Dos 91 comerciantes que estão atualmente no interior Mercado do Bolhão, 60 já comunicaram à Câmara Municipal do Porto (CMP) que querem continuar, apesar da saída forçada durante dois anos devido às intervenções de reabilitação, e de algumas mudanças nas regras do que poderão vender nas suas bancas. As obras deverão começar em 2017 e o concurso público deverá ser lançado “nos próximos dias”, avançou esta terça-feira Rui Moreira, em reunião de Câmara. Vencerá quem apresentar o preço mais baixo.

15 comerciantes decidiram deixar o Mercado do Bolhão e 16 ainda não decidiram o que fazer do futuro, revelou a arquiteta Cátia Meirinhos, do Gabinete do Mercado do Bolhão. Em julho, de um total de 129 comerciantes, dois decidiram cessar a atividade. Questionada pelo vereador da CDU Pedro Carvalho sobre quais os motivos apresentados pelos 17 desistentes até ao momento, a arquiteta respondeu que quase todos falam da idade avançada e a falta de familiares a quem possam passar as suas bancas. De acordo com o Gabinete, a média da idade dos comerciantes que ali trabalham é de 67 anos e mais de metade está no mercado há mais de três décadas.

Seguem-se agora as entrevistas aos 36 comerciantes que operam nas lojas exteriores, adiantou a arquiteta ao Observador. As decisões sobre quem quer ficar e quem quer sair deverão saber-se “até ao final do ano”. Até ao momento, do total de 129 comerciantes, o gabinete tem 46,5% de respostas positivas.

“Muitos comerciantes estão a solicitar a transmissão de titularidade”, acrescentou Cátia Meirinhos. A passagem do negócio para familiares diretos, como cônjuges ou filhos, tem isenção de taxas. No entanto, muitos dos pedidos têm chegado de outros familiares, como netos, ou funcionários. “Até ao regresso do mercado requalificado”, o Gabinete propôs que haja isenção de taxas também para estes casos, medida que foi bem acolhida pelos vereadores.

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No primeiro trimestre de 2017, os resistentes vão mudar-se para o piso -1 do centro comercial La Vie Porto, junto à estação de metro do Bolhão, onde permanecerão durante dois anos. Os horários e as regras de funcionamento serão os mesmos que têm atualmente no mercado, não estando obrigados a cumprir os horários de centro comercial. Com o anúncio da intervenção, Sérgio, um dos comerciantes que pediu a palavra na reunião, lamentou as quebras “entre 40% e 60%” que os comerciantes já vão sentindo por haver quem pense “que o mercado já está fechado” e, apesar de se mostrar favorável ao projeto para o novo Mercado do Bolhão, teme também que a nova localização afaste os clientes.

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O La Vie, antigo centro comercial Plaza, será a moada dos comerciantes do Bolhão durante dois anos. © Divulgação

Para evitar que os clientes desapareçam e que o hábito de frequentar o mercado se perca, Nuno Santos, responsável pela comunicação da autarquia, anunciou que o Bolhão terá “a maior aposta deste e do próximo mandato”, em termos de comunicação. “Se fosse um projeto comercial, o investimento em comunicação demoraria mil anos a ser amortizado”, disse, sem revelar o valor do investimento.

Modelo de gestão? “Vai ser gerido pela Câmara do Porto”

Ao todo, a recuperação e modernização do Bolhão vai custar 27 milhões de euros. A ideia é manter a identidade tradicional e de frescos, com as bancas a ficarem no piso inferior e a céu aberto. No piso superior do mercado, com entrada pela rua Fernandes Tomás, vai manter-se a parte comercial e instalar-se-ão restaurantes. “Tivemos muita preocupação com os comerciantes”, referiu o presidente da CMP, lembrando que foram poucos os que se mantiveram ao longo dos últimos anos.

Em 2019, quando o renovado Bolhão abrir, as regras serão mais apertadas. “Refazendo o mercado de frescos, já não poderemos permitir que eles vendam souvenirs, que era como [muitos comerciantes] sobreviviam”, sublinhou Rui Moreira, reconhecendo que, com as dificuldades, muitos comerciantes de frescos passaram a vender artigos para turistas, sem que a autarquia tivesse tentado impedi-los. Tal não será possível num futuro próximo.

O concurso público para as obras será aberto “nos próximos dias” e o gabinete vai avaliar vários critérios, como a capacidade técnica e financeira das empresas que vão concorrer. Entre os requisitos estão experiência prévia de três obras dos últimos 10 anos com um orçamento superior a 10 milhões de euros; o cumprimento de pelo menos duas subcategorias relativamente a trabalhos de betão armado, estruturas metálicas e restauros. A componente de restauro “é muito importante para o Bolhão”, sublinhou Cátia Meirinhos, pelo que será um fator fundamental. A obra terá a duração de dois anos mas, oito meses antes, os novos comerciantes deverão poder ter acesso aos seus restaurantes e lojas, para que possam reabilitá-los a seu gosto e às suas custas. O preço base do procedimento é de 25 milhões de euros e “o critério é o preço mais baixo”.

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O merado espera há três décadas por obras. ©Rui Oliveira / Global Imagens

Os vereadores aprovaram por unanimidade a aquisição, “por via amigável”, de parcelas de privados necessárias à execução do túnel urbano da Rua do Ateneu Comercial à Rua de Alexandre Braga, e ainda (com abstenção de Pero Carvalho) a aquisição do direito de utilização do espaço de 5.700 metros quadrados do La Vie, com entrada pela Rua da Alegria, para cargas e descargas do mercado temporário.

Questionado pelo vereador do PSD Ricardo Almeida sobre o modelo de gestão, Rui Moreira esclareceu que o futuro Mercado do Bolhão “vai ser gerido pela Câmara do Porto”. “Não vemos necessidade de mudar o pensamento estratégico, nem a necessidade de criar uma empresa municipal”, disse, esclarecendo que as lojas e restaurantes serão concessionados a privados.