Depois de perderem a final do Euro 2016 em casa frente à seleção portuguesa, os franceses lançaram uma petição onde exigiam a repetição da final. O resultado fora uma “fraude”, clamavam os gauleses, enquanto procuravam explicações para o desaire inesperado: Portugal só foi lá uma vez; o Éder rematou sem olhar para a baliza; o Lloris estava lesionado; o bater de asas das traças fez o vento soprar com mais força. And so on, and so forth. A UEFA lá ignorou o orgulho ferido dos gauleses e o caneco acabou por viajar para Lisboa, onde mora, lustroso, no (ainda) modesto palmarés de Portugal.
E o que é que isto tem que ver com Nápoles-Benfica desta quarta-feira? A certeza de que se pudessem os benfiquistas exigiriam já, com petição e tudo, a repetição do jogo contra os italianos. Não que os napolitanos devam a vitória desta noite pura e exclusivamente ao bafejar da sorte. Looooooonnngeee disso. Hamsik — que jogo do eslovaco! — e companhia são justos vencedores. Mas é pouco provável que o Benfica volte a cometer, num futuro próximo, tantos erros defensivos num só jogo como aqueles que cometeu esta noite.
#NAPxSLB: O @SLBenfica nunca se qualificou na #UCL com 1 ponto em 2 jogos (91/92, 2006/07 e 2012/13). #playmaker #UCL
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Os encarnados nem começaram mal. Logo aos quatro minutos, Grimaldo (um dos mais ativos no Benfica) e Carrillo entendem-se bem na esquerda, deixam no meio para Mitroglou, o grego despacha para Semedo na direita, o português cruza e Pepe Reina é obrigado a intervenção delicada. Seis minutos depois, Carrillo e Grimaldo voltam a combinar, o espanhol deixa o adversário a comer pó, cruza para Mitroglou e o grego remata para defesa de Reina. O Benfica colocava o Nápoles em sentido. Sol de pouca dura. A partir daí, a história bonita que o Benfica se preparava para construir num palco onde nenhuma equipa portuguesa conseguira ganhar transforma-se num filme de terror.
20 minutos de jogo. Canto na direita para o Nápoles. Bate Ghoulam. Marek Hamsik faz o movimento de antecipação, Fejsa parece apreciar o impressionante penteado do eslovaco e o número 17 do Nápoles faz o golo ao primeiro poste. 1-0 para os italianos.
#NAPxSLB: 2.ª vez que o @SLBenfica sofreu 4 golos em Itália. A 1.ª tinha sido frente ao Inter, em 2003/04. #playmaker #UCL
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Depois de inaugurado o marcador, o Benfica não se voltaria a encontrar por largos minutos. O intervalo parecia uma bênção. Só que não.
50 minutos de jogo. Lisandro López pára Mertens à entrada da área encarnada. O belga ajeita a redondinha, olha para a baliza e atira com jeito. Júlio César parece ficar a contar as estrelas que decoram a bola da Champions e só depois arrisca uma reação. De nada valeu. 2-0 para o Nápoles.
Aqui entra em vigor a mais cruel das leis: a de Murphy. Tudo que podia correr mal, correu mesmo muito mal: o brasileiro Allan remata de fora da área, a bola bate em Lindelöf, vá se lá saber porquê termina nos pés de Callejón, o guarda-redes do Benfica repara que o espanhol tinha um cordão desapertado, tenta ajudar o avançado do Nápoles, o ex-jogador do Real Madrid não percebe a intenção do brasileiro e continua a marcha. Prrrriiiiii. Grande penalidade para os italianos. Precipitação de Júlio César, golo para Milik. 3-0 para a equipa do Maurizio Sarri. E o relógio só apontava para os 54 minutos.
Já chega? No, respondiam os italianos. Cruzamento de Callejón na direita, Júlio César distrai-se a cumprimentar um familiar na bancada, sai em falso, a bola bate em Milik e sobra para Mertens. Fácil. 4-0 para as tropas napolitanas e o jogo só ia nos 57 minutos. Em quase dez minutos, o Benfica deitava tudo a perder. E o 5-0 só não chegou porque Milik foi perdulário dentro da pequena área e enviou a bola para a bancada.
#NAPxSLB: Júlio César não sofria 4 ou + golos num jogo desde os 7×1 do Alemanha x Brasil no Mundial 2014. #playmaker #UCL
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O jogo entrou depois quase em ritmo de peladinha: o Nápoles pouco preocupado em ampliar a vantagem, o Benfica a tentar lamber as feridas e o relvado a testemunhar poucos momentos lúcidos de futebol. A equipa de Rui Vitória acabaria por reduzir por intermédio de Gonçalo Guedes (71′) e Salvio (86′), que saltaram do banco para dar uma ajuda. Mas o rumo dos acontecimentos já estava traçado: a equipa italiana levaria mesmo os três pontos.
Ficou a sensação de que se o Benfica não tivesse errado tanto, talvez pudesse discutir o jogo nos 90 minutos. Mas os “ses” não ganham jogos, mandam as regras de ouro do futebol. Não há mister que não o repita desde as escolinhas. As contas agora fazem-se assim: o Nápoles segue isolado na liderança do grupo B, com seis pontos; e o Benfica soma 1 ponto, depois do empate com o Besiktas na Luz — que esta quarta-feira recebeu o Dínamo de Kiev (1-1). Na próxima jornada, os tricampeões nacionais vão à Ucrânia, naquele que será um jogo decisivo para as contas dos encarnados.