O ex-ministro brasileiro António Palocci foi detido esta segunda-feira acusado de ter intermediado créditos de um banco estatal brasileiro para a empreiteira Odebrecht investir em Angola em troca do pagamento de subornos.

Num encontro com jornalistas, o delegado da Polícia Federal, Filipe Hille Pace, afirmou que a empreiteira Odebrecht teria pedido o apoio de Antônio Palocci, ministro nos governos de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, para aumentar suas linhas de crédito junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) destinados aos projetos executados em Angola.

“São mais de 3 mil milhões de dólares (2,6 mil milhões de euros) investidos nas obras em Angola que foram financiados pelo BNDES. Temos uma mensagem eletrónica [de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa] alinhando planos para a liberação de 700 milhões de dólares (620 milhões de euros). Marcelo [Odebrecht] considerava se não seria caso de se buscar o apoio de Antônio Palocci para aumentar o crédito e gerar benefícios [pagar subornos] para seu grupo político [o PT]”, explicou o delegado.

Esta não é a primeira vez que investimentos de empresas brasileiras em Angola são alvo das investigações da operação Lava Jato, que há mais de dois anos investiga crimes de corrupção cometidos na petrolífera estatal Petrobras e em outras empresas públicas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Aos jornalistas o delegado mencionou que Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras, que foi condenado e agora colabora com as investigações, disse num depoimento à polícia que no ano de 2006 houve a interferência e o pagamento de subornos ao PT sobre valores investidos na compra de blocos de exploração de petróleo em Angola realizados pela Petrobras.

Sobre a extensão da suposta participação de António Palocci nos esquemas de corrupção e desvios de dinheiro público que estão vindo a tona no Brasil, a procuradora da República Laura Gonçalves Tessler afirmou que foi verificado o envolvimento reintegrado dele em atividades ilícitas.

“Houve atuação intensa de António Palocci na defesa de interesses da empresa [Odebrecht] perante a administração pública federal envolvendo contratos com a Petrobras e questões veiculadas e medidas legislativas. Antônio Palocci teria agido neste sentido pelo menos de 2006 até 2013”, disse.

Os investigadores brasileiros também citaram outras condutas ilícitas do ex-ministro, como a suposta interferência numa licitação da Petrobras para a aquisição de 21 navios de prospeção e o apoio que Palocci teria dado à aprovação no Congresso de uma medida provisória de desoneração de impostos a pedido da Odebrecht.

A procuradora Laura Gonçalves Tessler explicou que António Palocci teria sido mencionado pela construtora com o nome de código “italiano” em folhas que detalhavam pagamentos de subornos e que fotram apreendidas em fases anteriores da operação Lava Jato.

“Rastreamos diversos pagamentos da Odebrecht discriminados em uma folha de cálculos que somados chegam aos 128 milhões de reais (35 milhões de euros) já entregues e mais um saldo de 70 milhões de reais (19 milhões de euros) que ainda precisamos apurar se foram ou não entregues ao PT”, afirmou.

O advogado José Roberto Batochio, que defende o ex-ministro, disse hoje logo após a prisão que António Palocci não tem envolvimentos com os crimes de que está a ser acusado.

José Roberto Batochio também criticou a atuação da Justiça brasileira alegando que o país está a “voltar aos tempos do autoritarismo, da arbitrariedade. Não há necessidade de prender uma pessoa que tem domicílio certo, que foi duas vezes ministro, que pode dar todas as informações quando for intimado”.