“Hoje a esperança de vida é muito mais alta do que era há 30 anos e os hospitais e os médicos têm que estar preparados para essa realidade que é diferente”, disse o geriatra, que falava à agência Lusa a propósito do 12º Congresso Internacional da Sociedade de Medicina Geriátrica da União Europeia, que decorre entre quarta e sexta-feira no Centro de Congressos de Lisboa.

Para o coordenador da Unidade Universitária de Geriatria da Faculdade de Medicina de Lisboa e coordenador do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, o “grande desafio” é conseguir “otimizar a assistência aos idosos”. Para isso, os idosos têm de ter “assistência própria”, uma assistência que “justifica a existência da geriatria”.

“Assim como as crianças têm que ter uma abordagem própria, porque as suas doenças são de determinado tipo e prevalência, e a maneira como devem ser tratadas tem de ser condicionada pela imaturidade do seu sistema biológico”, os idosos também precisam, porque estão numa “fase tardia da evolução biológica”, que também condiciona a prevalência e a manifestação das doenças e a opção e abordagem terapêutica.

Gorjão Clara sublinhou que é “um desafio enorme que se levanta a todos”, porque obriga “a refazer” as prioridades da medicina tradicional que tem sido as pessoas de meia-idade. Os idosos são hoje os “maiores consumidores de medicamentos” e os que estão internados nos hospitais em maior número, disse, advertindo que esta população está a crescer e a sociedade tem de preparar-se para isso.

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Além da necessidade de se otimizar a assistência aos idosos, é preciso criar “condições sociais” que melhorem a sua qualidade de vida e que passam por adaptar as cidades e os hospitais a esta realidade.

Citou como exemplos as cidades terem que ter “pisos regulares para que o idoso não tropece e não caia”, bancos onde possam descansar, casas de banho próximas, sombras nas paragens dos transportes e escadas rolantes no metro até à superfície.

Por outro lado, exemplificou, os hospitais que se constroem não podem ter as características de hospitais como o de Santa Maria, que foi construído há mais 50 anos e em que a média de idade das pessoas internadas na altura era de 45, 50 anos e hoje é de 80 anos

Sobre a realização do congresso, ao qual preside, Gorjão Clara disse que “é uma honra” realizar-se em Portugal, porque é um país onde a “geriatria ainda não está muito desenvolvida”, onde não há unidades de internamento nos grandes hospitais e a “especialidade não existe”.

“A Ordem dos Médicos reconheceu no ano passado a competência em geriatria, mas ainda não há especialidade”, sublinhou. Segundo o especialista, o congresso irá trazer a Portugal — o quarto país mais envelhecido da Europa — mais de 1.000 participantes de 53 países. Sobre a escolha do tema do congresso, “Descobrindo novos caminhos no mundo da geriatria”, Gorjão Clara disse que está relacionado com os descobrimentos portugueses.

“O congresso pretende procurar novos caminhos, novas informações, novos processos e dar melhor assistência e acompanhamento aos idosos”, explicou.