Na televisão do café vê-se um jogo do Benfica, quando entra um jovem com a t-shirt do Che Guevara. Em conversa com um amigo de direita (a quem chama de “camarada”), o jovem esquerdista conta como o Governo está a tornar Portugal num país menos desigual. No fim, o amigo (de direita) sugere acabar com os mais pobres, em vez de acabar com os ricos. O jovem revolucionário não contém as gargalhadas enquanto diz: “Neoliberal, pá. Lá estás tu“.

Depois de ter colocado Lenine junto a líderes da “geringonça” e de ter feito uma montagem com Mário Nogueira vestido de Estaline, a JSD tenta entrar no debate político em vésperas do Orçamento do Estado com um sketch de humor. A pergunta de saída é a de sempre: “Foi nisto que votou?

A campanha tem como “principal objetivo o confronto da propaganda do Governo com a realidade” e denunciar que “António Costa está a deixar o país pior.” Ao Observador, o líder da JSD, Simão Ribeiro, justifica este “registo” com o facto de os jovens portugueses estarem “saturados da forma rígida de comunicar na política“, tendo optado assim pela “forma descontraída”, que encaixa na irreverência da juventude partidária.

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No vídeo, a JSD critica os “impostos” sobre os combustíveis, o IMI do “sol” (que no vídeo é apresentado como um novo imposto, apesar de não o ser) e ainda o novo imposto sobre o património imobiliário. Diz o jovem de esquerda no vídeo: “Novo imposto sobre o património. Porque tu não podes ter coisas e eu não, camarada. Temos de ficar os dois sem nada”.

Para Simão Ribeiro as escolhas “pré-anunciadas e em que o Orçamento do Estado poderá vir a incidir” são “impostos cegos”, já que nem sequer são aplicados de forma “progressiva“, pesando da mesma forma na “classe média baixa ou na classe média mais alta”. O presidente da JSD ironiza mesmo que “só falta mesmo o Governo taxar o ar e criar um imposto sobre o ar mais puro e o ar menos puro”. Simão Ribeiro acusa o PS de entrar numa “deriva syrizista” e de estar vendido a “uma ideologia marxista e trotskista”.

Processo judicial era “bluff”?

A campanha da JSD “Foi nisto que votou?” começou há cerca um ano e tem sido marcada pela polémica. Em maio, a Fenprof decidiu mesmo avançar com um processo contra a juventude partidária, após um cartaz em que o líder sindical, Mário Nogueira, era comparado ao ditador soviético Josef Estaline.
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“Isto Stalin(do), está!”, era a frase que acompanhava um cartaz que denunciava aquilo que a JSD chamou de “nacionalização cega do ensino”. Quem não gostou foi Mário Nogueira, que considerou o cartaz, em declarações ao Expresso, como um “insulto pessoal”, vindo de “garotos que não têm capacidade para fundamentar as suas posições”. Já a Fenprof, como instituição, avançou com um “processo jurídico contra a JSD por ofensa, que reputa de grave, ao bom nome a Federação”.
A Fenprof considerou ainda que comparar Mário Nogueira a Estaline ultrapassava a “decência da ação política”, já que tem por objetivo a “destruição da imagem de credibilidade do movimento sindical docente plasmado na intervenção da Fenprof.”

Ao Observador, Simão Ribeiro explica que “não chegou à JSD qualquer notificação”, pelo que coloca a possibilidade de ter-se tratado de “bluff”. E promete que a estrutura partidária não vai deixar este tipo de registo. “A JSD sempre foi uma juventude irreverente. Esta é a mesma JSD que colocou um camelo na margem sul, quando o ministro Mário Lino disse que a margem sul era um deserto“.

Esta mesma campanha tinha sido polémica quando a “jota” utilizou uma ilustração da fotografia tirada pelos soviéticos durante a tomada de Berlim aos nazis em 1945. Na altura, a 11 de novembro de 2015, a jota denunciava “uma coligação negativa de partidos perdedores juntou-se para derrubar a coligação vencedora das últimas eleições legislativas.”

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