A maioria dos africanos (63%) vê a influência da China em África como positiva e o gigante asiático é o segundo mais votado, a seguir aos EUA, como modelo de desenvolvimento a seguir, segundo uma sondagem divulgada esta segunda-feira.

As conclusões são do Afrobarómetro (www.afrobarometer.org), um estudo realizado através de entrevistas cara-a-cara junto de mais de 54 mil cidadãos de 36 países africanos, representando as opiniões de mais de três quartos da população do continente.

Segundo o barómetro agora divulgado, apesar das críticas nos media aos interesses e operações chineses em África, a população africana vê com bons olhos o papel do investimento estrangeiro e da assistência ao desenvolvimento por parte de entidades chinesas.

Em média, 63% dos inquiridos vê a influência da China no seu país como “positiva” ou “muito positiva”, perceção que se deve em grande parte ao setor das infraestruturas/desenvolvimento e aos investimentos empresariais da China.

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No entanto, a opinião varia muito consoante o país, com 92% dos inquiridos no Mali a considerarem a influência chinesa como positiva, contra apenas 33% dos argelinos questionados.

A Argélia e o Gana são os únicos países onde as opiniões negativas superam as positivas.

Quando questionados sobre que modelo de desenvolvimento o seu país deveria seguir, a maioria dos africanos inquiridos (31%) escolheu os EUA, logo seguido da China (24,3%) e só depois as antigas potências coloniais (12,5).

Já quando se pergunta que país tem atualmente a maior influência nos seus países, a maioria dos inquiridos (28%) identifica as suas antigas potências coloniais, seguidas da China (23%) e dos EUA (22%).

O nível de influência percebida varia muito entre países, mas as antigas colónias francesas são os países que mais se sentem influenciados pela ex-potência colonial (89% na Costa do Marfim, 80% no Gabão ou 73% no Mali).

Com efeito, os 14 países mais influenciados pela ex-potência colonial são todos ex-colónias francesas.

Os cidadãos das antigas colónias britânicas, assim como os das ex-colónias portuguesas, têm menos probabilidade de ver a sua ex-potência colonial como maior influência, dividindo a sua preferência entre a China e os EUA.

Entre as ex-colónias portuguesas, por exemplo, mais de metade dos moçambicanos escolhe a China como a potência que mais influencia o país, enquanto Portugal é escolhido por apenas cinco por cento dos inquiridos.

Os cabo-verdianos veem os EUA como a sua maior influência (31%, contra 25% de Portugal), enquanto os são-tomenses veem a China como a potência que mais influencia o seu país (24% contra 17% de Portugal).

Segundo os autores do estudo, a China tem vindo a aumentar rapidamente os seus laços com a região africana, usando o Fórum Cooperação China-África, criado em 2000, como principal veículo institucional para a parceria estratégica com a África subsaariana.

As trocas comerciais entre a China e a África aumentaram de cerca de 10 mil milhões de dólares em 2000 para 220 mil milhões em 2014 e estava a aproximar-se dos 300 mil milhões em 2015.

Investigadores citados no documento explicam que, por o mercado africano ser sensível aos preços, o desenvolvimento das telecomunicações e infraestruturas do continente tornou-se dependente da tecnologia chinesa, que tem preços competitivos e serviços de apoio fortes, quando comparados com os concorrentes ocidentais.

O continente africano também tem visto aumentar fortemente os pequenos investimentos chineses em restaurantes e lojas, enquanto a China importa de África sobretudo minerais, mas também algum petróleo e produtos agrícolas.

Estima-se que mais de um milhão de chineses, a maioria trabalhadores e comerciantes, tenham emigrado para África na última década, acrescenta o relatório.

Mas este crescimento tem motivado críticas nos media, nomeadamente de que o interesse da China em África se limita ao acesso aos recursos naturais; de que quer comprar a terra de África e de que só emprega chineses, desprezando a mão-de-obra local.

Outros críticos argumentam que muitas empresas chinesas fornecem serviços e produtos de baixa qualidade, vendendo a preço reduzido e prejudicando os concorrentes locais; e outros ainda acusam as empresas de terem regimes autocráticos ou pouco transparentes.

No entanto, opinião da maioria da população africana não parece refletir estas críticas.