“Um Editor de Génios”

Uma oportunidade perdida para fazer um bom filme sobre escritores e livros. Colin Firth interpreta Maxwell “Max” Perkins, o editor americano da Scribner’s que deu a conhecer e tutelou escritores como Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Erskine Caldwell ou Thomas Wolfe. É precisamente da relação profissional e de amizade com este, o prolixo e grandiloquente autor de Look Homeward, Angel, cuja escrita em torrente contínua Perkins domou e moldou, bem como do papel “invisível” do editor literário, que trata esta fita de Michael Grandage, baseada no livro de A. Scott Berg. Só que o argumento de John Logan, co-autor dos dois últimos 007, é um desfile de lugares-comuns “dramáticos” sobre a genialidade “problemática” dos grandes escritores e os picos e abismos da celebridade literária, e o elenco, com atores ingleses e australianos a interpretar americanos, é todo ele um enorme erro. O muito “british” Colin Firth não quadra mesmo nada com a figura do novaiorquino Perkins, Jude Law uiva e cabotina insuportavelmente a fazer de Wolfe, Guy Pearce é um pouco convincente Scott Fitzgerald e Dominic West faz uma pálida imitação de Hemingway, enquanto que Laura Linney e Nicole Kidman são desperdiçadas, respetivamente na mulher de Perkins e na amante e benfeitora de Wolfe. Mais vale ir ler os livros.

“A Filha”

É da Austrália que vem a boa surpresa desta semana, graças ao ator e realizador Simon Stone, que assina aqui a primeira longa-metragem, uma versão de sua autoria de “O Pato Selvagem”, de Ibsen, que havia já apresentado em palco. O tema dos conflitos familiares surge regularmente no cinema australiano e o enredo da peça é bem adaptado ao ambiente de uma cidadezinha em crise devido à falência da grande empresa madeireira propriedade de uma das personagens principais, interpretada por Geoffrey Rush. Simon Stone encontra o tom preciso para contar esta história de um esqueleto no armário cuja revelação vai atingir duas famílias muito próximas, contornando quaisquer tentações melodramáticas e filmando com um estilo contido e sugestivo, usando a natureza para fazer pontuação emocional, muito próximo do do seu colega Ray Lawrence, inglês estabelecido na Austrália e autor de duas fitas singulares, “Lantana” e “Jindanaya”. O sério e consistente elenco, que além de Rush inclui Sam Neill, Miranda Otto, Paul Schneider e a jovem Odessa Young na protagonista do título, faz — e muito bem — o resto para levar o filme a bom porto.

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https://youtu.be/fMxLs9-ReEY

“A Rapariga no Comboio”

Era apenas uma questão de tempo até que o colossal “best-seller” de 2015 da autoria da inglesa Paula Hawkins fosse passado ao cinema, o que sucedeu nos EUA e não na Grã-Bretanha, fazendo com que a história fosse transferida de Londres e dos seus subúrbios, para Nova Iorque e os seus arredores afluentes. No entanto, o papel principal, de Rachel Watson, a mulher que caiu no alcoolismo, ficou desempregada e vive com uma amiga, após se ter divorciado do marido que casou com a amante, e passa o dia a andar de comboio e a fantasiar sobre a vida das pessoas que moram nas casas por onde passa, ficou para uma actriz inglesa, a excelente Emily Blunt. Do elenco constam também Justin Theroux, Haley Bennett, Rebecca Ferguson, Lisa Kudrow, Édgar Ramirez e Luke Evans. A realização é de Tate Taylor, o autor de “As Serviçais” e de “Get On Up”, sobre a vida de James Brown. “A Rapariga no Comboio” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e podem ler a crítica aqui.