O Memmo Príncipe Real não se vê da rua. Mas vê-se, e bem, do ar, como mostra Rodrigo Machaz, diretor do grupo, reproduzindo no seu computador um vídeo feito num drone. “Aqui está ele”, indica, de dedo apontado para o ecrã na direção de um edifício branco e retangular, bem destacado dos que o rodeiam. O aspeto pintado de fresco não engana: o terceiro hotel com a chancela Memmo (depois de Sagres e Alfama) não tem sequer um mês, abriu portas a 1 de outubro.

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O Memmo Príncipe Real abriu no início de Outubro. O Café Colonial é o restaurante do hotel. (foto: © Divulgação)

Para o encontrar sem recorrer a geringonças voadoras é necessário atravessar o pequeno túnel que liga a rua Dom Pedro V (no número 56) à encosta da colina de São Roque, na continuação do Miradouro de São Pedro de Alcântara. A melhor razão para o fazer não se prenderá com o hotel em si — este dirige-se sobretudo a turistas que não perceberão grande coisa deste texto — antes pelo respetivo restaurante, o Café Colonial, que só agora, após um período de afinações inicial, começa a receber visitas de fora. E é precisamente aí que se concentra o público-alvo definido por Rodrigo.

O restaurante não é para o cliente do hotel, a intenção é trazer aqui para dentro a comunidade local. Queremos seguir o exemplo do The Decadente, em que quando uma pessoa lá vai nem sequer se lembra que está num hotel.”

Diversão, comida e serviço

A fórmula de Rodrigo Machaz para o sucesso do seu restaurante passa por esta santíssima trindade em que, garante, a diversão é primordial. E justifica: “Às vezes vamos a restaurantes e comemos muito bem, somos impecavelmente servidos, mas se não há ambiente, se não é uma experiência divertida, a refeição não se torna memorável.”

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Assim, houve um especial cuidado com a acústica do restaurante — para que esta permita conjugar a playlist própria e o ruído natural de vozes e talheres. “Gosto que a música vá acompanhando o volume das conversas”, refere Rodrigo, que também encara a iluminação e a decoração do espaço, que mistura elementos clássicos e contemporâneos, como trunfos a apontar. Outro será a vista que se tem do respetivo pátio, que dispensa descrições.

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No pátio do Café Colonial não se servem refeições mas é possível, por exemplo, beber um dos cocktails da carta. O cenário é tentador. (foto: © Divulgação)

E se o álcool potencia o quebra-gelo e, consequentemente, a diversão, não podia faltar uma carta de cocktails que, como em tantos outros casos, junta os clássicos aos de assinatura, criados por Luís Domingos, da Black Pepper & Basil. “Não quis que fossem demasiado caros, até para que possam ser bebidos à refeição”, garante Rodrigo. Custam, em média, 8€. Com o mesmo intuito, o responsável quer ter à disposição dos clientes “muitos e bons vinhos a copo”.

O menu

Por muito ambiente e diversão que um restaurante possa ter e proporcionar, a comida será sempre um elemento preponderante na experiência global. Para chegar a bom porto nesta expedição, Rodrigo pensou num conceito ligado à partilha (Café) e à comida de raízes lusófonas (Colonial), cujos sabores andassem “à volta de tudo o que os portugueses trouxeram e levaram daqui”.

Quando propôs a Vasco Lello (ex-Flores do Bairro), que desenvolvesse uma carta baseada nesta premissa, este puxou dos pergaminhos familiares — o seu avô era angolano — e tratou de estudar a fundo a matéria dada nas aulas de História e em muitas refeições de família. Esteve um mês no Algarve a preparar a ementa e a adaptá-la ao conceito. “Fizemos muitos testes e provas até percebermos que não fazia sentido ter um restaurante brasileiro, indiano e africano no mesmo sítio. Assim optámos por uma abordagem mais superficial”, recorda o chef.

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Vasco Lello foi durante quatro anos chef do Flores do Bairro, no Bairro Alto Hotel.
(foto: © Tiago Pais / Observador)

Essa superficialidade explica-se facilmente recorrendo a uma das muitas entradas da carta: asinhas de frango fritas com molho piripíri suave, quiabos e amendoim (9€). “Em vez de fazermos uma muamba temos os mesmos sabores num petisco”, exemplifica Vasco. Aliás, a componente petisqueira da carta é forte, com quase dezena e meia de propostas, algumas mais familiares, caso dos croquetes de camarão ou de rabo de boi (7€ – 4 unidades), outras menos, como o kefta de borrego (9€), uma espécie de almôndegas do Médio Oriente, servidas num espeto, acompanhadas de pão árabe e molho de iogurte e hortelã.

A possibilidade de partilha estende-se aos pratos principais. “Dois clientes podem partilhar duas entradas e um prato. O nosso bife à Café Colonial, por exemplo, vem todo fatiado”, afirma Rodrigo Machaz. A carne é de vazia maturada e a dose à vontade do freguês — pode ir de 150g (17,5€) a 300g (34€). Aqui, as propostas misturam-se ainda mais: tão depressa saem pratos de matriz mais tradicional, como a bochecha de porco estufada (19€) ou a corvina com carolino de Bulhão Pato (24€), semelhante à que Vasco celebrizou no Flores do Bairro, como um caril de camarão (18€) ou um bacalhau (24€) de inspiração oriental, servido com manteiga de miso, cogumelos shitake e couve pak choi.

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O bacalhau é servido com um chawan mushi de ostras, uma espécie de pudim japonês. (foto: © Tiago Pais / Observador)

Já nas sobremesas navega-se, entre outros, até São Tomé para o chocolate em quatro texturas (8€), Brasil, para o quindim com gelado de maracujá e lima (7€) ou Goa, para a bebinca com gelado de gengibre (7€). Quase que dá vontade de trautear o êxito festivaleiro dos Da Vinci (com as devidas adaptações):

“Foram mil epopeias, barrigas tão cheias
Foram oceanos de amor
Já comi Brasil, Praia e Bissau
Angola, Moçambique,
Goa e Macau…”

Nome: Café Colonial
Morada: Memmo Príncipe Real, Rua Dom Pedro V, 56-J (Príncipe Real), Lisboa
Telefone: 96 184 4248
Horário: Todos os dias, das 12h30 às 15h e das 19h às 22h (de quinta a sábado até às 23h)
Preço Médio: 35/40€
Reservas: Aceitam
Site: www.memmohotels.com/principereal/cafe-colonial