Apple, Amazon, Google, Tesla, Facebook e Uber são algumas das empresas norte-americanas que nas últimas décadas têm “passado a perna” às europeias. As startups nascidas no Velho Continente têm falhado o objetivo de crescerem e serem uma fonte de emprego à escala mundial, quando comparadas com as multinacionais dos Estados Unidos da América: é este o cenário descrito pela European Startup Network e a Allied for Startups que levou à criação do “Movimento Europa Scale Up” (Scale Up Europe Movement), cujo manifesto o Observador teve acesso.

O movimento foi fundado com a intensão de criar uma “nova iniciativa para a Europa”, onde os empreendedores possam construir empresas que saiam do ambiente local. “Para que possam criar empregos, desenvolver a ‘próxima grande cena’ e entregar a prosperidade que a nossa sociedade vai exigir nos próximos anos.” Enfim, querem “tornar a Europa não só no melhor lugar do mundo para começar uma empresa, mas também o melhor lugar para fazer uma crescer”, lê-se no documento.

Objetivos ambiciosos para os quais o manifesto apresenta uma lista de 49 propostas para os governos nacionais, para a União Europeia (UE), empreendedores e investidores.

Apoiado por comissários europeus, o manifesto defende que UE deve adotar uma estratégica empresarial única, nomeadamente em matéria de startups, para os 28 estados-membros. Para isso, tem que descomplicar a regulamentação existente e diversa entre os países da União – que fez com o sueco Spotify mudasse para os Estados Unidos para crescer e só depois voltar à terra natal.

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“O primeiro passo em qualquer programa para ajudar startups deve focar-se em facilitar o acesso aos mercados e remover barreiras de crescimento”, lê-se no artigo. E dá um exemplo de Silicon Valley, cujos negócios são competitivos pela grandeza do mercado norte-americano, mais aberto e livre que o europeu.

O manifesto critica o facto de a maioria dos governos e stakeholders europeus apoiarem o lançamento de startups, mas descorarem as fases de crescimento e de internacionalização, levando a que muitas se fiquem por pequenas empresas e não tenham capacidade competitiva por falta de estímulo.

É no campo dos apoios públicos que o manifesto dirige aquilo a que chama “mobilizar o capital”, o “objetivo de hoje”. Mas como atrair mais capital para as startups europeias? Completando o mercado de capitais da UE, melhorando os incentivos fiscais e utilizando melhor os recursos públicos, sugere o estudo. Como? Certificando-se de que os fundos estão a ir “para as pessoas certas”.

Investimento, sim, mas não apenas de fundos nacionais. Seguindo a lógica europeísta, o manifesto recupera a intenção de criar o “Fund of Funds” (Fundo dos Fundos), uma ideia lançada pela União Europeia para investir o capital de risco euro europeu e financiar ideias inovadoras. O manifesto sugere a implementação deste plano de investimento conjunto da Comissão com o Banco de Investimento Europeia e o Fundo Europeu de Investimento.

À semelhando daquilo que o estudo “A Economia Digital: Estado da Nação em Portugal 2015”, apresentado esta quarta-feira no congresso da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APDC), o manifesto aponta a necessidade de atrair e ativar talento.

Mesmo reconhecendo que as startups não são a “solução universal para o desemprego em alguns países da EU”, os autores criticam as leis do trabalho na Europa, por considerarem que estas “impedem, em alguns aspetos, a contratação e a ampliação de empresas com potencial de sucesso.” A solução? Captar o talento independentemente de onde ele se encontra. O que significa criar incentivos à contração e dar aos trabalhadores qualificados motivos para optarem por ficar ou vir para a Europa – não o contrário, como se tem verificado.

Inovação aquém da competição

A Europa gasta cerca de 272 mil milhões de euros em pesquisa a cada ano, diz o manifesto. Não o suficiente para competir frente-a-frente com os competidores asiáticos ou norte-americanos na maior parte das áreas. Então, o que falha? O documento aponta a dificuldade que as startups têm para entrar em concursos públicos e a relutância que muitos governos e sociedades europeias têm perante modelos de negócio mais complexos, como é o exemplo Airbnb ou da Uber.

É por isto que o manifesto propor a adoção de políticas de transparência (open data) em que os dados disponíveis permitem às empresas desenvolver serviços melhor direcionados para os clientes e inovar de forma mais eficaz. Abrir a possibilidade de comunidades maiores terem acesso aos financiamentos para inovação e não proibir novos modelos de negócios são algumas das propostas.

A formação superior mais próxima das empresas e em contacto com o mercado de trabalho é também uma das apostas para tornar mais eficazes os conhecimentos dos jovens empreendedores e reduzir o desemprego jovem. Uma educação com menos barreiras para o exterior, que não resuma à teoria e à sala de aula.