“Cézanne e Eu”

Havia em Lisboa um cinema, o Star, situado na Rua Guerra Junqueiro, que exibia em grande quantidade aquele cinema francês dito “industrial de qualidade”, que servia como uma luva nos gostos cinéfilos de uma boa fatia dos moradores daquela zona da cidade. Se o Star ainda existisse, este “Cézanne e Eu”, escrito e realizado por Danièle Thompson, filha de Gérard Oury, o rei da comédia popular francesa, e argumentista de filmes tão marcantes como “A Grande Paródia”, “As Aventuras do Rabi Jacob”, “Cousin Cousine”, “A Primeira Festa” ou “A Rainha Margot”, caía lá como sopa no mel. É um filme sobre a amizade que uniu desde os bancos da escola o pintor Paul Cézanne e o escritor Emile Zola, oriundos de meios sociais opostos e com destinos artísticas totalmente diferentes. Um filme certinho, arrumado, bem interpretado (Guillaume Canet é Cézanne e Guillaume Gallienne é Zola), cuidadosamente informativo e rodado nos locais onde os dois viveram, conviveram e trabalharam. Por aí se fica “Cézanne e Eu”, e será suficiente para muitos.

“Fogo no Mar”

Vencedor do Festival de Veneza em 2013 com “Sacro GRA”, e do Festival de Berlim deste ano com “Fogo no Mar”, o italiano Gianfranco Rosi tornou-se no documentarista mais premiado de sempre em grandes festivais de cinema. Em “Fogo no Mar”, Rosi assentou praça na ilha de Lampedusa, que recebe em cheio, e sem parar, as vagas de refugiados do Médio Oriente e sobretudo de migrantes económicos africanos, filmando, no seu estilo de observador não-interventivo e imperturbável, por um lado, a chegada dos barcos de fugitivos e o acolhimento e o apoio que lhes é dado por militares, médicos e outros membros das equipas de apoio italianas; e pelo outro, as andanças de Samuele, um rapazinho local, filho de pescadores, que não tem contacto, tal como os que o rodeiam, com os refugiados os e migrantes, e parece ser-lhes indiferente. “Fogo no Mar”, tal como outros filmes que têm sido feitos sobre este tema, não se preocupa minimamente com os graves efeitos causados na população de Lampedusa e no seu modo de vida pela aglomeração, em condições precárias, de milhares e milhares de pessoas cuja aculturação e integração socio-económica está entre o problemático e o impossível. Rosi prefere guardar a sua preocupação para os que chegam, e não para os cá estão e têm que arcar com eles.

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“O Cinema, Manoel de Oliveira, e e Eu”

João Botelho assina aqui uma homenagem e um panegírico emocionado a Manoel Oliveira e ao seu cinema. A fita abre com uma foto com quase 40 anos, em que um jovem Botelho aparece ao lado de Oliveira, que tinha tido uma pequena participação na sua primeira longa-metragem, “Conversa Acabada” (1980) — formalmente, bastante devedora do cinema deste –, interpretando o padre que dá a extrema-unção a Fernando Pessoa (Luiz Pacheco, na sua única participação num filme). Após uma rápida e sintética apreciação da obra de Oliveira, em que refere várias das coisas que aprendeu com ele, e frisa a absoluta singularidade do seu idioma cinematográfico, tudo ilustrado com imagens de várias das suas fitas, Botelho preenche a segunda parte do filme com a adaptação de uma história que o realizador planeou filmar mas nunca conseguiu, “A Rapariga das Luvas”. Trata-se de um rasgado melodrama de prostituição com fumos sociais, ambientado no Porto das décadas de 20/30, que se teria chamado “Prostituição”, se Oliveira o tivesse chegado a fazer, e o resultado parece um alambicado filme em segunda mão do autor de “Francisca”.

“Inferno”

Depois de “O Código Da Vinci” e “Anjos e Demónios”, este é o terceiro filme baseado nos “best-sellers” de Dan Brown sobre as aventuras do professor Robert Langdon, perito em simbologia e na decifração de enigmas, mais uma vez realizado por Ron Howard e de novo com Tom Hanks no papel principal. Desta vez, um multimilionário obcecado com um possível desastre planetário devido ao excesso de população, concebeu uma bomba que, quando detonada, espalhará um vírus mortal que aniquilará uma boa parte dos habitantes do planeta. O que vai permitir que os sobreviventes construam a seguir um mundo melhor. E como o multimilionário é um apreciador de Dante, além de um pedante, em vez de simplesmente fazer explodir o engenho sem mais delongas, escondeu-o num monumento de grande importância histórica, cultural e artística algures no mundo, e deixou uma série de pistas relacionadas com o poeta italiano e a sua “Divina Comédia” para quem for capaz de chegar até ele. É o que tentam fazer Langdon e a sua companhia feminina, e a bela Sienna (Felicity Jones), uma médica inglesa super-sabichona. “Inferno” foi escolhido como filme da semana pelo Observador, e pode ler a crítica aqui.