Investigadores da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (FCNAUP) acreditam que o isolamento dos idosos leva ao sedentarismo e à baixa mobilidade, fatores que podem provocar desnutrição, desidratação, excesso de peso e obesidade.

Neste que é o Dia Mundial da Alimentação, o investigador da FCNAUP Nuno Borges disse à Lusa que, embora sejam necessários mais estudos para comprovar os efeitos do isolamento nesta população, os dados indicam que há risco de insuficiência e deficiência de vitamina D, o que acontece em cerca de nove em cada dez idosos.

Nuno Borges é um dos responsáveis pelo Nutrition UP 65, um projeto desenvolvido na FCNAUP e coordenado pela professora Teresa Amaral, que visa determinar o estado nutricional dos portugueses com mais de 65 anos, numa amostra representativa de 1.500 pessoas idosas, de acordo com o intervalo de idades, o género, o nível de ensino e a área regional do país.

Segundo os dados recolhidos no estudo, cerca de 44% dos idosos apresentam excesso de peso e 39% têm obesidade, situações que derivam de problemas no balanço energético, espoletados por um hábito de “comer mal e a mais e praticar atividade física a menos”.

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Esta condição está relacionada com a sarcopenia (perda de massa, força e função musculares em consequência do envelhecimento), “que compromete todas as atividades do dia-a-dia dos idosos”, como andar, subir e descer escadas, ir às compras e cozinhar, indicou o investigador.

Os dados relativos à desnutrição, outro dos fatores estudados no Nutrition UP 65, indicam que 15% dos idosos estão em situação de risco, o que, para Nuno Borges, “é espantoso visto que quase 90% de idosos têm excesso de peso ou obesidade”. Para além da questão do isolamento, a desnutrição pode ser causada pelo acesso limitado aos alimentos, à incapacidade de preparar as refeições, por problemas económicos e por uma locomoção reduzida.

As doenças crónicas também influenciam esse fator, sendo que “quanto mais velha for a pessoa, mais patologias pode ir acumulando, o que aumenta a probabilidade de terem problemas a nível alimentar, agravando o risco de desnutrição”, acrescentou o investigador.

Quanto à hidratação, mais de um terço dos idosos estão desidratados. “Há a ideia que o mecanismo que nos defende da desidratação – a sede – perde progressivamente eficácia com a idade e, por outro lado, não se verifica muito, nesta faixa etária e em Portugal, o hábito de se beber água”, o que pode levar à obstipação e problemas renais, explicou o docente.

O consumo excessivo de sal, que se verifica em mais de 85% dos idosos, pode estar ligado à hipertensão arterial e aos acidentes vasculares celebrais (AVC).

Para Nuno Borges, “todos estes indicadores agravam-se com o isolamento”, o que, “a confirmar-se com mais estudos”, configura uma ideia dos idosos em Portugal, “que estão nas suas casas ou apenas em centros de dia, com níveis excessivamente baixos de atividade física e altos de uma alimentação desadequada”.

“Há um grande trabalho que deve ser feito ao nível das medidas governamentais, além das alimentares, no sentido de proporcionar aos nossos idosos condições e estímulos para que se mexam mais, venham mais para à rua e se exponham mais à luz”, tornando-se em “elementos ativos na sociedade”, concluiu.

O Nutrition UP 65 conta com a participação da FCNAUP, do Departamento para a Pesquisa do Cancro e Medicina Molecular da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE, e foi financiado pelo EEA Grants – Programa Iniciativas de Saúde Pública – em 519 mil euros.