Ao desenhar uma mala, Eliana Tomaz não pensa apenas como será o padrão, qual o tamanho da alça ou de que cor vai querer as costuras. Pensa antes de mais em que sítio vai guardar as chaves, como é que pode ter o cabo do telemóvel sempre à mão e até qual a melhor forma de prender o guarda-chuva. Por isso prefere dizer que desenha objetos, mais do que acessórios de moda. E por isso a marca que lançou em nome próprio — neste caso, com o apelido — pretende “distinguir-se por ser bonita mas também altamente funcional“.

“Gosto de produtos versáteis e que tenham organização”, diz a designer. “Uma mala é uma mala, eu não vou reinventar nada. Tento é que estejam lá os pormenores que a tornem uma peça essencial.”

As malas da Tomaz dão para prender as chaves, os óculos e o cabo do telemóvel, mas nem por isso se assemelham a cintos de ferramentas com toda a funcionalidade e nenhum sentido estético. O que as torna especiais é fazerem tudo o que fazem aparentando o mínimo esforço — isto é, por fora parecem malas e sacos normais, com cortes simples e boas matérias-primas, por dentro têm compartimentos semi-secretos ou presilhas em pele que permitem prender acessórios com uma pequena mola.

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O primeiro lançamento da Tomaz foi este saco. As duas abas laterais são separadas do interior, como uma espécie de bolso gigante, para ter coisas mais pequenas à mão. (Foto: Divulgação)

“Existe um termo em arquitetura que é o minimal cosy, de que eu gosto muito”, diz Eliana Tomaz. A referência não é atirada ao acaso. Designer de formação, a lisboeta de 40 anos trabalhou em arquitetura e engenharia, teve o seu próprio atelier de interiores, voou para Londres para tirar o curso de Design de Espaço na Central Saint Martins e, de regresso à capital, esteve três anos numa empresa de mobiliário, até os contratos precários a atirarem para o desemprego.

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“Não estava nos meus planos voltar para Londres, nem passar horas infindas ao computador. Os meus amigos diziam-me: ‘vai Eliana, lança-te’. E muito naturalmente a Tomaz nasceu.”

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Eliana Tomaz, 40 anos, é a designer por trás da marca. (Foto: Divulgação)

Estávamos em junho de 2015. Eliana transformou o quarto que usava como closet num “atelier barra escritório barra tudo” e começou a desenhar malas. “Não sei dizer porque é que foi uma mala. Se calhar foi porque eu consigo realizar a peça sozinha, não tenho de estar à espera [de terceiros]. No mundo dos interiores somos mais como uma espécie de maestros, e a escala é maior. Aqui consigo controlar tudo. A parte da costura é a única que eu não faço.”

A primeira bolsa a surgir foi a Unomono, um saco às riscas pretas e brancas em que as abas laterais são separadas do interior, e que teve entretanto direito a uma versão tote bag, uma clutch e um saco para o tapete de ioga. Seguiu-se a Francis, em burel. “Queria que fosse para homem e mulher, por isso dei-lhe esse nome”, explica Eliana. Deu-lhe também as tais presilhas em pele, para prender os acessórios, dois tons de cinzento e uma pasta em que a parte frontal permite entalar um jornal ou até um chapéu-de-chuva — o design funcional a falar mais alto.

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A pasta Francis é feita em burel, um tecido típico da Serra da Estrela. (Foto: Divulgação)

Ao cinzento do burel seguiu-se a coleção de clutchs e bolsas em azul-cobalto e pele de cabra. Eliana chamou-lhes Antónia, “porque se tivesse uma filha teria esse nome”. E a seguir percebeu que era altura de brindar.

O Cheers é o lançamento mais recente da Tomaz e é um saco de vinho que permite transportar uma garrafa e dois copos através de um engenhoso — e ao mesmo tempo simples — mecanismo de presilhas amovíveis e em pele natural. Aquilo que parece uma etiqueta com a gravação “handcrafted Portugal” (feito à mão em Portugal) é também um bolso para guardar o saca-rolhas. Uma peça de design que tem sido um sucesso e já está em várias garrafeiras, para além da loja online.

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O Cheers é o saco mais recente da Tomaz. Feito para levar vinho para o jardim ou para casa de amigos, é também a peça mais barata da marca: custa 38€. (Foto: Divulgação)

Como ostenta o saco do vinho, todas as peças são feitas à mão por Eliana, com a ajuda de uma costureira. Todas são também numeradas e gravadas com o nome Tomaz através de um processo desenvolvido pela própria designer e que é explicado em cada etiqueta. “Não gosto de queimar o cabedal por isso molho-o para ficar mais mole e carimbo-o com uma prensa”, explica a designer. Primeiro o cabedal fica mais escuro, depois vai clareando, o que acontece de resto durante o tempo de utilização da peça. “Prefiro trabalhar com cabedal natural porque ganha vida e cores diferentes”, conclui Eliana. “É isso que se pretende com a Tomaz — que acompanhe a história de quem a usa. Quando fiz a Francis, em burel, lembrei-me do sobretudo que vamos buscar ao armário ano após ano. Eu quero que a marca seja como esse sobretudo: que vá ficando e passe de geração em geração.”

Nome: Tomaz
Data: 2015
Pontos de venda: Loja online, Burel (Lisboa), ComCor (Lisboa), Arquivo (Leiria)
Preços: De 38€ a 125€

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