Um ex-sacerdote católico polaco, que pertenceu à Congregação para a Doutrina da Fé, acusa a Igreja Católica de “hipocrisia”, relativamente à homossexualidade, e desafia a hierarquia “a despertar do seu sono desumano que atingiu o insuportável”.

Krzystof Charamsa faz estas afirmações na obra A primeira pedra. Eu, padre gay, e a minha revolta contra a hipocrisia da Igreja, que é publicada na quarta-feira, em Portugal, numa tradução de Marta Pinho/João Quina Edições.

Segundo afirma o ex-monsenhor, “o problema da Igreja não é apenas a perseguição dos homossexuais, mas também a sexualidade de toda a humanidade”.

Krzystof Charamsa, de 44 anos, conta neste livro o seu percurso como católico fervoroso, sacerdote, que iniciou carreira na nomenclatura da Santa Sé, tendo sido segundo secretário da Comissão Teológica Internacional e oficial da Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício), e, em outubro do ano passado, assumiu publicamente a sua homossexualidade, tendo-lhe sido retiradas todas as funções, por ter quebrado o voto de celibato.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Referindo-se à assunção da sua homossexualidade, Krzystof Charamsa escreve: “Rezava a Deus para que aquele homem verdadeiro nunca mais me deixasse sozinho. Mas como? Na verdade, ele deveria deixar-me o mais rapidamente possível, porque eu… era padre. E ele não sabia”. Todavia, segundo afirma, nessa altura, viu Deus que o amava e aceitava porque o compreendia.

“Eu, especialista em Deus e em tudo o que é divino e … homofóbico ao mesmo tempo, vira finalmente Deus. Encontrava um homem, mas vira Deus. E felizmente estava a perder de vista a sua Igreja medíocre”.

Sacerdote católico durante 18 anos, período durante o qual contactou com outros padres homossexuais, Krzystof Charamsa inclui no livro uma carta que enviou, em outubro do ano passado, ao papa Francisco, na qual rejeita “publicamente a violência da Igreja relativamente às pessoas homossexuais, lésbicas, bissexuais, transexuais e intersexuais”.

“Não posso continuar a suportar o ódio homofóbico, a exclusão, a marginalização e a estigmatização das pessoas como eu”, escreveu o sacerdote polaco ao papa Francisco.

Esta carta foi enviada nas vésperas do Sínodo sobre a família, que se reuniu em Roma, e cujas conclusões o desapontaram.

Krzystof Charamsa publicou na mesma altura, e inclui nesta obra publicada pela Planeta Editora, o “Novo manifesto de libertação gay” em dez pontos, que aponta como “indispensável para que as pessoas LGBTIQ [Lésbicas, Gay, Bissexuais, Transsexuais, Intersexuais e Queer (teoria segundo a qual considera que o género e as relações são fluídas e não estáticas)] possam encontrar paz na Igreja Católica”. Este manifesto também inidca, na sua opinião, os dez passos que a Igreja deve dar para um “programa de ‘conversão’ intelectual e espiritual”, pois, como afirma, “a Igreja está ainda à espera da sua revolução de Stonewall”, referindo-se ao movimento contestatário em defesa dos direitos dos homossexuais, que emergiu em 1969, num bar nova-iorquino, contra a violência policial.

Para Krzystof Charamsa, atualmente ativista dos direitos LGBTIQ, em Barcelona, “defendendo-se os direitos das minorias, defende-se os direitos de todos”.