Oliver Stone, o polémico realizador de Snowden, filme que está a ter uma receção difícil nos Estados Unidos, acusa Obama de ser o grande responsável pelo maior investimento em “segurança e espionagem”, isto por ter investido “o dobro do dinheiro nestes programas” de vigilância. “Obama é pior que Bush“, diz mesmo o realizador, em entrevista ao El Español, acrescentando que perdoar Edward Snowden seria justo e “um ato de misericórdia”.

O filme Snowden, que estreou em Portugal esta quinta-feira, conta a história de como Edward Snowden, antigo analista da CIA e da NSA, divulgou uma série de detalhes sobre os programas de vigilância da NSA aos cidadãos de todo o mundo. Snowden teve de ser distribuído por uma produtora independente, porque todos os grandes estúdios de Hollywood recusaram financiar o filme. “Foi autocensura”, afirmou Stone, em julho.

Se nos Estados Unidos a receção ao filme não foi a melhor, o realizador espera que na Europa seja diferente. “[Os europeus] têm a mente mais aberta”, sublinha Oliver Stone, destacando que “na Alemanha as reações foram muito boas, porque as pessoas sabem o que foi a Stasi [os serviços de inteligência da Alemanha oriental]”, sustenta o realizador.

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Para Stone, os governos norte-americanos têm uma longa história de controlo do medo dos cidadãos. “Em 1984 já as televisões inventavam um inimigo novo todas as semanas. Ia mudando. Os meios de comunicação criaram os inimigos dos EUA. ‘A China ataca-nos’, ‘a Rússia quer acabar com o império’, ‘o Irão está a construir uma bomba nuclear’, ‘a Venezuela’… pobre Venezuela. Não acaba, é incrível ver como isto funciona”, recorda.

O realizador afirma ainda que “o terrorismo não é um problema, é uma ameaça menor”, e que “não há grandes ameaças, inventam-se”. Os Estados Unidos mentem “sobre tudo”, acrescenta, sublinhando que “dizem que os outros países tentam hackear os nossos sistemas, mas somos nós que o fazemos”. “Criamos o inimigo e promovemos este processo de polarização”, diz Stone ao jornal espanhol.

“A América necessita de entender que se encaminha para a autodestruição”, remata, deixando esperança de que a eleição de Hillary Clinton ou Donald Trump “conduza a algo positivo, porque às vezes é na adversidade que se aprende e se cresce”.