A coligação internacional liderada pelos Estados Unidos deve investigar as informações sobre vítimas civis durante as suas operações e publicar os resultados dessas investigações. Quem é o defende é a Amnistia Internacional (AI).

Em comunicado, a organização não-governamental (ONG) afirmou que 11 bombardeamentos da aliança internacional podem ter causado a morte de 300 civis durante os dois anos de raides contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI) em território sírio.

A AI sublinhou que, até agora, as autoridades norte-americanas não responderam a um relatório enviado pela ONG ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos da América (EUA) a 28 de setembro em que é questionada a atuação das forças da coligação na Síria.

O documento compila e analisa dados de várias fontes, incluindo testemunhos, e sugere que o Comando Central dos EUA, que dirige as operações da coligação na Síria, pode ter fracassado na adoção das precauções necessárias para evitar baixas civis.

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“Tememos que a coligação liderada pelos Estados Unidos tenha subestimado de forma significativa o dano causado aos civis nas suas operações na Síria”, afirmou uma responsável da AI em Beirute, Lynn Maalouf.

Os dados da AI indicam que alguns ataques da aliança internacional podem ter sido desproporcionais e até indiscriminados.

A AI destacou que, segundo a informação das organizações locais de direitos humanos e dos meios de comunicação, testemunhas civis e imagens de satélite, cerca de 300 civis podem ter morrido devido a estes bombardeamentos.

No entanto, acrescentou, grupos como o Observatório Sírio para os Direitos Humanos, o Centro de Documentação de Violações ou a Rede Síria para os Direitos Humanos asseguram que o número de civis mortos pelos ataques da coligação pode ser superior a 600 ou até mil.

Um dos bombardeamentos mais recentes descritos no relatório da AI foi a 19 de julho, em Al Tujar, na periferia da cidade de Manbech, na província de Alepo, onde pelo menos 73 civis morreram, incluindo 27 menores, e 30 ficaram feridos.

Outro ataque que a ONG descreve foi a 07 de dezembro de 2015 na localidade de Ain al Jan, província de Al Hasaka, onde pelo menos 40 pessoas morreram, das quais 19 eram menores, e outros 30 ficaram feridos.

A AI contactou com um sobrevivente deste bombardeamento que descreveu como acordou com o som de uma grande explosão.

“A casa tremeu e começou a desmoronar-se. As janelas estavam partidas. Corri lá para fora e vi a casa do meu vizinho completamente destruída. Podia ouvir as vozes as pessoas a pedir ajuda debaixo dos escombros”, recordou.

No entanto, quando este sobrevivente estava a ajudar a retirar pessoas enterradas, um helicóptero lançou um novo ataque.

O homem indicou que um comandante da milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG) disse mais tarde aos habitantes da localidade que as YPG tinham avisado a coligação de que havia civis na zona.

Acredita-se que este ataque tinha como alvo um grupo do Estado Islâmico que se tinha deslocado, cinco dias antes, para uma das casas na periferia da vila, onde mais tarde se juntaram mais combatentes, seguindo a AI.

A ONG lamentou que, apesar das provas revelarem que houve muitas vítimas civis, o Comando Central dos Estados Unidos não tenha admitido a sua responsabilidade, mesmo tendo reconhecido que realizou bombardeamentos nas proximidades, à mesma hora do ataque em Ain al Jan.