De acordo com a consulta da Lusa à evolução diária dos ‘yelds’ da dívida desde maio, os juros exigidos pelos investidores para transacionarem títulos de dívida moçambicana terminaram a semana passada nos 15,877%, tendo chegado a descer até aos 15,737 no dia 9 de setembro.

É preciso recuar a maio, altura da divulgação das primeiras notícias sobre os empréstimos escondidos, para a taxa de juro desta emissão de dívida estar na casa dos 15% ao ano.

A descida para a casa dos 15% revela uma significativa redução face ao máximo histórico de 19,178% de 27 de junho, tendo a descida sido mais notória a partir de 5 de agosto, data que marca o início da redução sustentada no valor que os investidores colocam para a perceção do risco de não receberem o dinheiro investido.

O prémio que os investidores exigem para negociar títulos de dívida é encarado como um indicador da confiança do mercado na capacidade que o emissor tem para pagar a sua dívida.

No caso de Moçambique, essa confiança tem sido sucessivamente posta em causa pelas agências de notação financeira e pelos parceiros internacionais, no seguimento da divulgação de dívidas escondidas no valor de quase 2 mil milhões de dólares, que fizeram disparar o rácio entre a dívida pública e o valor do Produto Interno Bruto para valores muito elevados.

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Moçambique, que deverá crescer 6% este ano e 6,8% no próximo, segundo o FMI, atravessa um período de múltiplas crises, marcadas pelo arrefecimento do crescimento económico, forte desvalorização do metical face ao dólar, descida do preço das matérias-primas e das exportações, subida acentuada da inflação e queda do investimento estrangeiro e da ajuda externa, em resultado do escândalo dos empréstimos ocultados pelo Estado e que fizeram disparar os valores da dívida pública.

O país atravessa ainda uma crise política e militar entre Governo e Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), que se agravou nos últimos meses e afeta a circulação de pessoas e bens na região centro.

Como consequência destes efeitos combinados, as intenções de investimento em Moçambique caíram 48% no primeiro semestre de 2016 comparativamente ao mesmo período do ano passado.

No ano passado, a Nigéria tinha o rácio mais baixo de dívida pública face ao PIB na África subsaariana, com 11,5%, e Moçambique a mais elevada, com 74,8%, um valor que deverá ter sido ultrapassado se for levado em conta os empréstimos que foram mantidos fora da contabilidade oficial até meados deste ano.

“As estatísticas económicas só contam uma parte da história, mas o nível de convicção e capacidade que um governo individual tem para tomar ações monetárias e orçamentais para garantir a sustentabilidade da dívida pode ser igualmente importante”, comentou um analista da Bloomberg Intelligence.

Nas últimas semanas, o Governo moçambicano tem feito uma série de esforços para convencer os parceiros internacionais da capacidade e vontade para ultrapassar a crise da dívida, nomeadamente a aceitação de uma auditoria internacional às contas públicas e a substituição do ministro das Finanças.