Falta muito? Quantas e quantas vezes essa pergunta não sai da nossa boca no início de uma viagem pseudo-interminável no banco de trás: ”Falta muito?” (isto antes de nos queixarmos de enjoo a tempo de nos entregarem o belo do saco de plástico). Neste Tondela-FC Porto, é parecido. Falta muito? Falta muito para acabar? E o saco de plástico ali à mão de semear, com muitos enjoos pelo meio.

Inaceitável, a primeira parte. Curiosa, só curiosa, a segunda. O Tondela, péssimo anfitrião do campeonato, com duas derrotas e nenhum golo marcado (2-0 do Benfica e 1-0 do Belenenses), joga à defesa. O Porto, visitante assim-assim (3-1 nos Arcos e 1-2 em Alvalade), não joga nada. Sem garra nem coragem. E remates à baliza? Zero. Z-e-r-o. Cláudio Ramos, o guarda-redes do Tondela, é um cidadão tranquilo. Quer dizer, ele sai a uns cruzamentos e tal, não passa daí. O jogo simplesmente não flui, é como dar 45 minutos de avanço ao Tondela.

Na ressaca do 1-1 em casa vs. FC Copenhaga, o treinador Nuno altera a táctica e os seus intervenientes. Saem Marcano, Óliver, Danilo, Herrera e Corona, entram Boly (estreia absoluta), Brahimi, Ruben Neves, André André e Depoitre. Este último faz dupla com André Silva. Eis o 4-4-2 à moda do Porto. Sem efeitos práticos. O Tondela anula-o. À base de muitos agarrões, é verdade (11 faltas na primeira parte). E também de muita vontade em pontuar. E de marcar, não? Isso é que já é mais complicado. Casillas é um cidadão mais-que-tranquilo.

A segunda parte é diferente. Há mais movimento, mais emoção, mais faísca. Começa bem o Tondela a importunar (finalmente) Casillas. O Porto só começar a acordar com a entrada de Óliver para o lugar de Brahimi. O espanhol tem toque de bola e sabe mexer-se em qualquer campo, até no do Tondela, em que os 22 jogadores parecem sardinhas entaladas. Aos 60’ (veja lá bem isto, uma hora de jogo), a primeira jogada com cabeça, tronco e membros. Óliver liberta Layún e o cruzamento do mexicano para Depoitre é mais de meio golo. Ou não. O belga erra o alvo e atira por cima. Incrível. O mesmo adjectivo aplica-se ao falhanço de Boly, o tal reforço do Porto no último dia do mercado de transferências. Murillo apropria-se da bola e corre isolado. Vale a saída destemida de Casillas para evitar males maiores – ele que já fora o herói do jogo da época passada, em campo neutro (Aveiro), ao defender o penálti do compatriota Salva aos 82’ e evitar o empate.

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É precisamente esse minuto que o Porto começa a atacar desenfreadamente a baliza de Cláudio Ramos. O guarda-redes roça a perfeição em dois movimentos clássicos: no primeiro, impede com a perna esquerda o golo de André Silva; no segundo (90’+3), o de Adrián. Aqui, a pergunta do “falta muito?” já não se aplica. E se há enjoo, é totalmente justificado pelo carrossel portista a tentar o golo de todas as maneiras e feitios. André Silva ainda atira às malhas laterais (83’) e Adrián cabeceia ao lado (90’+1). O Tondela acaba o jogo com 22 faltas e um ponto. Isso mesmo, Petit volta a caçar o dragão. E outra vez na 5.ª jornada – 0-0 pelo Boavista, no Dragão, naquele jogo de futebol aquático, em 2014. O Porto fica a zeros pela primeira vez em 2016-17 e vira a cara à história. Há precisamente 20 anos, na noite 18 Setembro 1996, o Porto levanta a Supertaça portuguesa em plena Luz com aquele 5-0. No banco, Oliveira guarda Drulovic e Jardel. Só os liberta na segunda parte. O sérvio até fixa o resultado (antes, Artur, Edmilson, Jorge Costa e Wetl), o brasileiro nem pica o ponto. Para quê, já fizera o serviço exactamente uma semana antes, no 3-2 ao Milan, no Giuseppe Meazza. Que semana, que Porto. Já este FCP não anda nem desanda. Ainda. O saco de plástico está de prevenção.

No Estádio João Cardoso, e sob a arbitragem do lisboeta Hugo Miguel, joga-se assim

TONDELA: Cláudio Ramos, Jaílson, Kaká (Pica, 70’), Rafael Amorim e Mamadu; Hélder Tavares, Fernando Ferreira e Claude Gonçalves (Bruno Monteiro, 86’); Wagner, Crislán (Moreno, 69’) e Jhon Murillo. Treinador: Petit (português)

FC PORTO: Casillas, Layún, Boly, Felipe e Alex Telles; Brahimi (Óliver, 56’), Ruben Neves, André André e Otávio (Corona, 77’); André Silva e Depoitre (Adrián, 69’). Treinador: Nuno Espírito Santo (português)