O antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan expressou “profunda preocupação” com a violência no estado birmanês de Rakhine, onde o exército matou dezenas de pessoas no fim de semana, levando centenas a fugir para o Bangladesh.

O exército bloqueou uma zona junto à fronteira, que maioritariamente acolhe membros da minoria muçulmana perseguida rohingya, desde os ataques a postos da polícia no mês passado.

O exército diz que as tropas mataram quase 70 pessoas quando estavam à procura dos atacantes, que dizem ser militantes rohingya radicalizados com ligações a islamitas no estrangeiro.

Ativistas afirmam que o número pode ser muito maior e acusam as tropas de dispararem contra civis desarmados, violarem mulheres e queimarem casas. O exército impede os observadores independentes de investigarem estas reivindicações.

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Kofi Annan apelou ao fim da violência num comunicado divulgado numa altura em que sete membros da comissão que lidera sobre Rakhine estão em conversações com dirigentes locais na capital estadual Sittwe.

“Quero expressar a minha profunda preocupação em relação à recente violência no estado de Rakhine, que está a fazer o estado mergulhar numa renovada instabilidade e a criar novos deslocados”, disse, num comunicado divulgado na terça-feira à noite.

“Todas as comunidades devem renunciar à violência e insto os serviços de segurança a agir em total respeito pelo Estado de Direito”, afirmou.

Na quarta-feira os membros da comissão vão deslocar-se a localidades atingidas pela violência.

Os Estados Unidos estão também “preocupados com os relatos de um aumento da violência” em Rakhine, disse a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano Elizabeth Trudeau em Washington, instando o Governo a permitir uma “investigação credível e independente”.

A calma aparente na zona foi quebrada no fim de semana, quando o exército matou 30 pessoas em dois dias e destacou helicópteros de combate pela primeira vez.

Os combates levaram cerca de 200 rohingyas a fugir para a fronteira do Bangladesh.

Cerca de 15 mil pessoas tiveram de deixar as suas casas devido aos conflitos e 150 mil pessoas da zona empobrecida estão sem ajuda humanitária há mais de um mês, de acordo com o gabinete de coordenação de assuntos humanitários da ONU.

O ressurgimento da violência em Rakhine veio agravar uma crise que ameaça o novo governo birmanês, liderado pela ativista pró-democracia Aung San Suu Kyi.

A vencedora do Nobel da Paz nomeou Kofi Annan para liderar uma comissão encarregada de encontrar formas de gerir os graves problemas deste estado.

Rakhine sofre de tensões religiosas desde os confrontos violentos entre a maioria budista e a minoria muçulmana rohingya que causaram mais de 100 mortos em 2012.