Depois de perderem a final do Euro 2016 em casa frente à seleção portuguesa, os franceses lançaram uma petição onde exigiam a repetição da final. O resultado fora uma “fraude”, clamavam os gauleses, enquanto procuravam explicações para o desaire inesperado: Portugal só foi lá uma vez; o Éder rematou sem olhar para a baliza; o Lloris estava lesionado; o bater de asas das traças fez o vento soprar com mais força. And so on, and so forth. A UEFA lá ignorou o orgulho ferido dos gauleses e o caneco acabou por viajar para Lisboa, onde mora, lustroso, no (ainda) modesto palmarés de Portugal.

E o que é que isto tem que ver com Nápoles-Benfica desta quarta-feira? A certeza de que se pudessem os benfiquistas exigiriam já, com petição e tudo, a repetição do jogo contra os italianos. Não que os napolitanos devam a vitória desta noite pura e exclusivamente ao bafejar da sorte. Looooooonnngeee disso. Hamsik — que jogo do eslovaco! — e companhia são justos vencedores. Mas é pouco provável que o Benfica volte a cometer, num futuro próximo, tantos erros defensivos num só jogo como aqueles que cometeu esta noite.

Os encarnados nem começaram mal. Logo aos quatro minutos, Grimaldo (um dos mais ativos no Benfica) e Carrillo entendem-se bem na esquerda, deixam no meio para Mitroglou, o grego despacha para Semedo na direita, o português cruza e Pepe Reina é obrigado a intervenção delicada. Seis minutos depois, Carrillo e Grimaldo voltam a combinar, o espanhol deixa o adversário a comer pó, cruza para Mitroglou e o grego remata para defesa de Reina. O Benfica colocava o Nápoles em sentido. Sol de pouca dura. A partir daí, a história bonita que o Benfica se preparava para construir num palco onde nenhuma equipa portuguesa conseguira ganhar transforma-se num filme de terror.

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20 minutos de jogo. Canto na direita para o Nápoles. Bate Ghoulam. Marek Hamsik faz o movimento de antecipação, Fejsa parece apreciar o impressionante penteado do eslovaco e o número 17 do Nápoles faz o golo ao primeiro poste. 1-0 para os italianos.

Depois de inaugurado o marcador, o Benfica não se voltaria a encontrar por largos minutos. O intervalo parecia uma bênção. Só que não.

50 minutos de jogo. Lisandro López pára Mertens à entrada da área encarnada. O belga ajeita a redondinha, olha para a baliza e atira com jeito. Júlio César parece ficar a contar as estrelas que decoram a bola da Champions e só depois arrisca uma reação. De nada valeu. 2-0 para o Nápoles.

Aqui entra em vigor a mais cruel das leis: a de Murphy. Tudo que podia correr mal, correu mesmo muito mal: o brasileiro Allan remata de fora da área, a bola bate em Lindelöf, vá se lá saber porquê termina nos pés de Callejón, o guarda-redes do Benfica repara que o espanhol tinha um cordão desapertado, tenta ajudar o avançado do Nápoles, o ex-jogador do Real Madrid não percebe a intenção do brasileiro e continua a marcha. Prrrriiiiii. Grande penalidade para os italianos. Precipitação de Júlio César, golo para Milik. 3-0 para a equipa do Maurizio Sarri. E o relógio só apontava para os 54 minutos.

Já chega? No, respondiam os italianos. Cruzamento de Callejón na direita, Júlio César distrai-se a cumprimentar um familiar na bancada, sai em falso, a bola bate em Milik e sobra para Mertens. Fácil. 4-0 para as tropas napolitanas e o jogo só ia nos 57 minutos. Em quase dez minutos, o Benfica deitava tudo a perder. E o 5-0 só não chegou porque Milik foi perdulário dentro da pequena área e enviou a bola para a bancada.

O jogo entrou depois quase em ritmo de peladinha: o Nápoles pouco preocupado em ampliar a vantagem, o Benfica a tentar lamber as feridas e o relvado a testemunhar poucos momentos lúcidos de futebol. A equipa de Rui Vitória acabaria por reduzir por intermédio de Gonçalo Guedes (71′) e Salvio (86′), que saltaram do banco para dar uma ajuda. Mas o rumo dos acontecimentos já estava traçado: a equipa italiana levaria mesmo os três pontos.

Ficou a sensação de que se o Benfica não tivesse errado tanto, talvez pudesse discutir o jogo nos 90 minutos. Mas os “ses” não ganham jogos, mandam as regras de ouro do futebol. Não há mister que não o repita desde as escolinhas. As contas agora fazem-se assim: o Nápoles segue isolado na liderança do grupo B, com seis pontos; e o Benfica soma 1 ponto, depois do empate com o Besiktas na Luz — que esta quarta-feira recebeu o Dínamo de Kiev (1-1). Na próxima jornada, os tricampeões nacionais vão à Ucrânia, naquele que será um jogo decisivo para as contas dos encarnados.