Jerónimo de Sousa sublinhou esta terça-feira à noite, em entrevista à SIC, o desagrado com o protagonismo que o Bloco de Esquerda tem assumido na apresentação de alguns dos diplomas que acabaram por ser incluídos no Orçamento do Estado para 2017. “Temos iniciativa legislativa e não apreciamos muito que alguns se ponham à nossa frente como se fossem pioneiros” dos textos, refere Jerónimo.

Jerónimo reclama a “iniciativa” e a “proposta” de alguns dos diplomas mais mediáticos na preparação do Orçamento — caso do imposto imobiliário, batizada como “imposto Mortágua” em referência à deputada Mariana Mortágua (BE) e que levou mesmo os comunistas a lembrar que já tinham a proposta em cima da mesa nas negociações com o PS. “Todos ganham com a tal clareza e transparência”.

A relação entre PCP e BE foi mesmo um dos pontos mais sensíveis da entrevista de Jerónimo de Sousa, de tal modo que o secretário-geral dos comunistas sentiu necessidade de assinalar que, desde início, o dois partidos dialogaram de forma separada com o PS. “Não foi por acaso que tomámos a opção de fazer reuniões bilaterais” e não em conjunto com PS e BE, porque, assim, “fica mais claro o que cada um propõe”, resume Jerónimo. E ressalva: “O nosso problema não é o BE, o nosso problema são as questões estruturantes que, se não forem ultrapassadas, criarão uma situação insanável”.

Quanto ao PS, a mesma posição: há “divergências profundas” entre comunistas e socialistas, mas esse fosso ideológico não tem impedido o diálogo entre as duas partes. Com a garantia, reafirmada, de que este é um “Governo minoritário do PS, não é de esquerda”.

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Depois de outro dirigente comunista, Jorge Cordeiro, ter admitido o voto favorável ao Orçamento, agora o líder comunista assegura na primeira pessoa que, para já “na especialidade”, o PS conta com a validação do PCP ao documento — tal como acontecerá com o BE.

Ainda que com “limitações” na discussão em relação “a muitas matérias”, o PCP reafirma a intenção de “procurar corrigir aspetos” que considera “negativos” no Orçamento do próximo ano. Uma correção limitada pelo facto de os socialistas não terem assumido qualquer “rutura” com os “constrangimentos internos e externos que se abatem sobre o país”. É a tal “chantagem de Bruxelas”, por exemplo, que para o PCP leva a uma “contradição entre uma política que vise mais justiça social, progresso, reposição de direitos e rendimentos” e as “imposições e constrangimentos que deitam tudo abaixo”. Para cortar com esses “constrangimentos”, seria necessário renegociar prazos, montantes e juros da dívida pública. Mas para isso o PCP não conta com o apoio dos socialistas.

Sobre o Presidente da República e o estilo de Marcelo Rebelo de Sousa no exercício do cargo, Jerónimo prefere não fazer “reparos” públicos. Assinala, apenas, que o mais importante continua a ser que o chefe de Estado “cumpra e faça cumprir a Constituição”. Quanto ao resto, “o Presidente da República não abdicou do seu pensamento ideológico, não abdicou das suas origens”, refere o secretário-geral do PCP.