Os organizadores do Lisbon & Estoril Film Festival (LEFFEST) pediram a Monica Bellucci que escolhesse um dos seus filmes para uma sessão especial e ela decidiu-se por Malèna (2000), de Giuseppe Tornatore, exibido este sábado à tarde no Cinema Monumental.

Estava lançado o tema para a conferência de imprensa com a atriz italiana que decorreu antes da projeção naquela sala lisboeta.

Acompanhada pelo produtor Paulo Branco, mentor do festival, Monica Bellucci surgiu com timidez, disponível para todas as perguntas dos jornalistas. Mostrou-se uma conversadora de talento.

“Por vezes, uma atriz não sabe aquilo que procura”, começou por dizer. “Ao fim de 25 anos como atriz começo a perceber melhor aquilo que procurava. Para mim, é como se houvesse uma continuidade entre Malèna e On The Milky Road. Claro que pelo meio houve Matrix, Irreversível, muitos filmes, mas acho que também para mim, como atriz, há essa continuidade. Ando à procura. Talvez daqui a dez anos já saiba mais sobre aquilo por que procuro”, refletiu Monica Bellucci, referindo-se a algumas obras que protagonizou, incluindo o mais recente filme de Emir Kusturica, On The Milky Road, que passa no festival no próximo sábado, dia 12, com a presença do realizador.

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[trailer de “Malèna”, de Giuseppe Tornatore]

À pergunta sobre o que procurava há 16 anos, quando entrou na longa-metragem de Tornatore, a atriz ofereceu uma resposta intimista.

“O filme passa-se na II Guerra, um momento da história em que as mulheres não têm direitos e não conseguem sobreviver sem os homens. É um momento histórico muito distante de agora em algumas partes do mundo, mas noutras nem tanto. Naquela altura não sabia o que procurava, talvez agora saiba melhor. Ando à procura do poder da feminilidade, o poder no sentido em que a feminilidade pode ser o amor universal. Por vezes, os realizadores dão-me papéis com estas características. A feminilidade pode ser algo muito frágil e muito forte ao mesmo tempo.”

Num espaço improvisado – o andar acima da cafetaria do Monumental, com o ruído da máquina do café, das loiças e dos clientes – Monica Bellucci teve dificuldade em ouvir as perguntas e os jornalistas nem sempre conseguiram ouvi-la.

A conversa durou cerca de 20 minutos, tempo suficiente para a atriz e antiga manequim falar sobre a carreira e a vida pessoal, a recente aproximação a Lisboa e o desejo que tem de filmar em Portugal.

Aos 52 anos, entende que a indústria do cinema tem hoje “uma nova forma de olhar as mulheres”. “A beleza da juventude dura algum tempo e depois aparece outro tipo de beleza, aceitar a essa mudança é algo muito bonito”, disse.

“Grandes atrizes italianas tinham uma beleza extraordinária e um talento enorme, mas a partir de certa idade já não conseguiram trabalhar. Hoje há uma nova forma de olhar as mulheres atrizes, também se procura a beleza interior. E isso também se relaciona com o trabalho de atriz, porque é uma beleza que vem da alma, do facto de a pessoa se sentir bonita.”

Monica Bellucci não sabe explicar o que a leva a escolher entrar num filme. “Há um aspeto racional. Ou porque gosto do argumento ou porque gosto de trabalhar com um certo realizador. Depois há lado completamente inconsciente.” No caso de On The Milky Road, os motivos foram mais fáceis de explicar. “Queria trabalhar com Emir, adoro o cinema dele, é uma pessoa sensível, acho que por dentro é um poeta, embora pareça rude.”

O filme teve estreia absoluta no último Festival de Veneza e é primeira longa-metragem de Kusturica em nove anos. O próprio contracena com Monica Bellucci, numa história de amor durante a Guerra dos Balcãs.

Para este papel, a atriz teve de aprender sérvio, o que ao início lhe pareceu uma tarefa difícil. De resto, Monica Bellucci é conhecida por falar fluentemente vários idiomas.

[trailer de “On The Milky Road”, de Emir Kusturika]

https://www.youtube.com/watch?v=LcSGNDIB1pY

Quando lhe perguntaram se quer filmar em Portugal, até porque recentemente comprou uma casa em Lisboa, na zona do Castelo, a atriz respondeu que “gostaria muito”, ao mesmo tempo que olhava para Paulo Branco, que é produtor.

“Já vivi em muitos lugares, sou um pouco nómada. Neste momento vivo em Paris, mas quero conhecer melhor Portugal. Vim aqui pela primeira vez há 14 anos, em férias, e pensei logo que um dia iria comprar casa. Nem sempre sabemos explicar por que gostamos dos lugares.”

Um aspeto que a deixa surpreendida é a “cortesia” dos portugueses com quem contacta. “Parece incrível, mas sempre que vou a um restaurante, ou assim, as pessoas não pedem para tirar fotografias comigo. Falam, dizem que estão felizes por eu estar ali. Não tenho problemas em tirar uma foto ou dar autógrafos, mas fico maravilhada com esta atitude.”

Houve ainda tempo para a ouvir dizer que não tem interesse em tornar-se realizadora. “Tenho demasiado respeito pelo trabalho de realização”, justificou. E para a ouvir referir-se à participação na série da Amazon TV Mozart in the Jungle. “A ópera leva-me às lágrimas”, revelou.