O Presidente da República começa esta quinta-feira a ouvir os partidos com assento parlamentar em Belém a propósito do Orçamento pela quarta vez em apenas sete meses. Marcelo Rebelo de Sousa tem insistido em apelar ao consenso nacional e à promoção do diálogo entre os partidos. O líder da oposição, Pedro Passos Coelho, vai voltar a Belém para uma audiência mais de seis meses depois, já que só por uma vez integrou a comitiva do PSD na visita ao chefe de Estado: após ser reeleito em Congresso, a 4 de abril.

Um dia antes da entrega do Orçamento do Estado para 2017 — no encerramento de uma conferência promovida pelo Fórum para a Competitividade — Marcelo Rebelo de Sousa enviou recados a Passos Coelho, que assistia ao discurso do Presidente na primeira fila. O chefe de Estado pediu então que tanto a oposição como Governo sejam “o mais claros e fortes possíveis” e pediu à oposição que prossiga “busca de denominadores comuns no essencial para o regime, com clareza de demarcação de alternativa de Governo“.

Quando Passos chegar a Belém sexta-feira às 16h00 da tarde já terá sido tomada a decisão, em conjunto com o grupo parlamentar (na reunião da bancada “laranja” que se realiza sexta-feira de amanhã, após o plenário), se o PSD irá ou não apresentar propostas de alteração ao Orçamento do Estado. É esse o desejo de Marcelo: que o maior partido da oposição se envolva no processo e tenha uma oposição construtiva.

Passos Coelho foi esta quinta-feira a Cabo Verde à tomada de posse do novo Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, mas deu indicações no partido de que irá à audiência com Marcelo Rebelo de Sousa. Na última reunião da comissão permanente, apurou o Observador, o líder do partido informou os seus vice-presidentes de que iria chefiar a comitiva que será recebida por Marcelo em Belém.

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O Presidente da República vai ouvir os partidos por ordem de dimensão na Assembleia da República. Esta quinta-feira começa por receber o PAN (14h00), “Os Verdes” (15h00), o PCP (16h00) e o CDS (17h00). Na sexta-feira o primeiro a ser recebido é o Bloco de Esquerda (14h00), depois o PS (15h00) e, por fim, o PSD fecha a ronda de audições(16h00).

Esta é a quarta vez que Marcelo Rebelo de Sousa ouve os partidos desde que é Presidente da República, sendo que como Presidente eleito, ainda em Queluz, também falou com os líderes partidários. A primeira vez que Marcelo recebeu os partidos como chefe de Estado foi em vésperas da entrega do Programa de Estabilidade e Crescimento em Bruxelas, a 26 de abril. Nessa altura, Marcelo abdicou de ouvir PSD e CDS, já que a 4 de abril tinha recebido Passos Coelho e a 14 de março Assunção Cristas, logo após estes terem sido consagrados e eleitos líderes nos respetivos congressos.

A 28 e e 29 de junho, Marcelo voltou a ouvir os partidos, mas por uma questão legal, quase automática: a marcação das eleições regionais nos Açores. Passos não foi e quem chefiou a comitiva foi o primeiro vice-presidente Jorge Moreira da Silva. Menos de um mês depois voltou a convocar os partidos, para análise da situação política. Marcelo estava então a ver um “julho quente” na política portuguesa. Com muita crispação. Para que o verão quente de 2016 não entrasse na silly season, o Presidente da República recebeu os partidos com o objetivo de pôr água na fervura do combate político e também discutiu as eventuais sanções de Bruxelas (que não se confirmaram).

Nesse momento, o Presidente da República comentou: “Como é habitual em todos os meses de julho, não sei se por cansaço, se é porque está a acabar o trabalho do Parlamento, se é porque há ali uma espécie de acerto de contas a fazer em relação ao passado preparando o futuro, há uma certa subida de temperatura nos atores políticos“.

Marcelo chamou os políticos na altura para pedir calma. Passos Coelho voltou a não ir e enviou para chefiar a comitiva a sua vice-presidente mais próxima de Marcelo Rebelo de Sousa: Sofia Galvão. Desta vez o líder da oposição vai mesmo falar com o Presidente da República.