Morreu na madrugada deste domingo Bernardino Carmo Gomes, aos 72 anos, um dos 27 socialistas que, a 19 de abril de 1973, participaram no congresso de Bad Münstereifel, na Alemanha, onde foi decidido transformar a Ação Socialista Portuguesa (ASP) em Partido Socialista. O corpo vai estar em câmara ardente na igreja de Santo António do Estoril, este domingo a partir das 19 horas. O funeral realiza-se segunda-feira ao fim da manhã, depois da missa na mesma igreja, às 12h30, o cortejo fúnebre segue para o cemitério de Cascais.

Logo desde esse momento fundador do PS que Bernardino Gomes desempenhou tarefas na área das relações internacionais tendo, por exemplo, sido o delegado do PS à Reunião Internacional para a Segurança e a Cooperação na Europa, realizada em Bruxelas, de 5 a 7 de abril de 1974, ou seja, pouco antes do 25 de abril.

Alfredo Barroso almoçou com Bernardino Gomes há menos de um ano, encontrando o amigo “já muito debilitado” pela doença de que sofria, alzheimer. Recorda que foi um dos fundadores do PS presente na célebre fotografia de Bad Münstereifel e que nessa altura estava exilado na Bélgica. “Era uma pessoa discreta e muito simpática”, diz este fundador do PS ao Observador. Alberto Arons de Carvalho, outro dos fundadores, recorda Bernardino Gomes como “uma pessoa sempre presente”, “muito inteligente, arguto e culto” e que “gostava muito de discutir política internacional”. Encontravam-se sobretudo nos aniversários do PS, num momento em que os fundadores tradicionalmente se reencontram, num almoçou ou jantar convívio a que Bernardino não faltava.

Numa nota enviada à Lusa, “o Partido Socialista apresentou as suas sentidas condolências à família do camarada Bernardino Gomes, compartilhando a sua dor e a sua perda, que é uma muito sentida e importante perda para todos os socialistas portugueses”. O partido informou ainda que a bandeira do Partido será colocada a meia-haste na sede nacional, no Largo do Rato, em Lisboa.

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O PS destaca que Bernardino Gomes desempenhou “um papel tão discreto quanto crucial na instalação e afirmação do PS como uma força de grande influência” em Portugal, mas também para o “reconhecimento internacional” do partido português. Trabalhou “na defesa de uma sociedade democrática e plural em Portugal, numa muito ativa e frutuosa colaboração com Mário Soares, de quem foi sempre um colaborador muito chegado”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, falou de “velha amizade” numa nota publicada este domingo. “O Presidente da República manifesta, com velha amizade, o seu pesar pela morte do Dr. Bernardino Gomes, fundador do Partido Socialista, lutador pela liberdade e democracia, antes e depois do 25 de abril”, lê-se numa nota de Marcelo Rebelo de Sousa publicada na página oficial da Presidência da República.

Em democracia Bernardino Gomes exerceu vários cargos públicos, tendo sido chefe de gabinete de Mário Soares quando este foi primeiro-ministro e administrador da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), onde teve um papel importante na criação e consolidação da sua coleção de arte contemporânea. Licenciado em Ciências Políticas pela Universidade de Lovaina (Bélgica), foi também assessor do Ministério dos Negócios Estrangeiros e investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), da Universidade Nova de Lisboa.

Bernardino Gomes numa conferência na FLAD em outubro de 2015

Bernardino Gomes numa conferência na FLAD em outubro de 2015

Estudioso das relações internacionais, publicou em Carlucci vs. Kissinger – Os EUA e a Revolução Portuguesa, um livro escrito em conjunto com Tiago Moreira de Sá onde se discute a visão e a ação política dos Estados Unidos em Portugal durante a nossa transição democrática, um tempo que Bernardino Gomes viveu por dentro, sendo testemunha privilegiada das relações entre Mário Soares e o então embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, Frank Carlucci, que, ao contrário de Henry Kissinger, então secretário de Estado, sempre acreditou que o líder socialista podia fazer frente e derrotar a tentativa de tomada do poder pelo PCP e pelos radicais de esquerda durante o PREC.

Uma das suas últimas posições políticas públicas foi, juntamente com mais 24 fundadores do PS, a declaração de apoio à candidatura de António Costa à liderança do partido, em 2014.

O corpo de Bernardino Gomes estará em câmara ardente na Igreja de Santo António no Estoril a partir das 18h00 deste domingo, realizando-se a missa de corpo presente na segunda-feira pelas 12h00, seguindo depois o funeral para o cemitério de Cascais.