Tim Duncan, 19 anos de NBA e cinco anéis de campeão (pelos Spurs)? Out.
Nada de Duncan? Ouch. E agora? Pois é, e agora? Lá se vai o toque fantááááááástico da NBA. Talvez não, calma, apelemos à calma. Qual é a última edição da NBA sem Duncan, o cidadão mais tranquilo de sempre? É a de 1996-97, a melhor época de sempre em rookies. Vejam lá este desfile de artistas do além: Allen Iverson, Ray Allen, Kobe Bryant, Steve Nash, Jermaine O’Neal, Ben Wallace e Stephon Marbury. Uauuuu, isto é uma América.
Isto é uma América, ora aí está uma expressão curiosa. Ouço-a há anos e anos, do meu amigo Jorjão, perante tudo o que fosse awesome (espantoso), spectacular (espectacular) e phenomenal (fenomenal). Se entrássemos na discoteca Incógnito, ao pé do Parlamento e aquilo estivesse cheio e a dar as músicas dele, “era uma América”. Se fôssemos à praia em março, era uma América. Se o Benfica ganhasse 1-0 ao Campomaiorense, “era uma América”. Durante uns anos, apanhei com o “isto é uma América” aqui, ali e onde quer que estivesse com o Jorjão.
Só uma década depois posso finalmente retribuir. Estamos em Los Angeles, mais precisamente na downtown, onde moram os edifícios mais altos da cidade, que parecem escoltar o Staples Center, pavilhão dos jogos de basquetebol (Clippers e Lakers). Lá dentro, aquilo “é uma América”. Um passo equivale a passar à frente de restaurante (de hambúrgueres, churros, nachos, cachorros, batatas fritas, you name it), bancas de revistas, área de cheerleaders, loja do clube, espaço para fotografias com os ídolos em 3D, and so on.
Parece um exagero, mas não – há filas em todas as paragens e apeadeiros. Falta uma hora e 45 minutos para começar o último jogo dos Lakers em casa na época regular da NBA, com os Sacramento Kings. Não há mãos a medir. O balneário dos Lakers já está aberto aos jornalistas. Passa-se pelo detetor de metais como se estivéssemos a entrar num avião e desce-se de elevador para o subsolo, onde há duas opções: pela direita, um buffet para os jornalistas (sete dólares); pela esquerda, a zona dos balneários.
E aí somos anões. Cada um maior que o outro, com pés que mais parecem pranchas de surf e uns troncos que mais parecem tábuas de engomar, dentro do locker room: Gasol, Farmer, Fisher, Artest ou Odom despem a roupa social e vestem o equipamento enquanto falam na boa aos jornalistas. Kobe Bryant, lesionado, apalpa a orelha de um jornalista, dá uma palmada no rabo de outro e vai para o mini-restaurante do balneário. Os lesionados/ ausentes não sobem à arena porque não há espaço para eles. Só para os suplentes e espectadores mais famosos, que pagam 600 dólares por jogo para se sentarem junto à linha.
Neste dia, as câmaras fixam-se em Neil Diamond (do “Sweet Caroline”), Natalie Cole (do “Unforgettable” com o pai) e Beckham (do “Bend It Like Beckham”). São três figuras angelinas e merecem tantos aplausos como qualquer afundanço, triplo, ressalto. Porque isto é a NBA: 48 minutos de jogo e mais 48 de palhaçada. Ele é concurso de cestos, cheerleaders de um lado para o outro, prémios de jantares e roupa à borla para a secção 148, fila 19, lugares 5 e 6, muita música nos intervalos e timeouts.
E quando pensamos “pronto, já acabou e vamos para casa”, eis que descemos de elevador. A porta abre-se. E fecha-se. “Sabes quem era?”, pergunta o meu amigo Rui Pedro Silva. Não. “Era a Sharapova.” No way, isto é mesmo uma América. Um mundo à parte. Faça lá o quizz e sinta a dinâmica: