Foram divulgados novos pormenores sobre a investigação em redor das explosões do último fim de semana em Nova Iorque. Um bloco de notas escrito à mão, provavelmente redigido por Ahmad Khan Rahami (o autor provável do crime), foi encontrado junto à panela de pressão que rebentou perto de Chelsea no sábado à noite. Outro bilhete foi encontrado em Nova Jersey. A notas continham “divagações” e mensagens de ódio, como descreveu a polícia à CNN, que faziam referência a ataques terroristas anteriores, nomeadamente o que teve palco na maratona de Boston em 2013. Também foram encontradas referências a Anwar al-Awlaki, porta-voz da Al-Qaeda na Península Arábia, morto em 2011 e agora visto como um mártir. O bloco de notas tem um buraco criado por uma bala.

Também o New York Times noticia que o pai de Rahami se dirigu à polícia de Nova Jersey em 2014 dizendo que o filho era “um terrorista”, levando a uma investigação por parte de agentes federais de Newark. Isto aconteceu depois de o pai de Rahami ter sido acusado de esfaquear o irmão e de violência doméstica, crime pelo qual ficou detido três meses. Mas agora, quando questionado pela polícia, negou achar que o filho é terrorista. Admitiu que a acusação feita em 2014 foi fruto da “raiva”.

A mulher de Ahmad Khan Rahami está a ser procurada: paquistanesa de origem, saiu dos Estados Unidos pouco tempo antes dos acontecimentos do último fim de semana. Rahami, de 28 anos, é um afegão com nacionalidade norte-americana, dono de um restaurante aberto 24 horas por dia, o “First American Fried Chicken”. Foi para os Estados Unidos em 1995 quando o seu pai pediu asilo ao país. Em 2011 recebeu a nacionalidade norte-americana. Logo nesse ano apresentou uma queixa por assédio e discriminação contra muçulmanos por parte do departamento da polícia nova-iorquina.

Esteve fora dos Estados Unidos dias antes das explosões de Nova Iorque e era comum ausentar-se do país para visitar família no Afeganistão. O Paquistão também era um destino regular de Rahami. Todas as viagens entre estes países estão agora a ser analisadas pelos responsáveis pela investigação: o objetivo é perceber se Rahami costumava frequentar as zonas dominadas pelos talibã e pela Al-Qaeda. Uma das viagens desperta especial interesse para as autoridades: Rahami chegou a ficar um ano no Paquistão. De acordo com um dos polícias ligado à investigação, Ahmad Khan Rahami não tem sido cooperante com as autoridades.

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Embora a polícia o tenha adjetivado de “principal autor do crime”, não é certo se Rahami foi ou não o único indivíduo envolvido nestas explosões em território norte-americano. Não há indicações de que haja uma célula terrorista ativa em Nova Iorque, mas a polícia já admitiu que há indícios de que este homem não estava a agir sozinho. Um desses indícios está nas imagens de vídeo captados antes, durante e depois das explosões. Num dos vídeos, Rahami é visto com uma mala onde uma das bombas foi colocada, nunca chegando a explodir, no bairro de Chelsea. Mais tarde, dois homens aproximaram-se do local com um saco de lixo branco e aquilo que se julga ser uma panela de pressão no seu interior. No entanto, a polícia não está certa de que existe uma relação entre o homem detido e os outros dois.

Estes mesmos vídeos serviram para a polícia perceber que as explosões em Nova Iorque estavam relacionadas: o homem visto na West 23rd Street com um saco (40 minutos antes da primeira explosão) foi visto no local da segunda explosão, a West 27th Street, dez minutos mais tarde. Foi identificado no domingo através de impressões digitais e de um telemóvel encontrados no material transportado por Ahmad Khan Rahami, que vivia em Elizabeth, o mesmo sítio onde estava a mochila com explosivos no domingo à noite.

Também não há certezas sobre se Rahami é membro de uma organização terrorista. Os talibã afegãos já negaram envolvimento nestas explosões, mas Ahmad Khan Rahami pode ser aquilo a que as autoridades chamam de lobos solitários: indivíduos que, apesar de nunca se terem filiado, são inspirados (mas não formalmente instruídos) pelas mensagens dos grupos terroristas endereçadas para o Ocidente. Mas era discreto: ao contrário do que costuma acontecer com os suspeitos debaixo do olho das autoridades, Rahami não expressava simpatia com os ideais terroristas em público ou nas redes sociais e portanto não era visto como perigoso.

Rahami foi capturado na segunda-feira quando o proprietário de um bar em Linden o encontrou a dormir em frente à porta. O afegão naturalizado norte-americano enfrentou as autoridades, baleando um deles no colete antibala e outro no rosto, quando disparou contra um carro patrulha. Atingido várias vezes pelos agentes, Rahami foi apanhado e levado para o hospital, onde foi submetido a cirurgia. Agora é suspeito de cinco crimes de tentativa de homicídio de um polícia, um crime de segundo grau de posse ilegal de arma e de um crime de segundo grau de posse ilegal de arma para fins ilegais. Está sujeito a uma fiança de 5,2 milhões de dólares.