João Wengorovius Meneses garante que o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, interferiu no seu trabalho ao “exigir demissões” e ao “impor chefes de gabinete”. Numa entrevista exclusiva à SIC e ao jornal Expresso, transmitida esta sexta-feira durante o jornal da noite, o ex-secretário de Estado da Juventude e do Desporto voltou a dar a entender que Brandão Rodrigues tentou impedir a exoneração de Nuno Félix, admitindo que estes se reuniam “quase diariamente”.

“O senhor ministro, em primeiro lugar, não respeitou de todo a minha autonomia e soberania como membro do Governo, como secretário de Estado, ao exigir demissões, ao impor chefes de gabinete e ao interferir na substituição de um chefe de gabinete”, afirmou Wengorovius Meneses, salientando que sempre houve um “excesso de interferência” por parte de Tiago Brandão Rodrigues.

Como exemplo, João Wengorovius Meneses relatou o caso de uma adjunta para a área da juventude, que foi exonerada sem grandes explicações. A certa altura, contou Wengorovius Meneses, foi apontada a “questão de lealdade política”, tendo sido dado a entender que existia algum “desconforto” por parte da Juventude Socialista. Segundo o ex-secretário de Estado, era comum que o ministro consultasse “terceiros” antes de tomar determinadas decisões. Sem especificar quem seriam estes “terceiros”, Wengorovius afirmou que “um político é alguém que tem de conciliar várias variáveis e vários interesses, não sejamos ingénuos”.

“Da minha interpretação, o ministro nunca chega a dizer que não sabe”

Relativamente à nomeação de Nuno Félix para chefe de gabinete, Wengorius Meneses explicou que esta aconteceu porque o ministro queria “ter alguém, um elo de ligações entre nós, que fosse alguém que conhecesse bem”. Relatando que o chefe de gabinete se reunia “quase diariamente” com o ministro no seu gabinete, o que considerava ser exagerado, o ex-secretário de Estado contou que Félix costumava ausentar-se em demasia da secretaria de Estado, facto que o levou a querer substituí-lo por “outra chefe de gabinete”. Além disso, ter-se-á apercebido de que “ele não tinha preparação para o exercício da função” e que “não havia lealdade à prova de bala” em relação a si.

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Mas isso nunca chegou a acontecer. Voltando a dar a entender que Tiago Brandão Rodrigues interferiu na exoneração de Nuno Félix, o ex-secretário de Estado relatou que, depois de uma troca de emails com o ministro, este tentou adiar uma decisão relativa à nomeação de uma nova chefe de gabinete afirmando, inclusive, que a mulher de Félix estava internada.

“Penso que o ministro o quis segurar pela mesma razão que o nomeou, porque tinha confiança nele”, disse, acrescentado que “o ministro chegou inclusive a sugerir que ele fosse membro do Conselho Superior de Desporto. Eu entendi que ele não tinha esse perfil.”

“Desiludiu-me por não confirmar a sua independência”

Sobre o caso da falsa licenciatura, João Wengorius Meneses preferiu não especular se o ministro sabia ou não. “Nunca disse ao Observador que o ministro sabia”, frisou. “Não especulo em público sobre o que sabia ou não sabia. A situação era: o chefe de gabinete, Nuno Félix, e o ministro eram amigos. Ele foi-me indicado pelo ministro. Quem o conhecia em melhor detalhe era o ministro.”

Apesar disso, Wengorius Meneses deixou escapar que, segundo a sua interpretação, “o ministro nunca chega a dizer que não sabe”. “Diz é que não sabia do erro do despacho”, afirmou, acrescentado logo de seguida que não sabe e que não quer “especular sobre isso” por não ser “uma questão relevante” para si.

Questionado sobre o ministro da Educação, o antigo secretário de Estado confessou que pensou que este fosse “um refrescamento da política portuguesa — alguém jovem, com uma carreira com todo o mérito e com algum caráter independente”. Qualidades que acabou por não encontrar em Brandão Rodrigues. “Desse ponto de vista, desiludiu-me — por não confirmar a sua independência de espírito e um conjunto de valores que considero essenciais.”

Esta sexta-feira, Tiago Brandão Rodrigues lamentou publicamente que João Wengorovius Menezes tenha feito parte do Governo. “Não posso contornar que o Dr. João Menezes foi meu secretário de Estado. O que tem acontecido é a prova de que o Dr. João Menezes não tinha lugar neste Governo”, afirmou.