Diminuir a burocracia, promover a captação de investimento de risco, reduzir custos, fixar talento nacional e atrair criativos e startups estrangeiras. É esta a receita administrada pelo estudo “A Economia Digital: Estado da Nação em Portugal 2016”, elaborado pela Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC) em matéria de startups e empreendedorismo.

“Conseguir atrair talento e investimento para o ecossistema de startups português é talvez o maior desafio que se avizinha para os próximos anos. Urge fixar o talento nacional, atrair talentos e startups de outras nacionalidades”, lê-se no estudo.

É na comparação com economias como o do Reino Unido, França e Alemanha que os autores notam a incapacidade de captação de capital de risco em Portugal – os ditos business angels que permitam o crescimento das startups. Entrave no qual, segundo os autores, o Estado deve intervir para facilitar e incentivar.

O estudo – que é apresentado esta quarta e quinta-feira – adianta que é urgente reduzir a burocracia e aprovar o regime de Taxa Zero para a inovação, que permita a dispensa de pagamento de taxas a empresas criadas por jovens. Reduzir os descontos para a segurança social e criar um regime jurídico que agilize a contratação de estrangeiros são algumas das sugestões dos autores.

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Apoiar a ida das empresas a eventos internacionais é outra das recomendações inspiradas no modelo britânico, francês e alemão. Mas se muitos dizem que não podemos comparar a economia portuguesa à alemã, britânica e francesa, o estudo traça uma comparação relativa otimista: ainda que Portugal tenha um PIB 16 vezes inferior ao da Alemanha, “se tivermos em consideração o PIB como fator relativo, o número de scaleups [startups com um nível de maturidade e de receitas mais elevado] em Portugal é notável”, consideram os autores.

E, a par do investimento, fixar o talento nacional e atrair criativos e startups estrangeiras é o maior desafio para os próximos anos. O “momento de euforia no que toca ao empreendedorismo em Portugal”, quer nos média, quer em incentivos vindos do Estado, é uma oportunidade para potenciar a entrada de novos investidores e empreendedores nacionais e internacionais e fazer crescer a taxa de emprego criada pelas startups – segundo o estudo, entre 2007 e 2014, estas empresas representavam 18% do emprego criado.

Investimento médio ronda 4,2 milhões de dólares

O desenvolvimento de software e soluções de analítica encabeçam as principais áreas de aposta das startups nacionais. Um cenário com sucesso graças à “qualidade da formação universitária em Portugal e a quantidade de recursos qualificados existentes”, destacam os autores. É na busca de novas soluções que ganham também terreno no turismo, com novas opções de mobilidade.

Destaque também para duas áreas de negócios na mira dos investidores: telemedicina e biotecnologia, uma área que tem suscitado o interesse (e o investimento) de seguradoras. Também as startups que desenvolvem soluções de comércio online, seja através da web ou aplicações móveis têm recebido um “investimento significativo por parte dos empreendedores”.

Em termos de investimento, o estudo aponta para um valor médio de 4,2 milhões de dólares. Investimento que, aos poucos, começa a chegar do estrangeiro. É este o cenário que levou Rogério Carapuça, presidente da APDC, a afirmar que “nunca uma revolução tecnológica foi tão rápida, e portanto, como consequência, nunca como agora aqueles que ficarem à sua margem serão tão marginalizados.”

E será fácil de ficarem à margem se não se localizarem no litoral. Segundo o estudo, mais de 40% das startups estão em Lisboa, 22% no Porto e 9% em Braga. Sendo que as maiores se concentram em Lisboa e no Porto, também é lá se fixam o maior investimento.

Mas além dos investidores e do envolvimento da indústria, as incubadoras e as universidades têm desempenhado um “papel crítico” na criação de empresas. Um papel igualmente desempenhado pelos espaços de coworking, que têm permitido aos jovens entrar de “forma mais sólida” no mercado.