É uma espécie de caso Spotlight, mas envolvendo clubes de futebol ingleses: o Conselho de Chefes de Polícias Nacionais (o NPCC, National Police Chiefs’ Council, na sigla inglesa) está a investigar cerca de 350 queixas de alegadas vítimas de abusos sexuais por parte de responsáveis de equipas britânicas. O número de denúncias telefónicas já chega às 850.

O escândalo nasceu com a revelação dos abusos cometidos Crewe Alexandra, atualmente a disputar a quarta divisão inglesa. À denúncia de Andy Woodward sobre os abusos que sofreu por parte do antigo treinador Barry Bennel seguiram-se outros testemunhos na primeira pessoa. Ao mesmo ritmo, foi multiplicando o número de clubes envolvidos no caso que está a abalar as camadas jovens do desporto britânico.

O caso ganhou maior proporção depois de várias vítimas surgirem a denunciar os crimes. Sem revelar identidades, o selecionador inglês, Gareth Southgate, revelou ter sido colega de equipa de uma das vítimas. Também nas últimas horas, os jornais britânicos revelaram que o Chelsea, um dos principais clubes do país, pagou cerca de 60 mil euros a um antigo atleta para garantir que o jogador se mantinha em silêncio sobre o caso.

Os casos “não são recentes”, sublinhou Simon Bailey, responsável pela proteção de menores do NPCC, mas o número é “significativo e está a crescer”. Sobre as possíveis 350 vítimas, o mesmo dirigente do NPCC diz ser “importante referir que este número é apenas indicativo e que a informação está ainda a ser recolhida”, pelo que “os números continuarão a mudar”.

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Ao mesmo tempo, aquele órgão, que reúne vários responsáveis policiais, reforça o pedido para mais jogadores apresentem os seus casos.

Continuamos a encorajar as pessoas que foram vítimas de abusos sexuais a reportar esses casos, independentemente de há quanto tempo esses abusos tenham acontecido, refere Simon Bailey, membro do conselho britânico que reúne vários responsáveis policiais.

A NPCC quer “trazer à luz do dia” tudo o que aconteceu com os jovens jogadores. “Vamos ouvir e tratar todos os relatos de forma sensível e com seriedade”, garante Simon Bailey. “Instamos qualquer pessoa com alguma informação sobre os abusos sexuais a denunciar esses casos”.

Esta quinta-feira foi tornado público o caso de Gary Johnson, antigo jogador das camadas jovens do Chelsea, que admitiu ter sofrido abusos quando representava o emblema britânico. Recentemente, quando voltou ao clube para pedir responsabilidades pelos abusos de que foi vítima, os dirigentes ofereceram-lhe cerca de 60 mil euros. Dinheiro que serviria para compensar as consequências pelas centenas de abusos sofridos na década de 1970 e para garantir que o caso não chegava às páginas dos jornais.

Johnson — que teria 13 anos na altura dos factos e que diz ter sido abusado duas a três vezes por semana — foi agora obrigado a assinar uma cláusula de confidencialidade. “O que me incomoda é ter-me dirigido ao Chelsea para dizer-lhes que tinha sido abusado e eles, basicamente, terem-me dito ‘prova-o’. Fez-me sentir que pensavam que eu estava a fingir, foi isso que pareceu”, disse o antigo jogador do clube.

Entretanto, foi criada uma linha de atendimento para tratar destes casos — onde, nos últimos dias, chegaram as cerca de 850 denúncias que deram origem aos atuais cerca de 350 processos — e tornar mais clara a dimensão do escândalo no futebol infantil britânico.