas ou inéditos, toda a colaboração de Paul McCartney, Ringo Starr (que são entrevistados) e das viúvas de George Harrison e John Lennon, Yoko Ono e Olivia Harrison, depoimentos de pessoas que trabalharam com os Beatles ou lhes foram muito próximas (caso do jornalista de rádio americano americano Larry Kane, que os acompanhou em exclusivo – e ao princípio, com relutância . durante a digressão pelos EUA e Canadá, no Verão de 1964) e de admiradores célebres e de longa data, desde Elvis Costello a Whoppi Goldberg, passando pelo compositor Howard Goodall ou Sigourney Weaver, todos derretendo-se em sincera e emocionada devoção. “The Beatles: Eight Days a Week” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.