As autoridades italianas ainda não enviaram para Lisboa as provas apreendidas, em Roma, ao agente de Moscovo a quem o espião Carvalhão Gil estaria, alegadamente, a vender informações secretas sobre o país e a NATO, quando foram apanhados, em flagrante delito, em maio deste ano. A notícia é avançada, esta terça-feira, pelo Diário de Notícias, que acrescenta que este atraso poderá colocar em risco a acusação de espionagem ao espião português.

Terá sido este atraso a motivar os procuradores que estão com o caso a requerer, ao Tribunal Central de Investigação Criminal, uma declaração de “excecional complexidade”, por forma a conseguirem mais tempo para concluir a acusação. Tendo em conta os crimes em causa — espionagem, violação de segredo de Estado, corrupção e branqueamento — o prazo pode ser estendido até 10 meses, terminando assim a 23 de março do próximo ano.

O DN diz ainda que o “mal estar” causado pelo atraso no envio destas informações ao Ministério Público se agrava porque Itália libertou, em julho, Sergey Nicolaevich Pozdnyakov, sem dar autorização para o que mesmo fosse interrogado pelas autoridades portuguesas. Esta libertação também terá sido mal vista por alguns países da NATO.

Questionada pelo mesmo jornal, a Eurojust, que apoiou a operação, respondeu que “as autoridades judiciais italianas e portuguesas – com o apoio da Eurojust – têm, até agora, colaborado prontamente para resolver este processo”. “As autoridades italianas tomaram e justificaram as suas decisões respeitando a sua legislação e procedimentos jurídicos e comunicaram-nos às autoridades portuguesas”, rematou, sem se pronunciar sobre o atraso no envio das provas apreendidas em Roma.

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Carvalhão Gil está, desde junho, em prisão domiciliária, com pulseira eletrónica. O funcionário do Serviço de Informação e Segurança (SIS) é suspeito de transmissão de informações a troco de dinheiro a um agente dos serviços de informações russos, estando em causa crimes de espionagem, violação do segredo de Estado, corrupção e branqueamento de capitais.

O Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP) informou, na altura, que a detenção de Carvalhão Gil foi o culminar de um “período de averiguações internas, desencadeadas por terem sido detetados indícios de comprometimento de atividade operacional na área da contraespionagem, e do apoio prestado pela cooperação internacional” que tornou possível recolher “elementos seguros sobre a realização de encontros clandestinos no estrangeiro entre um funcionário do Serviço de Informação e Segurança (SIS) e um outro de um serviço de informações estrangeiro”.

De acordo com a versão apresentada por Carvalhão Gil, o encontro com o espião russo serviria para criar uma empresa de exportação de produtos portugueses e os documentos relativos à NATO estavam dentro da sua mochila para que o espião português os pudesse estudar mais tarde. Explicações que não convenceram as autoridades portuguesas.