Joshua Coombes é um cabeleireiro solidário de Londres. Corta o cabelo aos sem-abrigo sem cobrar uma libra, por amor à sua arte e para ajudar os mais vulneráveis. Em troca, ouve as suas incríveis histórias.

Paul, por exemplo, de 54 anos, vive há cinco anos na rua. Era mecânico mas perdeu tudo o que tinha. Tem um sorriso contagioso, mas o cabelo emaranhado e a barba branca davam-lhe um ar assustador. Joshua Coombes convenceu-o a cortar o cabelo e a aparar a barba. “Deixa nas minhas mãos, sei do que precisas”. E, num piscar de olhos, surge um novo Paul. Admirado, finta para o espelho com ar de surpresa. “Este sou eu?” perguntou.

“O corte devolveu-lhe a dignidade, a autoestima e a confiança”, recorda Joshua Coombes, o cabeleireiro dos sem-abrigo das ruas de Londres.

Paul reconheceu no espelho o homem que era antes de coisas lhe começarem a dar errado. Mas tão importante ou mais foi a outra parte: a ligação humana que se estabelece nesse momento em que podes devolver a esperança numa vida melhor.”

Um corte de cabelo pode mudar uma vida. Centenas de cortes de cabelo grátis, àqueles que mais precisam, podem fazer algo mais se tornar-se um movimento global de gestos altruístas. Isso é o que Joshua Coombes pretende com o movimento #DoSometingForNothing onde estão histórias como esta.

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Joshua tem 29 anos e já foi roqueiro. Decidiu seguir o exemplo de outros, espalhados pelo mundo, e tornar-se um cabeleireiro solidário. “Somos já uns quantos cabeleireiros a tentar marcar a diferença, mas a nossa ideia é ir mais além e envolver tantas pessoas quanto possível no #DoSomethingforNothing nas redes sociais”, diz Joshua.

Faz algo sem esperar nada em troca… Cozinha por nada, ensina por nada, leva comida aos que precisam ou uma chávena de café quente. Saí de casa e entra em ação. Se queres mudar o mundo, começa por mudar alguma coisa ao virar da esquina…” pede Joshua através do movimento que criou.

O cabeleireiro mudou-se há alguns meses para Brixton, no sul de Londres. Trabalha a tempo parcial num café e ganha a vida a cortar cabelo em casa, mas o que o apaixona são as suas incursões esporádicas, com as suas tesouras, a lugares tão díspares como o túnel de Charing Cross, em Londres, ou o Victoria Square, em Atenas, onde corta o cabelo às pessoas que vivem na rua.

A viagem mais gratificante da minha vida… Montei o salão no meio da praça e os refugiados correram para lá. Cortava cabelos sem parar, de manhã à noite. Lembro-me dos rostos de cada um deles. Refugiados do Afeganistão e da Síria. Enquanto rompes barreiras, cresce um sentimento de empatia. Descobres uma conexão com os outros, não importa de onde eles vêm, recuperas a fé na condição humana”.

Lembra-se como se fosse ontem o seu encontro com Darak, um dos seus primeiros clientes de rua. Darak tinha sérios problemas de dependência e há meses que estava sem teto. “Desde o primeiro corte de cabelo que comecei a notar uma mudança nele“. Cada vez que o cabeleireiro solidário agarrava na tesoura, Darak dava-lhe conta dos seus progressos. Entrou na reabilitação, arranjou trabalho e uma namorada. O otimismo fez milagres por ele.

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Outro corte especialmente emotivo foi o do seu segundo cliente. Joshua não se conseguiu conter e desfez-se em lágrimas a meio do trabalho.

Contou-me que o tinham atacado horas antes por querer proteger um amigo. Ficou com o corpo e a cara cheia de hematomas. Eu não podia fazer muito mais do que cortar-lhe o cabelo e ouvi-lo, mas acho que foi o suficiente… Ainda me recordo do seu ar feliz no final, e como me abraçou em sinal de agradecimento.

Com as mulheres a história é diferente. São mais sensíveis e para elas um simples corte de cabelo é “algo importante”.

Angie, 38 anos, vive na rua desde que era adolescente. A adição corre na sua família, era inevitável… E apesar de todas as dificuldades, tem uma alegria vital que se intensifica no momento em que se vê penteada, pela primeira vez em um ano. “É muito raro que alguém repare em nós e muito menos que se ofereçam para nos ajudar“.

Já Michelle perdeu o marido há quatro anos e entrou numa espiral emocional que a levou ao consumo de álcool e drogas. Agora, tenta “juntar os cacos” e curar-se. “Mas a luta é dura”, garantiu a Joshua. A sua expressão triste altera-se à medida que o penteado avança. Olha para o espelho feliz com o resultado.

Normalmente somos invisíveis, mas hoje sinto que as pessoas podem finalmente ver-me.

Estes são pequenos/grandes gestos de agradecimento que Joshua leva no coração e que se acumulam no seu Instagram, como um grande álbum familiar que continua a crescer.

A minha intenção é humanizar as histórias, dar-lhes um rosto e um nome, e levar outros a que façam o mesmo. Às vezes temos a sensação de que os problemas são demasiado grandes e que não podemos fazer nada para resolvê-los. O que temos de fazer é minimizar o problema, sair ao encontro das pessoas vulneráveis mais próximas, falar com elas, reconhecê-las e respeitá-las, e se possível estender-lhes a mão”.

O seu projeto é absolutamente inspirador e demonstra o muito que se pode fazer por alguém com algo tão simples como um corte de cabelo. “Não queremos despertar consciências, mas despertar compaixão” afirma Joshua.

As organizações de caridade são muito boas e cumprem a sua função, mas todos podemos fazer algo mais… Não sou religioso, mas acredito na condição humana e na energia especial que nos une. E acho que chegou o momento de converter essa energia em ação, onde quer que estejamos.