Em Nimes, no antigo coliseu romano datado do século I, há 16 mil pessoas engalfinhadas. Ninguém fala nem sequer respira. No exterior da arena, há ainda quem se esforce por comprar bilhetes no mercado negro, já para cima dos mil euros. É o último dia da feira. Entra em campo o espanhol José Tomás, mais conhecido por JT. Histeria colectiva. Quatro touros depois, JT leva 11 orelhas, um rabo e é despachado com frenéticos aplausos, de todos aqueles espectadores, entre os quais os famosos Eric Cantona (Nobel da gola alta), Vicente del Bosque (Nobel da classe futebolística) e Mário Vargas Llosa (Nobel da Literatura). É cá uma tourada.

Em Alvalade, a tourada é de outra dimensão. Sem orelhas nem nada parecido, muito menos Nobel. É uma tourada sem sentido, totalmente ilógica. O Tondela entrega a bola e o Sporting não sabe o que fazer com ela. Positivamente, não sabe. Salvo aquela jogada em que Bas Dost liberta Gelson e este dá um nó em Fernando Ferreira antes de acertar no poste, aos 4 minutos, o Sporting não incomoda Cláudio Ramos por aí além. O Tondela, mais cómodo na situação de espectador, aprecia o espectáculo. Ou falta dele. O cenário assustador de terça-feira, vs. Dortmund, repete-se: há falta de ideias, pernas e ritmo.

Jesus abandona a ideia Markovic e substitui-o por André. A troca em relação ao 2-1 do Dortmund em nada altera o estilo de jogo pelo simples facto do bloqueio de Elias. No lugar do capitão Adrien, o brasileiro é um rodízio de passes errados e passes sem nexo. A primeira delas, aos 6′, vale-lhe um amarelo. A segunda, ainda no meio-campo do Tondela, acalma-lhe o espírito guerreiro. A partir daí, muitos passes transviados, um deles a resultar num contra-ataque resolvido por Ruben Semedo para canto. No ranking dos passes tortos, Elias nem está sozinho. É futebol total, ao contrário. Mesmo aquelas jogadas simples, de transição de ataque, sem muuuita pressão, há erros de palmatória. Daí as poucas jogadas com cabeça, tronco e membros.

Ao intervalo, 0-0. Mais uma vez, o Sporting dá uma parte de avanço. O Dortmund aproveita e dá dois de avanço. O Tondela, mais modesto, sai com um ponto. No balneário, Jesus faz o óbvio e substitui Elias. Quem entra é Bruno César. O brasileiro tem vontade de mudar, pede a bola e tudo. Só que não é o dia do Sporting. Definitivamente. Nem o dele. Aos 68′, por exemplo, Bas Dost recupera uma bola perdida e proporciona a tabelinha com Bruno César num convidativo três-para-três. Bruno César, teimoso, agarra-se à bola e perde-a. Alvalade assobia. Claro. A isto, acrescenta-se aquele cruzamento para fora de Gelson, aos 71′.

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E é então que aparece sorrateiramente o Tondela, que já provocara um ligeiro calafrio aos 65′, quando Fernando Ferreira cruza da esquerda para o coração da área e Murillo entra de repente a atirar para fora, sem jeito. À segunda, Murillo sai a celebrar. É o venezuelano quem lança o ataque, liberta Jailson pela direita e o lateral cruza de forma venenosa para o interior da área. Murillo remata e faz o 1-0. Que balde de água fria. Acto contínuo, Jesus faz entrar Campbell por Zeegelaar. O problema é a insistência do Sporting em jogar mal, sem servir convenientemente o trio de pinheiros plantados na área tondelense: Castaignos 1,88 metros de altura, Bas Dost 1,96 e Coates 1,96. Em 15 minutos, só há um lance aéreo digno de registo, na sequência de um canto, com cabeceamento de Coates por cima (86′). Daí para a frente, Bas Dost acerta na cabeça de Fernando Ferreira e provoca a terceira substituição do Tondela (o médio cai inanimado) e William tem a triste ideia de pontapear Murillo. A falta desnecessária provoca um sururu de dois minutos, numa altura em que o árbitro Rui Costa dera seis de desconto.

É precisamente no último instante que o Sporting chega ao empate. Centro de Gelson da direita para a área, Campbell domina em corrida e atira na passada. O costa-riquenho despe a camisola e festeja o empate como se de uma vitória se tratasse. O árbitro anota o feito, dá-lhe cartão amarelo e acaba com o jogo. Um-um, é o terceiro empate seguido de Petit com o Sporting. Que tourada, o Sporting dá mais um passo atrás na candidatura ao título.

Estádio José Alvalade, em Lisboa
Árbitro: Rui Costa (Porto)
SPORTING: Patrício; Schelotto, Coates, Ruben Semedo e Zeegelaar (Campbell, 75′); Gelson, William, Elias (Bruno César, 46′) e Bryan; André (Castaignos, 61′) e Bas Dost
Treinador: Jorge Jesus (português)
TONDELA: Cláudio Ramos; Jailson, Kaká, Rafael Amorim e Mamadu; Fernando Ferreira (Lystsov, 90’+1), Bruno Monteiro e Claude Gonçalves; Murillo, Moreno (Crislan, 80′) e Wagner (Miguel Cardoso, 63′)
Treinador: Petit (português)
Marcadores: 0-1, Murillo (74′); 1-1, Campbell (90’+5)