O Instituto Português de Oncologia de Lisboa, em conjunto com a Livros Horizonte, elaborou uma agenda para 2017, cujas vendas vão reverter integralmente para o Serviço de Pediatria. Com ilustrações de João Vaz de Carvalho, a IPO Agenda Solidária 2017 estará à venda a partir de quarta-feira, dia 9.

O montante angariado destina-se à aquisição de alguns equipamentos que permitam melhorar a qualidade de vida dos doentes e à melhoria e remodelação das instalações do Serviço de Pediatria”, explicou ao Observador, fonte oficial do IPO de Lisboa. Desses equipamentos pode-se destacar, por exemplo, um visualizador de veias que evita que as crianças com veias ocultas sejam picadas em vários sítios.

Esta agenda, que será apresentada oficialmente pelo Presidente da República a 23 de novembro, conta com a colaboração de 12 figuras públicas portuguesas que se disponibilizaram a contar as memórias mais marcantes das suas vidas: Marcelo Rebelo de Sousa, Catarina Furtado, Nuno Markl, Afonso Cruz, Clara de Sousa, Margarida Pinto Correia, Boss AC, Victoria Guerra, Marisa Matias, Sobrinho Simões, Elvira Fortunato e Sandra Correia.

O Presidente da República foi o primeiro a enviar o testemunho. Marcelo Rebelo de Sousa recuou 61 anos para contar o episódio que mais o marcou até hoje. Tinha seis anos e foi duas vezes ao bairro de lata lisboeta Casal Ventoso, com a mãe, que era assistente social e acompanhava crianças portadoras de deficiência. “No Casal Ventoso, em ambiente de pobreza brutal, a situação daquelas crianças era dramática. Lembro-me bem do que me impressionaram as crianças, as barracas, a falta de água e de esgotos.”

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Já Sobrinho Simões recorda a morte da empregada e governanta Brígida. Tudo aconteceu na casa da família do investigador que lembra como ficou impressionado com “a solenidade do processo que envolveu avós, tios e pessoal”. Sobrinho Simões aproveita a memória para sublinhar como com o passar dos anos se assistiu a uma “desqualificação da morte, que se tornou distante, hospitalar, desligada da família e dos amigos”.

A eurodeputada Marisa Matias sinaliza o dia em que, com três anos, viu chegar os pais, vindos da maternidade, com o irmão ao colo. “Não me lembro de nada do que se passou a seguir. A minha primeira memória é de uma chegada. De um encontro. Um encontro para a vida. O dia em que chegou o meu irmão. O meu menino. Até hoje.”

E Catarina Furtado destaca uma memória triste: quando assistiu, na Guiné-Bissau, ao trabalho de parto de uma mulher que acabou por não resistir, por falta de condições.

Pediatria do IPO tem contado com vários donativos

Não é a primeira vez que a instituição beneficia de donativos. Segundo o gabinete de comunicação do IPO, há um ano o hospital desenvolveu uma parceria com o Santander Totta, que resultou num donativo de 30 mil euros para ajudar a ampliação e requalificação do Hospital de Dia do Serviço de Pediatria. A verba foi alcançada graças a “uma ação de Natal interna do Banco, que convidou todos os colaboradores a apoiar esta causa através da compra de um kit de 12 etiquetas autocolantes, feitas com desenhos de crianças tratadas no Serviço de Pediatria”.

Ainda segundo a mesma fonte, também no final do ano passado, a bloger Pipoca mais Doce doou 51.700 euros, a fatia mais significativa do conjunto de donativos recebidos pelo hospital e que permitiu pagar as obras efetuadas já este ano no Hospital de Dia Pediátrico, num total de 100 mil euros.

O IPO é de facto um hospital diferente. O IPO é muito acarinhado pelos seus doentes, familiares e cidadãos anónimos, dos quais recebemos regularmente donativos de pequeno montante”, remata o gabinete de comunicação do hospital.

O serviço de pediatria do IPO, criado em 1960 por António Gentil Martins, é o maior e mais antigo do país e é o Centro de Referência Nacional. Por ser o único centro oncológico pediátrico da zona sul do país, o IPO de Lisboa recebe crianças não só de Lisboa e Vale do Tejo, mas também do Ribatejo, Alentejo, Algarve, Açores, Madeira e PALOP. Todos os anos chegam ao serviço cerca de 190 casos de cancro pediátrico e são tratadas 400 crianças.

Atualmente, um em cada 600 adultos jovens teve cancro infantil. A taxa de cura ronda os 80%.