O Fugitivo (1993, Andrew Davis)

Foi um dos filmes de ação mais bem-feitos dos anos 90 – uma década prodigiosa nessa matéria. É frequente passar na televisão – onde tem a sua origem. Alguma gente se lembrará da série em que se baseia, do angustiado Dr. Richard Kimble e do seu vilão “maneta”. Em questão de “caça ao homem” podíamos lembrar alguns clássicos como o propriamente dito “Caça ao homem” (“Man Hunt”, 1941) um filme de aventuras anti-nazis que Fritz Lang realizou na América, depois de outra caçada, ainda na Alemanha e menos diretamente política, o famoso “M – Matou” (com Peter Lorre, outro futuro exilado em Hollywood). Mas nesses filmes não é o mecanismo da perseguição que está no centro dos acontecimentos. Na série de televisão a preto e branco (teve uma derradeira “época” a cores), durante as dezenas de episódios exibidos de 1963 a 1967, o Dr. Kimble (na cabotina versão de David Janssen) ia fugindo sempre e semeando o bem. Tanto na série como no filme há duas perseguições paralelas: a da polícia que tenta apanhá-lo (uma interpretação estelar de Tommy Lee Jones, não desfazendo no “maneta” de Andreas Katsulas, em Harrison Ford e no restante elenco, todo de primeira ordem) e a do protagonista em busca do verdadeiro culpado. É um filme que se pode ver muitas vezes, sempre com gosto. Roy Huggins, criador da série, foi um dos seus “produtores executivos”.

Apanha-me se puderes (2002, Steven Spielberg)

Quase uma comédia. É baseado na história verdadeira de um cativante vigarista e falsário incrivelmente bem-sucedido e do corriqueiro e persistente polícia que ao longo de muitos anos lhe esteve pacientemente no encalço e acabou por conseguir prendê-lo – e pôr os seus inegáveis e especializados talentos ao serviço do bem comum. Os protagonistas são Leonardo di Caprio, no papel de Frank Abagnale, Jr., e Tom Hanks, no do bom polícia, o que havia de ser? O filme alonga-se um bocado demais mas – como se costuma dizer – vê-se com agrado e tem algumas sequências de antologia (a da carreira do homem como “piloto aviador”, por exemplo). Leonard Maltin no seu Movie Guide chama a atenção com toda a justiça para o magnífico score musical de John Williams. Toda a gente repara na magnífica e comovente interpretação de Christopher Walken, no papel de Abagnale senior, mas nunca é demais exaltar este actor original e sempre brilhante, embora não lhe faltem reconhecimento e prémios desde a sua memorável interpretação em ‘O caçador’, que lhe valeu o Óscar para o melhor actor secundário de 1978 (e como esquecer um dos seus primeiros papéis no cinema, como irmão mais novo de Diane Keaton em “Annie Hall”? Woody Allen sempre teve olho para escolher actores. Ou os inesquecíveis dez minutos que Tarantino lhe deu em Pulp Fiction?).

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pânico nas ruas (1950, Elia Kazan)

É um dos filmes menos lembrados de Elia Kazan, mas foi uma das primeiras experiências americanas de filmagens de ficção em cenários naturais urbanos, um dos primeiros filmes “neo-realistas” de Hollywood – só nesse sentido, bem entendido. Passa-se em Nova Orleães e tem a ver com um criminoso que uma das suas vítimas infectou com a peste pneumónica e, portanto, é duplamente procurado. Se continuar à solta pode espalhar a infecção por toda a cidade. A espetacular fotografia a preto e branco é de Joe MacDonald. O filme foi a estreia de Jack Palance, num papel de vilão cujo ‘boneco’ se tornou icónico no pistoleiro de preto do célebre “Shane”. Em “Pânico nas ruas” o seu personagem é conhecido por Blackie, premonitoriamente. No melodrama “esquerdista” The Big Knife (“No reino da calúnia”, 1955), de Clifford Odets e Robert Aldrich, Palance mostrou que podia representar outros papéis e mais recentemente demonstrou que as suas feições de mineiro ucraniano talhadas a escopro e martelo não eram incompatíveis com o humor: veja-se, por todos, o divertido City Slickers (“A vida, o amor … e as vacas’, 1991, Ron Underwood), em que ganhou o Óscar para o melhor actor secundário, aos setenta e dois anos. As filmagens on location tornaram a ser magistralmente usadas pelo realizador Elia Kazan numa das suas obras-primas: “Há lodo no cais” (“On the waterfront”, 1954).

Chacal (1997, Michael Caton-Jones)

Não se deve mas pode-se confundir com o quase homónimo “O chacal” (“The day of the jackal”, ’73). Para começar, título e argumento são inspirados pelo guião de Kenneth Ross para o primeiro filme, uma adaptação do thriler de Frederick Forsyth. O filme realizado por Fred Zinneman nos anos 70, fiel ao romance, é a história de um atentado ao General De Gaulle. Como outros que ocorreram na vida real, este é patrocinado pela OAS (o Exército Secreto dos militares e civis inconformados com o abandono da Argélia Francesa pelo seu suposto salvador). A tarefa é entregue a um ‘profissional’ estrangeiro (na vida real a gente da OAS paya de sa personne). Acaba por falhar, como falharam as tentativas reais de fazer o General pagar com a vida a traição argelina. Em “Chacal”, o alvo é outro e a história concentra-se nos esforços para caçar o assassino e evitar o atentado, num trabalho conjunto dos serviços de segurança americanos e russos, com a colaboração de um antigo terrorista (ou deve dizer-se freedom fighter’) irlandês, que tem antigas contas pessoais a ajustar com o meu da fita: Sidney Poitier, Diane Venora e Richard Gere contra Bruce Willis. Forsyth teve sorte com o cinema no caso de “O Chacal” e de “Os cães da guerra”, que deu lugar a um filmezinho excelente (com um grande papel, lá está, de Christopher Walken).

00:30 – A hora negra (2012, Katherine Bigelow)

Aqui a “caça ao homem” é de alcance global. De uma ponta do mundo à outra, os polícias tentam localizar o “inimigo público nº 1” à escala mundial. Os “polícias” não são vulgares agentes da ordem, são militares e agentes secretos – mas o trabalho é o mesmo: escutas, vigilâncias, informadores, rastos – e os obstáculos ao êxito da empresa são os mesmos: rivalidades burocráticas, mobilidade, amigos, simpatizantes ou gente atemorizada que cala. A linguagem dos Presidentes dos Estados Unidos é a de xerifes do faroeste. We will bring them to justice. Responderão dos seus crimes perante a justiça. Daremos com eles, mortos ou vivos. O perseguido está nas sete quintas de um território que conhece como ninguém e onde abundam as cumplicidades e uma espécie de omertà, tão forçada como, em muitos casos, a da Máfia. Como em casos de menor alcance, a caça salda-se quase fatalmente pela morte da presa. Como no faroeste ou no mundo do gangsterismo, o lema dos foragidos é “não nos apanharão vivos”. Dehors ou morts (liberdade ou morte, se assim se pode traduzir o que dizia o infame e histriónico bandido francês Jacques Mesrine, biografado num filme de 2008 que a Fox Movies tem exibido). Mesrine morreu na rua às mãos de um “pelotão de execução” policial. Bin Laden morreu na tentativa de captura pelos navy seals americanos.

Bonnie e Clyde (1967, Arthur Penn)

Hoje, a violência em câmara lenta é um lugar-comum estafado. Em 1967, dois anos antes da explosão nos ecrãs do famoso tiroteio de “The Wild Bunch” (“A Quadrilha Selvagem”, de Sam Peckinpah, 1969), Arthur Penn usou-a no final do seu filme noir a cores, para uma espécie de ascensão dos seus protagonistas aos céus. Não foi o primeiro a fazer uso deste recurso estilístico. Já fora usado por Akira Kurosawa, pelo menos, com extrema discrição e máximo efeito em “Os sete samurais”. O mundo de “Bonnie e Clyde”, um filme que ecoa o mítico “Gun Crazy”, é o do bandoleirismo pacóvio da Depressão, com velhas raízes, de uma certa América profunda que também nos deu “Pretty Boy” Floyd ou Dillinger (retratado, por exemplo, no “Inimigos Públicos” de Michael Mann). Bonnie e Clyde eram exibicionistas (gostavam de aparecer nos jornais e tirar fotografias em poses “artísticas”) mas não tão bonitos como os actores que protagonizam este filme, onde podem ver-se Warren Beatty e Faye Dunaway em todo o seu juvenil esplendor (e Gene Hackman a caminho do “Popeye” Doyle de “Incorruptíveis contra a droga”, French Connection). O tratamento um tanto irónico ou tongue in cheek do argumento da parelha David Newman-Robert Benton torna um pouco menos ofensivo este hino à ‘juventude rebelde’: They are young. They are in love. They kill people, diz o trailer.