Barack Obama e Donald Trump encontraram-se esta quinta-feira pela primeira vez desde a eleição do republicano como 45º Presidente dos Estados Unidos. Depois de um encontro que durou cerca de 90 minutos, os dois aproveitaram a breve conferência de imprensa para trocar palavras cordiais — Trump chegou mesmo a dizer ter “grande respeito” por Obama. O momento é de unir o país e enterrar os machados de guerra, depois de uma campanha violenta. Esse foi o sinal que os dois quiseram passaram. Mas nem sempre foi assim. Longe disso. Muito longe disso.
Apesar da diferença evidente no tom que marcou o encontro entre Presidente e Presidente eleito, Obama e Donald Trump nunca tiveram grande pudor em trocar críticas em público. O homem que liderou os destinos da Casa Branca nos últimos oito anos foi criticado, de resto, por se ter envolvido diretamente na campanha de Hillary Clinton. Na história da rivalidade entre os dois há um momento curioso: em 2011, ainda antes de alguém imaginar sequer este cenário, com Trump entre os convidados, Obama aproveitou o jantar anual de correspondentes para gozar com o multimilionário. O jornal britânico The Independent recorda o episódio e dá-lhe o título indicado: “Este é o momento de que Barack Obama se vai arrepender para o resto da vida?”.
As piadas de Obama tinham uma razão de ser. Donald Trump foi um dos principais impulsionadores de uma campanha que colocava em causa o local de nascimento de Barack Obama. O multimilionário sugeriu durante muito tempo que o ainda Presidente norte-americano tinha nascido no Quénia e que tinha forjado a certidão de nascimento. A CNN fez mesmo uma lista das vezes em que Trump insinuou que Obama não era, de facto, norte-americano. Pior: tweetou de forma insinuante que o funcionário que verificou a certidão de nascimento de Obama foi a única vítima de um acidente de avião: “Todos os outros sobreviveram”, escreveu.
An 'extremely credible source' has called my office and told me that @BarackObama's birth certificate is a fraud.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) August 6, 2012
How amazing, the State Health Director who verified copies of Obama’s “birth certificate” died in plane crash today. All others lived
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 12, 2013
Começava aí uma relação que se foi tornando mais tensa sobretudo depois de Trump entrar na corrida presidencial. De Barack Obama, o futuro Presidente dos Estados Unidos Donald disse quase tudo. “Obama é o pior Presidente da história dos Estados Unidos”? Check. Obama é um “líder fraco” e “incompetente”? Check. Obama é um “desastre”? Check. Obama é o “fundador do Estado Islâmico”? Check, check and check.
Barack Obama contratacou. Na última fase da corrida presidencial, o Presidente norte-americano quebrou a tradição de alguma equidistância que tem pautado o papel tradicional dos últimos presidentes durante o período eleitoral. Chegou a dizer que Trump não tinha condições para assumir o cargo porque liderar os Estados Unidos era “um trabalho a sério”; que Trump não servia sequer para gerir um supermercado; ou, ainda, que o republicano era uma ameaça aos direitos civis, duramente conquistados no país e no mundo.
Agora é tempo de virar a página e assegurar uma transição pacífica, vai insistindo Barack Obama. Mesmo que o porta-voz da Casa Branca tenha feito questão de dizer que o ainda Presidente dos Estados Unidos mantém a sua visão sobre Trump — isto é, que o republicano não está preparado para assumir o cargo –, Obama terminou a reunião prometendo tudo fazer para que o Presidente eleito possa ser bem-sucedido.
Donald Trump, por sua vez, não só admitiu que tinha sido uma “grande honra” encontrar-se na Sala Oval com Obama, como disse estar ansioso por novas reuniões. E ainda soltou no fim: “[Obama] é um grande homem”.