É oficial: o Banco Central Europeu deu “luz verde” ao negócio, o conselho de administração do banco aprovou-o por unanimidade, e a Fosun é desde esta sexta-feira acionista do Millennium BCP.

Os chineses aceitaram pagar 175 milhões de euros por 16,7% do capital do maior banco privado em Portugal. A operação foi concretizada através de um aumento de capital reservado ao grupo chinês que é dono da Fidelidade.

Este é o primeiro passo de um negócio que pode consolidar a Fosun como o maior acionista do BCP. O banco e o investidor assinaram um memorando de entendimento no dia 18 de novembro que prevê a entrada de dois administradores executivos no mandato que está em curso, um deles será vice-presidente da comissão executiva.

Nos termos do acordo, fica ainda estabelecido que a Fosun pretende chegar a curto prazo aos 23% do capital do BCP quando ficará com o direito de indicar três administradores não executivos. Este reforço exige, para além da autorização do Banco Central Europeu, a alteração dos estatutos do banco que limitam os direitos de voto a 20% do capital. A assembleia-geral desta segunda-feira para discutir o tema foi entretanto adiada.

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Com a participação agora adquirida, o grupo chinês será já o maior acionista do BCP, isto porque a última posição conhecida da Sonangol, de 17%, ficou diluída com este aumento de capital, tendo diminuído para 15% a 16%. No entanto, a petrolífera angolana já anunciou que pediu autorização ao BCE para reforçar a sua posição no banco português.

A intenção de entrada da Fosun no capital do BCP já tinha sido anunciada no verão.

Na sequência dos anúncios publicados em 30 de julho de 2016, 14 de setembro de 2016 e 28 de setembro de 2016, o Banco Comercial Português anuncia a aprovação pelo seu Conselho de Administração, do resultado das negociações com a Fosun Industrial Holdings Limited bem como do aumento, por colocação particular, do capital social do BCP”, lê-se no comunicado enviado pelo BCP à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

A Fosun reagiu à concretização do negócio através de um comunicado. Nele se lê que este é “um passo importante para a consolidação da estratégia de internacionalização [da Fosun]”. Quanto ao BCP, a Fosun pretende dar-lhe “condições que permitam tirar partido do seu enorme potencial”, elogiando ainda a “enorme determinação” da administração do BCP e o “apoio dos acionistas de referência” do banco.

A Fosun compromete-se a não negociar as ações que detém no Millennium BCP durante um prazo de três anos. Mas a Fosun quererá tudo menos vender. É que esta é apenas a primeira fase da compra de capital do banco liderado por Nuno Amado por parte da Fosun. Numa segunda fase, os chineses pretendem que a sua participação cresça até 30% do capital, tornado-se no maior acionista do BCP.

Uma das condições para a concretização do negócio (e posterior aumento de capital até 30%) é a aprovação por parte da assembleia geral do Millennium BCP da subida do valor limite dos direitos de voto (hoje em 20%) precisamente até 30%.

O mesmo é dizer que este aumento garantirá, no curto prazo, que a Fosun passe a ter o papel determinante na tomada das decisões estratégicas no banco. Isto se a Sonangol não aumentar também o seu investimento no BCP. Apesar da intenção manifestada nesse sentido, a petrolíferos estatal angolana, liderada por Isabel dos Santos, está em processo de reestruturação face à queda do preço do petróleo e a uma política de investimentos desordenados nos últimos anos. Terá ainda de obter a luz verde do BCE.

Por outro lado, a Fosun precisará do voto da Sonangol para garantir tal mudança no valor limite dos direitos de voto. A assembleia geral desta segunda feira foi adiada para 19 de dezembro e a razão pode ser mesmo essa: a intransigência da Sonangol em não querer ficar para trás face aos chineses da Fosun. Isto apesar de entrada do novo investidor estratégico chinês no BCP ter sido aprovado por unanimidade no conselho de administração do banco onde a Sonangol está fortemente representada.

O acordo com a Fosun envolve ainda uma parceria internacional na área dos seguros que passa pela distribuição deste produtos nos bancos controlados pelo BCP em Moçambique e na Polónia. Já em Angola, onde o BCP fundiu as operações com o Atlântico, a última palavra caberá à Sonangol.

A Fosun controla em Portugal a seguradora Fidelidade e o grupo Luz Saúde. Apesar de a sociedade que realizou o investimento no BCP se chamar Chiado, onde fica a sede da Fidelidade, a seguradora portuguesa não estará diretamente envolvida nesta operação.