Passos Coelho lançou um desafio aos críticos e desalinhados no Conselho Nacional de quarta-feira à noite: “Venham”. E eles vieram. Um dia depois da reunião do órgão máximo entre congressos vai ser lançada na noite desta quinta-feira um movimento que apresenta uma alternativa à linha da atual direção “laranja” e propõe um PSD mais proativo: “Portugal não pode esperar”. Um dos rostos deste movimento é o ex-líder da JSD, Pedro Rodrigues, que copia a papel químico o que Passos Coelho fez durante a liderança de Ferreira Leite: promover uma plataforma para discutir ideias no PSD. O grupo não tem ainda uma cara, porém, para apresentar como alternativa à liderança do PSD.

A atividade do grupo vai, aliás, culminar num livro com propostas que será publicado em outubro de 2017. Ou seja: mesmo em cima das eleições autárquicas, período que pode ser crítico para Passos Coelho e de mudanças na cúpula do partido. Em declarações ao Observador, Pedro Rodrigues começa por explicar que o movimento “não pretende discutir pessoas“, mas sim “reconquistar o centro político, com um discurso virado para a classe média e para os jovens empreendedores”. Mas admite que “como é óbvio pretendemos ser consequentes e que líderes ou candidatos a líderes, quaisquer que sejam, aproveitem as nossas ideias e as nossas propostas“. O ex-líder da JSD, não sendo um opositor declarado a Passos Coelho, é um não-alinhado com a atual direção.

O manifesto sugere que há uma certa apatia do atual PSD e algum unanimismo. O movimento defende que a responsabilidade de devolver esperança aos portugueses “é dos órgãos do partido mas também dos seus militantes”, daí que este grupo — que arranca com 45 pessoas, de diferentes gerações, com representação geográfica dos 18 distritos e das duas regiões autónomas — decidiu não se “remeter ao silêncio”.

Não podemos assistir passivamente aos erros do Governo aguardando que a geringonça destrua a esperança aos portugueses, afetando a capacidade de crescimento de Portugal e consequentemente o nosso futuro coletivo”, escrevem os subscritores deste manifesto.

E o movimento, que já estava a ser preparado há várias semanas — antes ainda de Passos Coelho assumir que apresentará propostas estruturais na discussão do Orçamento do Estado para 2017 (OE2017) –, defende que o PSD não pode “assistir ao sufoco fiscal que o OE2017 propõe sem reagir apresentando alternativas.

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Este grupo de militantes do PSD quer “assumidamente contribuir para suscitar e desenvolver a discussão política” com o propósito de “fortalecer o PSD e recolocar-nos como o partido liderante no panorama político nacional“, pode ler-se no manifesto.

Pedro Rodrigues explicou ao Observador que a ideia é fomentar um “debate mais vivo, mais rico” e que é necessário “apresentar propostas” se o PSD “quiser voltar a ser Governo“. Sobre a natureza deste movimento, Pedro Rodrigues destaca a “pluralidade” no partido e lembra:

Passos Coelho também promoveu uma plataforma de ideias [o Construir Ideias] quando Manuela Ferreira Leite era a líder do PSD.”

Os membros deste movimento querem ser assumidamente alternativa, mas não querem ser visto como oposição ao líder. No manifesto destacam que querem “contribuir para o debate democrático interno, sem se pronunciar sobre a liderança nacional do partido ou sobre as dinâmicas internas do PSD“. O grupo lembra, no entanto, que o partido “sempre construiu a sua unidade na diversidade e não na unicidade.”

Quem são os membros do movimento?

O movimento é composto por 45 pessoas inclui “autarcas, presidentes de comissões políticas de concelhia, atuais e antigos dirigentes nacionais da JSD e do PSD, atuais e antigos deputados e ex-membros do governo“, mas também “militantes que se destacam na sociedade civil no contexto empresarial, universitário e da investigação.”

O movimento é depois liderado por uma comissão executiva. Pedro Rodrigues está no topo do movimento. O antigo líder da JSD, de 37 anos, já foi deputado é advogado e destacou-se na liderança da “jota” no combate ao governo de Sócrates, com campanhas como o “Pinócrates”.

Pedro Rodrigues chegou a concorrer à distrital de Lisboa contra Miguel Pinto Luz (passista) em 2013, tendo mesmo abandonado o cargo de chefe de gabinete de Miguel Poiares Maduro para entrar nessa corrida. Teve do seu lado notáveis, mas perdeu. No final de setembro criticou, em declarações à revista Sábado, a estratégia de Passos para Lisboa, com frases como: “Continuamos a escolher cortinados antes mesmo de elevar os alicerces. Há muita desorientação neste PSD”.

Da comissão executiva fazem ainda parte: André Pardal, ex-deputado e antigo vice-presidente da JSD; Miguel Corte-Real, presidente da JSD/Porto entre 2006 e 2008 e apoiante de Rui Rio; Rubina Bernardo, deputada e uma das “mulheres fortes” do presidente do Governo regional da Madeira, Miguel Albuquerque; Paulo Leitão, atual vereador da câmara municipal de Coimbra e presidente do PSD/Coimbra; Joaquim Biancard Cruz, ex-presidente da distrital de Lisboa- Área Oeste e antigo membro da comissão política nacional de Manuela Ferreira Leite; e ainda João Pedro Gomes, antigo assessor do governo de Durão Barroso.

Como irá funcionar?

A ideia da plataforma “Portugal não Pode Esperar” é promover o debate “através da organização de conferências, debates, workshops e a publicação de papers sobre a situação nacional.”

O movimento definiu três áreas de para atingir os objetivos a que se propõe: Estudos Políticos; Intervenção Política: e Digital e Redes Sociais. O lançamento do movimento é num jantar em Lisboa, que depois se vai replicar — com uma periodicidade mensal –por todos os distritos do país e regiões autónomas. A área de estudos políticos, explica o manifesto, “realizará também eventos mensais, nos quais discutirá temas de interesse nacional e sobre os quais prepará papers” e até setembro e 2017 serão “organizadas três conferências sobre três temas a definir”. Em outubro de 2017 será publicado um livro com a síntese das principais políticas defendidas pelo grupo “Portugal não Pode Esperar”. O timing bate precisamente com as autárquicas, altura em que se espera que haja movimentações no PSD, que ainda serão mais potenciadas caso o PSD tenha um mau resultado. Passos ficará em maus lençóis e quem estiver posicionado, levará vantagem.