Todos por António Guterres na corrida à ONU. O Conselho de Estado reuniu esta tarde para discutir a “a situação política, económica e financeira internacional e seus reflexos em Portugal num quadro de curto, médio e longo prazo”, mas, como é habitual, o comunicado pouco diz sobre o que se passou na reunião e centra-se num apoio inequívoco à candidatura do antigo primeiro-ministro português a secretário-geral das Nações Unidas.

Aguardava-se ainda que, após a reunião, o Presidente da República pudesse tomar posição quanto ao fim do sigilo bancário para contas acima dos 50 mil euros. Ao que apurou o Observador, já não deverá acontecer esta quinta-feira. No fim do encontro, o primeiro-ministro António Costa nem quis confirmar se ainda existiria esta noite a reunião semanal entre primeiro-ministro e Presidente da República e limitou-se a dizer: “O encontro [com Marcelo] é permanente“.

Quanto ao comunicado: Guterres, Guterres, Guterres. Numa indireta à entrada de uma nova candidata búlgara, Kristalina Georgieva, o Conselho de Estado lembra que o candidato português “cumpriu com empenho todas as etapas do processo, nomeadamente as audições e debates, credibilizando, assim, os novos procedimentos estabelecidos pelo Conselho de Segurança, valorizando o estatuto das Nações Unidas e o papel da Assembleia Geral“.

Os conselheiros registaram assim “com particular satisfação os resultados concludentes que a sua candidatura obteve neste primeiro ciclo de votações realizado nas Nações Unidos”. O documento frisa que a candidatura de Guterres é “exemplar” e enaltece “os méritos do candidato” que “tem a qualidade, a experiência, a visão estratégica, a capacidade de diálogo e o espírito de disponibilidade e abertura que tão importantes são para enfrentar com êxito os exigentes desafios que às Nações Unidas se colocam no presente e no futuro”.

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Os conselheiros estão convictos de que “a desejada eleição ” de Guterres será “a vitória de todos os membros das Nações Unidas, em prol de uma ordem internacional marcada por menos tensões, conflitos e dramas humanitários e mais fundada na paz e na segurança, na defesa dos direitos humanos, no reforço do ideal do desenvolvimento sustentável, em suma, na concórdia entre as nações e povos”.

Ao contrário da anterior reunião, o conselheiro e candidato a secretário-geral da ONU, António Guterres, marcou presença e, antes do início, esteve alguns minutos à conversa — com conselheiros como Ramalho Eanes, Francisco Louçã, Carlos César e Eduardo Lourenço — precisamente sobre a entrada da comissária europeia Kristalina Georgieva na corrida.

Após a reunião, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu em Belém o rei da Malásia, Abdul Halim de Quedá, com um jantar que é importante para a candidatura de António Guterres à ONU, uma vez que a Malásia é membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Guterres não ficou para jantar.

Esta é a terceira vez que Marcelo reúne o Conselho de Estado. Na primeira chamou o presidente do BCE, Mario Draghi, a segunda ocorreu na véspera da decisão sobre aplicação de sanções e esta terceira a pouco mais de duas semanas da entrega do Orçamento do Estado (OE) para 2017.

Embora o tema da reunião do Conselho de Estado fosse a situação económica, nada no comunicado referia qualquer questão relacionada com orçamento ou economia. Marcelo Rebelo de Sousa, sim, tem falado. Num momento em que se aproxima a discussão do OE, o Presidente defendeu, na terça-feira, que “este Orçamento, que ao contrário do de 2016 vai ser aplicado durante todo um ano, merece mais racionalidade do que emoção, mais bom senso do que radicalizações dispensáveis, mais realismo do que ilusões sem fundamento.”

O conselheiro de Estado Francisco Louçã também já falou de Orçamento do Estado e, há três semanas, na SIC Notícias, considerou “mau sinal” o facto de “a maior parte dos dossiês não está fechado ou está mesmo no princípio da discussão”. Para o fundador do Bloco de Esquerda o Governo deve centrar-se no “IRS, pensões e outros rendimentos”, elegendo as pensões como a área onde “tem de estar o esforço maior do governo, porque é onde está a pobreza”. Louçã considerou ainda uma “fantasia” e um “boato” a ideia de que o executivo socialista ia castigar os escalões mais ricos do IRS, mas defendeu que “é preciso rever o conjunto de escalões, o que exige uma outra preparação, porque pequenos jogos não têm nenhum sentido”.

No último domingo, o conselheiro de Estado Luís Marques Mendes também voltou a aproveitar o seu programa semanal da SIC para comentar o Orçamento para 2017, tendo, por exemplo, arrasado a ideia do executivo taxar o património elevado: “Comparo este imposto com a TSU de Passos Coelho em 2012. É uma espécie de TSU de António Costa“. Duro nas palavras, Marques Mendes disse mesmo que esta proposta foi “um enorme tiro no pé”.

O Conselho de Estado marcou a estreia de um novo conselheiro, o presidente do Tribunal Constitucional, Manuel Costa Andrade (que hoje tomou posse), e apenas foram registadas ausências de três dos seus membros: o ex-Presidente da República, Mário Soares, o provedor de justiça, José de Faria e Costa, e o presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro.