Saudável, biológico ou orgânico são adjetivos que se encontram com frequência na descrição de novos restaurantes, seja em Lisboa, no Porto ou em Kuala Lumpur. Não há problema nenhum nisso: a consciencialização alimentar é uma tendência crescente — entre chefs, empresários e clientes de restaurantes, são cada vez mais os interessados na origem e nas consequências daquilo que comem. O problema vem depois: é muito raro encontrar quem consiga unir essa consciencialização a pratos bem conseguidos, onde o sabor não fique aquém do que seria se houvesse menos dedos de testa e mais uma mão de sal ou açúcar.

O novo Gioia Food Lab quer tornar esse fenómeno menos raro. É um “projeto gastronómico”, como o define Tiago Magalhães, o seu responsável, que vai de encontro aos “novos hábitos alimentares e que tenta integrar saúde, bem-estar e animação, com opções para todo o tipo de pessoas”. Resumindo, a missão é juntar o comer bem ao bem comer.

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Do bar, logo à entrada, saem cocktails que também não incluem açúcar nem elementos processados. A responsabilidade criativa é da Ás de Copos. (foto: © Divulgação)

Há uma cozinha de autor, criativa, de Daniel Estriga (chef do Conceito Food Store), que usa, por exemplo, água purificada e ionizada com pH regulado — que também é servida aos clientes –, gorduras vegetais e farinhas alternativas ao trigo, como a de espelta, além de recusar a doçura refinada: o açúcar é substituído pelo mel ou pela rapadura. A designação “food lab” tem a ver precisamente com essa procura incessante de novos produtos e técnicas que façam sentido trazer até à cozinha, por conjugarem sabor e valor nutricional. Já gioia, palavra que significa alegria em italiano, remete não só para a dita emoção mas também para a morada do restaurante: Praça da Alegria.

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A ideia de ter uma cozinha sustentada nestes princípios partiu de Tiago, que há muito se interessa pelo efeito de tudo o que come e bebe. “Não sou um expert nessa área, mas li muitos livros e fiz alguns cursos como curioso”, conta. A carta nasceu de uma reflexão conjunta com Daniel, que conhecia há vários anos por ser cliente do Conceito Food Store. Dessa reflexão resultou uma oferta variada que não está seccionada em entradas e pratos principais, como é habitual, mas antes em “laminados e crus”, “arrozes”, “tudo ao molho e fé nas massas”, “pizzas” e “gioias do laboratório”.

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O chef Daniel Estriga, de 29 anos, é o responsável pela cozinha do Gioia.
(foto: © Divulgação)

Uma refeição no Gioia começa sempre por um couvert integralmente caseiro, da manteiga vegetal à focaccia de espelta e ao cracker de tinta de choco. Depois, pode prosseguir pelo Tártaro de Novilho (14€), que inclui um pickle de pak-choi e sementes de mostarda bringidas. A técnica também é posta ao serviço do mote do restaurante: “Preferimos bringir [a vulgar entaladela] a cozer”, explica Daniel. Ainda no capítulo dos crus, destaque para o Peixe sem Espinhas (10€), que mais não é que um ceviche de lírio. Desde que o mar o permita, isto é. “A nossa ideia é que seja sempre de lírio, mas não temos o nome do peixe na carta para podermos trabalhar com o que o mercado oferece”, justifica o chef.

A secção de pizzas fundamenta-se numa seleção cuidada de ingredientes, dispostos sobre uma massa fina confecionada com farinha de espelta e kamut tratada pelo forno a lenha, visível a quem atravessa o corredor central do restaurante (escreva-se, já agora, que este tem uma configuração interessante, com mesas em três níveis de altura). As cinco pizzas à disposição não qualificam o Gioia como uma pizzaria mas oferecem um leque de escolhas interessante, da simples Margarida (14,5€), com tomate, mozzarella fresca e pesto à ousada Caixa Surpresa (20€), com cogumelos frescos, tomate, gema de ovo, espinafres e creme de trufa branca.

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Uma das pizzas do menu: Pata Negra 24 Meses (19,5€). Inclui o dito presunto, tomate, mozzarella fresca, espargos e rúcula. (foto: © Divulgação)

Nas massas, não falta uma Courgette que quer ser Esparguete (16€), tão em voga desde o surgimento dos spiralizers, que é servida com presunto pata negra, ricota e feijão-verde. Verde também é um dos arrozes — neste caso risotto — da carta, de acelgas, ervilhas e clorofila. Nem de propósito chamam-lhe Verde, Verde, Verde!!! (15€). Para carne ou peixe em doses mais substanciais é favor consultar as “gioias do laboratório”, onde pontificam o Bacalhau a 67º (23€), de meia-cura, servido com batata-doce e pak choi ou uma Carne Maturada 60 Dias (42€ – duas pessoas), um chuletón com dois meses de maturação acompanhado de batata-doce crocante e salada de verduras. As sobremesas evitam, também elas, os açúcares refinados e a farinha de trigo, sem que isso impeça Daniel de apresentar, por exemplo, um Tiramisu em 5 texturas (10€).

Os mesmos princípios são válidos para o bar: na carta desenvolvida pela Ás de Copos não entram caldas de açúcar refinado e a água e gelo utilizados são, também eles, filtrados. Dentro dos cocktails de autor alguns contam uma história relativa ao nome, casos do Alfredo Keil (14,50€) com rum Kraken, Porto Ruby, limão, mel e espuma de mojito, ou do Feira da Ladra (16€), com gin Tanqueray 10, licor Juna, kiwi, gengibre, xarope de agave e água tónica. A seleção de vinhos, por seu turno, está a cargo de João Chambel, distinguido recentemente pela revista Wine como sommelier do ano. E também há sangrias, (bem) apresentadas numa proveta de laboratório. Não será de admirar, portanto, que seja fácil ficar alegre por estas bandas.

Nome: Gioia Food Lab
Morada: Praça da Alegria, 50 (Avenida da Liberdade), Lisboa
Horário: De segunda a sexta-feira, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h (quinta e sexta até às 23h30). Sábado das 19h30 às 23h30
Preço Médio: Ao jantar, a refeição fica por 30/35€. Ao almoço há menus de 15€, 19€ e 23€.
Reservas: Aceitam
Site: www.gioiafoodlab.com