Nem Orçamento, nem política nacional. Os conselheiros de Estado só terão tocado ao de leve na economia nacional, mas quanto à forma como esta poderia ser afetada por fatores externos, como a crise em Angola ou o Brexit. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa deu palco ao candidato a secretário-geral da ONU, António Guterres, que ouviu os membros do Conselho de Estado criticarem as jogadas de bastidores que estão por detrás da candidatura da búlgara Kristalina Georgieva.

Ao contrário do habitual, a primeira intervenção a seguir a quem preside aos trabalhos não foi do primeiro-ministro, António Costa, mas de António Guterres, que, de acordo com fonte ouvida pelo Observador, “fez um bom discurso sobre política internacional”. A mesma fonte acrescenta: “Não houve história em termos de política nacional: no fundo, a reunião foi um show de Guterres“. O candidato ao topo das Nações Unidas falou sobre a crise da Síria e a situação na Europa, a braços com a saída do Reino Unido e com mais dois referendos perigosos para a unidade europeia: em Itália e na Hungria.

Já o ex-Presidente da República, Cavaco Silva, terá feito uma análise muito parecida com a que tinha feito há três meses, elencando o que considera “bom” e “mau” no contexto económico mundial para a realidade portuguesa. No fundo, uma análise à boa e à má moeda da conjuntura internacional, numa intervenção curta e alegadamente sem referências à situação nacional. Cavaco quis evitar problemas como os que aconteceram na última reunião, em que o Presidente se viu forçado a levantar o segredo de Estado para corrigir notícias sobre suas eventuais declarações.

O primeiro-ministro António Costa também optou por falar da situação internacional, lamentando que a cimeira de Bratislava tenha sido um fracasso que nem a situação do Brexit — motivo principal para a qual tinha sido convocada — conseguiu resolver.

Francisco Louçã, economista e fundador do Bloco de Esquerda, terá mencionado a situação do Deutsche Bank, acreditando que mesmo que as coisas corram mal não terá um enorme impacto para Portugal, porque o Governo alemão acabará por intervir. Entre os conselheiros que fizeram reflexões sobre política internacional terão estado o ex-Presidente da República, Jorge Sampaio, e o ex-primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão. Aliás, todos falaram.

Dada a proximidade do Orçamento do Estado para 2017 havia a expectativa que alguém pudesse falar no assunto, mais que não fosse no âmbito da convocatória da reunião: “A situação política, económica e financeira internacional e seus reflexos em Portugal num quadro de curto, médio e longo prazo”. Havia margem para falar em política nacional, os conselheiros terão optado por não o fazer. O comunicado foi de sentido único: elogiar a candidatura de Guterres. Sem alusões ao tema principal da agenda.

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