Os ABBA cantavam “Money, money, money / Must be funny“. O dinheiro é divertido. Mas o que fazer quando se encontra uma nota com 700 anos, dentro da cabeça de uma estátua? É um verdadeiro e rico achado!

Para Ray Tregaskis, diretor da casa de leilões de arte asiática Mossgreen, sediada na Austrália, esta foi a descoberta da sua vida. Tregaskis deparou-se com o “tesouro” quando inspecionava uma escultura budista. Escondida no interior da cabeça da estátua, estava um pedaço amaçado de papel…

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Após uma atenta inspeção, o pergaminho acabou por se revelar uma nota de 700 anos da dinastia Ming, um dos primeiros exemplares de nota da China.

Esta é a primeira vez que uma nota é descoberta dentro de escultura budista de madeira, que saibamos. Ficámos surpresos, espantados, e quando a traduzimos, muitos animados!” explica Tregaskis.

A nota dentro da cabeça provou ser uma descoberta única.

É típico encontrar materiais como incenso e pedras semipreciosas colocados dentro de esculturas em bronze dourado, por um monge. Mas nunca ouvimos falar de alguém que descobriu dinheiro dentro de uma escultura de madeira” explica Luke Guan, especialista em arte do Mossgreen asiático.

É impossível saber como o dinheiro acabou ali escondido, mas graças a datas impressas na nota, os especialistas foram capazes de verificar a idade da escultura e perceber melhor a sua história. O mais provável é que um patrono tenha colocado lá a nota, para a esconder ou não a perder, cerca de 40 ou 50 anos depois de ter sido feita a escultura (que data de um período situado entre 1368 e 1398).

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A escultura de madeira representa a cabeça de um Luohan, uma pessoa prudente — com o rosto calmo e confiante — que passou por quatro estágios de Iluminação e alcançou o Nirvana, segundo a cultura budista.

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De acordo com Guan, esta estátua terá sido parte de uma série de 16 até 500, que eram geralmente mantidas dentro dos templos budistas.

A Evolução do dinheiro na China

A nota de banco tem mais de 700 anos de idade e foi feita durante a dinastia Ming, na China — fundada pelo imperador Hongwu, Zhu Yuan Zhang — que se estendeu por quase 300 anos, entre 1368 e 1644. A dinastia Ming representou uma era de prosperidade, dado o forte comércio internacional e o aumento populacional.

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Durante essa época, a China substituiu a sua moeda tradicional, de prata e de ouro, pela nota de papel. O projeto de lei, criado pelo imperador, apresenta três selos vermelhos oficiais e uma linha onde se lê:

Autorizada pelo Ministério das Finanças, esta nota de banco tem a mesma função das moedas. Aqueles que utilizarem notas falsas serão decapitados. O denunciador será recompensado com 250 pratas Liang e com todas as propriedades do criminoso.”

A nota de banco — “um guan” — era o valor mais elevado disponível na altura, equivalente a “um liang” (moeda) de prata. O seu valor de leilão está estimado entre os 1.840 e os 3.680 de euros.

Na época, as contas na China eram criadas a partir de papel feito à mão, com casca de amora, e impresso sobre um pedaço de madeira esculpido. Este método de impressão tem desempenhado um papel importante ao longo da história chinesa, permitindo a divulgação de informação, arte e literatura.

A nota e a escultura que a alojou durante anos vão embarcar numa viagem mundial, que passará por Melbourne (Austrália), Londres (Reino Unido) e Hong Kong (China). Depois, voltarão para Mossgreen em Sydney, na Austrália, onde serão leiloadas. As duas “peças” são parte da “The Raphy Star Collection of Important Asian Art” e juntas estima-se que rendam entre os 27.613 e os 41.406 euros.