Saida Ahmad Baghili tem 18 anos e transformou-se no rosto da fome que está a devastar o Iémen, um país que tem mais de 14 milhões de pessoas em estado de insegurança alimentar. As imagens de Saida, divulgadas esta semana, mostram uma jovem gravemente desnutrida, a quem até as roupas de criança ficam largas. A jovem está neste momento a ser tratada no hospital de al-Thawra, perto da cidade de Al Hudaydah, junto ao Mar Vermelho, e foi lá que foi fotografada e se tornou num ícone de uma guerra esquecida.

“Uma geração inteira pode ser devastada pela fome”, assume o diretor do Programa Alimentar Mundial da ONU no Iémen, Torben Due. Segundo a CNN, o programa tem distribuído comida a mais de três milhões de pessoas por mês desde fevereiro, mas os recursos são cada vez mais escassos. A ONU está, inclusivamente, a dividir os cabazes a meio, para tentar fornecer comida ao dobro das pessoas. “Temos de fornecer uma ração completa a cada família necessidade, mas infelizmente tivemos de reduzir o tamanho do cesto de comida, e dividir a ajuda entre as famílias pobres, para fazer face à necessidade crescente”, lamenta Due.

Saida Ahmad Baghili, an 18-year-old Yemeni woman from an impoverished coastal village on the outskirts of the rebel-held Yemeni port city of Hodeida, where malnutrition has hit the population hard, lies in a bed at the al-Thawra hospital in Hodeidah where she is receiving treatment for severe malnutrition on October 25, 2016. The UN's children agency UNICEF estimates that three million people are in need of immediate food supplies in Yemen, while 1.5 million children suffer from malnutrition. / AFP / STRINGER (Photo credit should read STRINGER/AFP/Getty Images)

Saida Ahmad Baghili no hospital de al-Thawra, perto de Al Hudaydah. (Imagem: STRINGER/AFP/Getty Images)

Saida “está doente há cinco anos. Não pode comer, diz que lhe dói a garganta”, conta a tia, Saida Ali, citada pelo El Mundo. A familiar acrescenta que “o pai não pode assumir os custos de a enviar para que a curem, mas algumas pessoas solidárias ajudaram-na a vir”. O médico que a acompanha conta que a jovem apenas bebe sumo, leite e chá, não conseguindo ainda comer. “Não come nada mas estamos a tratar de a curar. Na zona em que ela vive há mais cinco casos semelhantes. Não têm dinheiro para comprar alimentos”, explica ao El País Maruan al Karim.

O Iémen vive em guerra desde o ano passado, altura em que os rebeldes Houthi tomaram controlo da capital, depondo o governo, que era apoiado pelos EUA. Na sequência deste golpe, foi formada uma coligação de países árabes para tentar devolver o poder ao governo. O conflito está em curso desde então, e o Iémen, um dos países menos desenvolvidos, e o mais pobre do Médio Oriente, enfrenta grave problemas humanitários.

A desnutrição é o principal problema do país, que tem de importar 90% dos alimentos, e que tem uma esperança média de vida de 65 anos. Entre as crianças com menos de 5 anos, 31% estão gravemente desnutridas — há mais de 370 mil crianças malnutridas. O Programa Alimentar Mundial necessitaria de mais de 200 milhões de euros para garantir o acesso de toda a população a uma alimentação equilibrada e, sobretudo, suficiente.

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