Continua a troca de acusações entre socialistas e sociais-democratas a propósito do processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos. Esta segunda-feira, reagindo à demissão de António Domingues, o socialista João Galamba acusou a oposição de estar fazer tudo para “causar dificuldades ao país” mas assegurou, ainda assim, que o processo de recapitalização não está em risco. Na resposta, Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, devolveu as acusações ao Governo socialista e exigiu que António Costa prestasse todos os esclarecimentos em falta. “António Costa tem muito a explicar. É o ator principal deste filme. Não pode dar à sola e não assumir as suas responsabilidades”, reiterou o líder da bancada parlamentar do PSD.

O anúncio da demissão de António Domingues e de vários membros da recém-nomeada administração da Caixa depois da prolongada polémica em torno da apresentação ou não das declarações de rendimentos junto do Tribunal Constitucional caiu com estrondo na noite de domingo. Esta segunda-feira, no Parlamento, João Galamba acabou por assumir que o PS sempre “desejou que as coisas tivessem corrido melhor”, mas deixou a garantia de que a demissão de Domingues não afetará o processo de recapitalização do banco público.

“O PS respeita naturalmente o pedido de demissão do presidente da CGD. Mas o mais importante é garantir que o acordo de recapitalização não é afetado”, declarou o socialista, numa breve conferência de imprensa.

O porta-voz do PS voltou a condenar o comportamento dos sociais-democratas em todo o processo, acusando o PSD de se ter “empenhado ativamente numa lógica niilista de causar dificuldades ao país no processo de recapitalização”, e pediu responsabilidade ao partido liderado por Pedro Passos Coelho. “Esperamos que o PSD não embarque noutra tentativa de criar novos problemas à Caixa Geral de Depósitos”.

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O socialista devolveu depois a pressão aos dois partidos da direita. “Penso que se o PSD e o CDS são genuínos como as suas declarações de defesa de um banco público, compreenderão” e não se devem entregar “à tática da pura guerrilha partidária que não tem outro objetivo que não seja dificultar o processo de recapitalização. Se isso acontecer”, continuou Galamba, “então estaremos perante dois partidos profundamente irresponsáveis que não olham a meios para atingir os fins e, neste caso, os fins são a pequena política e a guerrilha partidária”.

PSD pede esclarecimentos ao Governo e exige que Domingues entregue declaração de rendimentos

Minutos depois da conferência de imprensa de João Galamba era a vez de Luís Montenegro reagir à demissão de António Domingues. O líder da bancada social-democrata acredita que o Governo socialista não se pode limitar ao comunicado que emitiu no domingo à noite e que deve prestar todos os esclarecimentos em falta. Se tal não acontecer, os sociais-democratas admitem mesmo chamar António Costa à comissão de inquérito da Caixa.

“Não excluímos nenhuma das nossas prerrogativas para podermos cumprir o nosso papel de fiscalização em nome dos portugueses”, assumiu Montenegro, depois de questionado se o PSD admitia chamar o primeiro-ministro à comissão parlamentar de inquérito à Caixa.

O líder parlamentar do PSD acredita, de resto, que António Costa está a tentar fugir às suas responsabilidades desde o início do processo de recapitalização da Caixa. “Andamos há 11 meses a apresentar ao governo a necessidade de prestar esclarecimentos. Mas o primeiro-ministro continua a querer dizer ao país que este filme não é nada com ele”, começou por dizer o social-democrata. E acrescentou:

Não pode, por assim dizer, dar à sola e não assumir as suas responsabilidades quando o Governo enfrenta dificuldades”.

Ainda que tenha aproveitado a conferência de imprensa para criticar a forma como o Governo socialista tem gerido todo o dossier da Caixa Geral de Depósitos, Luís Montenegro deixou claro que, mesmo demissionários, os administradores do banco público estão obrigados a apresentar as declarações de rendimentos junto do Tribunal Constitucional. “A demissão [da administração] não apaga os deveres de transparência”, sublinhou o líder da bancada parlamentar social-democrata.