O compositor e maestro Arlindo de Carvalho, autor de êxitos como “Chapéu Preto” e “Fadinho Serrano”, morreu aos 86 anos, no sábado às 23h00, num hospital de Lisboa, disse hoje à Lusa um seu familiar. Segundo a mesma fonte, o funeral realiza-se, em data a anunciar, na sua terra natal, a Soalheira, no concelho do Fundão, na Beira Baixa.

No passado mês de maio o compositor foi homenageado na Saoalheira, onde se lhe ergueu um monumento.

Em 2011, Arlindo de Carvalho recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores, reconhecendo a sua valiosa obra musical de raiz popular, como afirmou na ocasião fonte daquela cooperativa.

As suas composições foram interpretadas por nomes como Luís Piçarra, Gina Maria, Amália Rodrigues, Tristão da Silva, António Mourão, Maria de Fátima Bravo, Madalena Iglésias, Maria de Lourdes Resende, Lenita Gentil, Rão Kyao, Júlio Pereira, Guilherme Kjolner, Armando Guerreiro, Carlos Guilherme, Bjorn Ehrling, Richard Winsborough ou Maria do Ceo.

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Nascido a 27 de abril de 1930 na Soalheira, Beira Baixa, cedo evidenciou o gosto pela música. Tendo efetuado o curso do Magistério Primário, estudou música na Academia de Amadores de Música, de Lisboa, onde conheceu Fernando Lopes-Graça, e fez ainda parte do respetivo coro, e mais tarde, já exilado em França, estudou no Conservatório de Poitiers.

Começou a compor em 1949, tendo abordado vários géneros musicais, com predominantemente de raiz etnográfica, mormente da Beira Baixa. Em 2011, quando a Sociedade Portuguesa de Autores lhe entregou a Medalha de Honra, realçou a sua valiosa obra musical de raiz popular.

Arlindo de Carvalho assinou também as letras de algumas das suas composições, designadamente “Canção da Beira Baixa”, gravada por si, e por outros intérpretes como Gina Maria, ou ainda as canções “Brinquem todos” e “Beijinho”, gravadas por Corina, ou “Canção da Praia da Areia Branca”, gravada por Alexandra.

O compositor foi autor de canções ligeiras, de raiz folclórica, de intervenção e fados de Coimbra, nomeadamente “Bate o fado trigueirinha”, com letra de António Vilar da Costa, “Hortelã mourisca”, com letra de José Vicente, ou “Raminho de Loureiro”, com letra de Correia Tavares ou “Fadinho Serrano” e “Tão longe daqui”, estes dois títulos com letra de Hernâni Correia.

Em 1960, a “Canção do Pastor”, de sua autoria, interpretada pelo tenor Guilherme Kjölner, venceu o 2.º Festival da Canção Portuguesa, que se realizou no Porto.

Em 1965, exilou-se voluntariamente em França, altura em que a par de outras atividades foi aluno no Conservatório de Poitiers, e estreou-se como cantor em Paris, em 1966. Gravou vários discos para uma discográfica francesa e percorreu a Europa.

Ainda durante o exílio, que durou até 1968, foi leitor de português no Liceu Henry IV, em Poitiers.

Regressado a Portugal, em 1969, uma canção de sua autoria representa Portugal no Festival da Canção Latina, no México, regressando a este certame em 1970, com o tema “Hei de ser tua”, interpretado por Lenita Gentil, que gravou e popularizou “Ai, ai, Oledo”.

Vários intérpretes têm composições de Arlindo de Carvalho no seu repertório, entre eles, Luís Piçarra, Gina Maria, Amália Rodrigues, Tristão da Silva, António Mourão, Maria de Fátima Bravo, Madalena Iglésias, Maria de Lourdes Resende, Rão Kyao, Júlio Pereira, Fernanda Maria, Florência, Lenita Gentil, Alexandra, Nuno da Câmara Pereira, Maria do Ceo, Guilherme Kjolner, Armando Guerreiro, Carlos Guilherme, Mísia, Cristina Branco, Mafalda Arnauth, Maria Ana Bobonne, Rodrigo Costa Félix, o sueco Bjorn Ehrling, e o australiano Richard Winsborough.

Várias composições de sua autoria fazem também parte do repertório de grupos folclóricos, e de grupos corais portugueses e estrangeiros.

Na década de 1970, o líder do Partido Social-Democrata sueco, Olof Palme convidou Arlindo de Carvalho para participar, como cantor, nas campanhas eleitorais de 1976 e 1979.

Em novembro de 1998 o compositor fundou o Grupo Coral da Soalheira, e no ano seguinte compôs a música para “A vida não é uma prisão” um poema de Nuno Gomes dos Santos, tema dedicado a Timor-Leste.

Em 2007 publicou o seu CD “Coimbra dentro da alma”, e em 2009 foi convidado para fazer um recital no Museu da Aquitânia, em Bordéus, numa homenagem prestada a Aristides Sousa Mendes, cônsul português em Bordéus, que salvou milhares de judeus durante a II Grande Guerra.

Em 2011, a Câmara Municipal de Castelo Branco homenageou o compositor, tendo promovido um espetáculo nesta cidade, inteiramente dedicado à sua obra, no qual participaram Luísa Basto e o Grupo Coral da Soalheira.

Também nesse ano, um outro espetáculo de homenagem a Arlindo de carvalho, realizou-se na Aula magna da Universidade de Lisboa, pelo seu contributo para o fado.

Segundo o músico Luís Ribeiro, que o acompanhou à guitarra portuguesa, Arlindo de Carvalho terá cantado pela última vez em público na passada segunda-feira, no restaurante típico Guitarras de Lisboa, na capital, tendo interpretado “Comboio da Beira Baixa”, de sua autoria.