A líder de facto do governo birmanês, Aung San Suu Kyi, afirmou estar triste e dececionada com os confrontos entre o exército e guerrilhas de minorias que comprometem os seus planos para alcançar a paz, informa, esta quinta-feira, a imprensa estatal.

Pelo menos nove pessoas morreram desde o fim de semana em novos confrontos no estado Shan, na fronteira entre a Birmânia e a China, após o ataque conjunto das guerrilhas das minorias kachin, ta’ang e kokang contra posições do exército.

Num comunicado publicado pelo jornal Global New Light of Myanamr, Suu Kyi admite o fracasso do país em resolver, por via do diálogo, os conflitos com as minorias, dos quais alguns se arrastam desde a independência em 1948.

Ao mesmo tempo, lamentou que a ofensiva das três guerrilhas tenha tido lugar quando o seu governo e representantes de minorias trabalham para organizar um diálogo de paz.

“Justamente quando o povo de Myanmar [antiga Birmânia] se esforça para alcançar a paz e a reconciliação nacional que lhes foi esquiva no passado, é extremamente dececionante e triste que se tenham instigado esses incidentes”, disse Suu Kyi.

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A líder de facto do governo da Birmânia – o primeiro democrático depois de cinco décadas de regimes militares – advertiu que o recurso às armas “não resolverá os problemas nem permitirá alcançar os objetivos” da população.

Neste sentido, renovou a sua oferta de diálogo às três guerrilhas, instando-os a assinar o cessar-fogo e a juntarem-se à negociação política.

A Nobel da Paz também elogiou o papel do exército no restabelecimento da segurança na zona e evitou qualquer crítica aos militares.

O governo birmanês organizou em agosto uma conferência de paz, que reuniu 18 das 21 guerrilhas do país e terminou com uma declaração de boas intenções, mas sem grandes acordos.

Os ta’ang e kokang não participaram no encontro, devido ao veto dos militares, ao contrário do que sucedeu com os kachin, que enviaram uma delegação.

Os kachin, com cerca de 10.000 milicianos, enfrentam o exército desde 2011, após o fim de um cessar-fogo que durou 17 anos.

Esse diálogo não deteve, contudo, a ofensiva levada a cabo na zona pelo exército birmanês, ao qual a Constituição concede amplos poderes, incluindo os ministérios da Defesa, Interior e Fronteiras, e poder de veto no parlamento.

Uma maior autonomia é a principal reivindicação de quase todas as minorias étnicas da Birmânia, incluindo a chin, kachin, karen, kokang, kayah, mon, rakain, shan e wa, as quais representam mais de 30% dos 48 milhões de habitantes do país.

O comunicado reproduzido, esta quinta-feira, na imprensa estatal figura como a primeira declaração sobre os combates por parte de Suu Kyi que tem, no entanto, evitado pronunciar-se sobre a onda de violência no estado Rakhine, no oeste do país, e sobre as denúncias feitas por diversas organizações relativamente a abusos praticados contra os rohingya, uma minoria muçulmana apátrida considerada uma das mais perseguidas do planeta pelas Nações Unidas.