Dificuldades na entrada para o MEO Arena, falhas no Wi-Fi e políticos “cronicamente atrasados” não escaparam às centenas de meios de comunicação internacionais presentes na Web Summit. Mas a dinâmica empreendedora da capital também não passou ao lado da imprensa estrangeira por estes dias. Estão mais de 53 mil pessoas a participar na Web Summit.

Se ao longo dos últimos anos, a imprensa internacional tem olhado com pessimismo e preocupação para a situação económica portuguesa, as atenções voltam-se agora para Lisboa, como a cidade que acolhe o maior evento de tecnologia e inovação da Europa. Mais de 2 mil jornalistas chegaram à capital para a conferência que é considerada a “Davos dos geeks”. A Web Summit tornou-se, em poucos anos, no evento europeu de referência no que toca à tecnologia, inovação e empreendedorismo.

Nos EUA, a Bloomberg descreve a realização da conferência em solo lusitano como uma “vitória para Portugal”, para um país que “ainda está a recuperar depois da crise da dívida soberana e da recessão que deixaram a taxa de desemprego jovem próxima dos 30%”.

A presença de milhares de investidores e líderes mundiais em tecnologia é vista como uma oportunidade para “reforçar o investimento e criar empregos que são tão necessários neste país do sul da Europa”. A publicação americana toma como exemplo a Farfetch, o “unicórnio” [empresa avaliadas em mais de mil milhões de dólares] português, com sede em Londres, que tem “mais de metade dos seus 1.200 funcionários” a trabalhar no Porto, Guimarães e Lisboa e que “pretende contratar mais 100 pessoas em Portugal”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Bloomberg afirma ainda que a conferência “vai gerar cerca de 200 milhões de euros para a economia de Lisboa, através de reservas de hotéis, restaurantes, viagens de táxis”, segundo dados da Associação de Turismo de Lisboa. No ano passado, foram criadas 37.924 novas empresas, “o maior número desde 2007, de acordo com a Dun & Bradstreet, salientando que o “o emprego melhorou mais do que o inicialmente previsto pelo governo para este ano, ao contrário da economia endividada, que deverá crescer menos do que em 2015”, explica o site.

Depois da mudança do certame de Dublin para Lisboa, por falta de infraestruturas, transportes e Wi-Fi capazes de sustentar o evento na capital irlandesa, as comparações são inevitáveis. No “duelo”, Lisboa parece sair a ganhar. O jornal The Irish Times começa por destacar a capacidade das instalações do Meo Arena e da Feira Internacional de Lisboa (FIL), o clima e a variedade dos transportes: metro, autocarros, Uber.

A maldição do Wi-Fi não escapa aos media

O Wi-Fi tem sido “a maldição da Web Summit nestas sete edições, desde que começou como uma pequena conferência de 400 pessoas em Dublin”, escreve o Irish Independent, sem deixar passar em branco o incidente com a ligação à internet na cerimónia de abertura com o primeiro-ministro português. A falha no Wi-Fi na abertura da Web Summit também não passou despercebida ao The Irish Times que, no entanto, fez questão de referir que a situação parecia “mais positiva do que nos anos anteriores” (os problemas com o Wi-Fi irlandês foram um dos motivos que levaram Paddy Cosgrave a querer mudar a Web Summit de sítio).

A “gloriosa cerimónia de abertura”, na segunda-feira, escreve a emissora irlandesa RTÉ, contou com uma assistência de 15 mil pessoas dentro do Meo Arena. Mas não esteve livre de “rumores de descontentamento”, por parte de mais de três mil espectadores que não conseguiram entrar na área do palco principal, que já estava cheio, e que tiveram de assistir à cerimónia, a partir de um ecrã que foi colocado na parte exterior do pavilhão, nota o The IrishTimes.

Sobre o primeiro dia de conferências, na terça-feira, o jornal irlandês destaca o “começo positivo” da Web Summit após o “soluço inicial”. E começa por referir a “diversidade” nos painéis de conferências que incluem “estrelas do desporto a representantes do Wikileaks”, enquanto “carros elétricos e robots de café circulam pelo Meo Arena e pela FIL”.

A publicação nota ainda o “bom contacto” das startups com os investidores, “o mais importante” para muitas delas, esperando que lhes aconteça o que se passou com Travis Kalanick, fundador da Uber, quando, em 2011, encontrou Scott Stanford, fundador do Sherpa Ventures, num pub depois da Web Summit e conseguiu um financiamento de 37 milhões de dólares.

O anúncio do primeiro-ministro, António Costa, na segunda-feira, de um investimento de 200 milhões de euros do Estado num programa de coinvestimento para empresas inovadoras que precisam de capital de risco mereceu o destaque do Irish Examiner, assim como do site de tecnologia americano Venture Beat. Os mais de três mil participantes irlandeses não deixaram de fazer “comparações duras” entre o anúncio do governo português face à “incapacidade do governo irlandês em manter a conferência no país”, observa a publicação.

O Irish Examiner refere ainda que as “impressões gerais da conferência de tecnologia foram positivas, particularmente em comparação com os engarrafamentos e os preços exorbitantes dos hotéis nos últimos dois anos, em Dublin”. Assim como as “ruas estreitas e os bares convidativos” do Bairro Alto, onde se juntam os conferencistas depois de um longo dia.

Paddy Cosgrave, “o rabugento”

O destaque da agência de notícias Reuters foi para o investimento de 400 milhões de euros da Comissão Europeia para ajudar a criar e a escalar as startups europeias e para impedir que os unicórnios” [empresas avaliadas em mais de mil milhões de dólares] saiam da Europa para os Estados Unidos, explicou o comissário europeu com a pasta de inovação e investigação, Carlos Moedas, na terça-feira, na Web Summit. A União Europeia vai financiar 25% do total, enquanto o restante é avançado por parceiros privados, o que significa investimentos adicionais de capital de risco até 1,6 mil milhões de euros na inovação das empresas europeias.

Na Alemanha, diz-se que na Web Summit Lisboa tudo gira à volta do “networking e de fazer contactos”, escreve o Deutsche Welle. E não livra Paddy Cosgrave da fama de “rabugento”. Isto porque teve de esperar pelos “políticos portugueses que parecem estar cronicamente atrasados” e que fizeram o “big boss” da Web Summit ter de reajustar a agenda do primeiro dia. Farpas à parte, no site pode ainda ler-se que os media internacionais têm comparado Lisboa com Silicon Valley (o maior centro de alta tecnologia dos EUA), enquanto o governo continua a enumerar as vantagens de acolher a cimeira “numa Europa em crise”.

A Web Summit decorre em Lisboa até quinta-feira. Estão mais de 53 mil pessoas, de 166 países, a participar naquela que é a maior conferência de empreendedorismo e tecnologia da Europa e que se realiza pela primeira vez fora de Dublin.

Editado por Ana Pimentel