Um fator positivo: a estabilidade governativa e a indicação, dada pelas sondagens, de que o Partido Socialista, no poder, não está a perder apoio parlamentar e eleitoral. Um fator negativo: a subida recente das taxas de juro, apesar das compras por parte do BCE. E outro, também negativo, um crescimento económico que foi “metade do que se previa“.

É este o retrato, o mais sumário possível, que a agência DBRS faz de Portugal. Antes de a agência se fechar em copas para deliberar sobre o rating da dívida pública portuguesa, uma decisão que será anunciada a 21 de outubro, Fergus McCormick, responsável pelos ratings soberanos, deu uma entrevista à Bloomberg em que partilha algumas considerações sobre a situação do país.

“No geral, as coisas estão a parecer bastante boas do ponto de vista político”, afirmou Fergus McCormick, numa alusão aos receios que chegaram a existir sobre a estabilidade do governo no poder e o risco de eleições antecipadas pouco tempo depois da tomada de posse. Esse cenário não está a parecer provável e a DBRS tomou nota das sondagens que têm saído nas últimas semanas e que não fazem crer que uma crise política esteja no horizonte.

Por outro lado, “infelizmente”, diz Fergus McCormick, “as taxas de juro têm vindo a subir, portanto o custo que o país paga para se financiar tem aumentado”, afirma o especialista. Num Estado muito endividado e que precisa de ir substituindo emissões antigas (mais onerosas) por nova dívida com custos mais baixos, seria importante pagar menos juros pela dívida. Neste momento, os juros no prazo de referência de 10 anos rondam os 3,4%, em linha com o custo global médio do stock de dívida pública. Para haver uma redução gradual desse custo médio, seria, portanto, importante que as emissões estivessem a ser feitas a um custo mais baixo — Espanha está a financiar-se a menos de 0,9% a 10 anos.

O terceiro fator mencionado por McCormick é o crescimento económico, que está a ser “metade do que estava previsto”. Portanto, “temos um fator positivo e dois negativos”.

O que não é um fator relevante para a DBRS — relevante no sentido de afetar de forma significativa a decisão de 21 de outubro — é a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Para a agência de rating canadiana, esse foi um acontecimento “não recorrente” que não irá ter influência na decisão. De qualquer forma, o economista diz que “é uma boa ideia tentar resolver os problemas no setor bancário, mas a verdade é que eles [Portugal] têm um fardo de dívida muito grande e estão muito expostos a choques. Isso é algo que nos preocupa“.

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