Para o primeiro-ministro, a polémica sobre o valor dos salários da administração da Caixa Geral de Depósitos é “uma questão ultrapassada. Os vencimentos estão fixados. A legislação está em vigor e não a vamos mudar”. Foi a resposta pronta de António Costa quando confrontado com a mais recente declaração do Presidente da República em que reafirma o que já tinha dito em outubro. Marcelo Rebelo de Sousa prefere maior contenção nas remunerações dos gestores da Caixa.

A declaração de Marcelo, ao Jornal Público, foi feita depois de ter sido noticiado que o vencimento de Paulo Macedo na presidência da Caixa será o mesmo que o atribuído ao presidente demissionário, António Domingues — 423 mil euros por ano ou cerca de 30 mil euros por mês. Este valor, resultante da mediana dos vencimentos praticados pelos maiores bancos, só foi possível porque o Executivo retirou a Caixa do estatuto do gestor público. O tema vai voltar a ser discutido esta semana no Parlamento com nova proposta do PSD para travar os salários na administração da CGD.

António Costa realça que o Governo não fixou uma remuneração ad domini para a administração que está a sair. A legislação foi aprovada para garantir que a Caixa tem uma gestão profissional, para que possa recrutar administradores no mercado. “É uma opção política que foi tomada, será mantida e vai ser executada”.

O primeiro-ministro, que falava aos jornalistas numa visita à fábrica da Renova em Torres Novas, apela ainda à necessidade de nos concentrar-mo-nos no que é importante que é a execução do plano de recapitalização e reestruturação aprovados em Bruxelas. António Costa não deixou sem resposta as acusações mais recentes de Passos Coelho lembrando que depois da anunciada “saída limpa” do programa em 2014 houve resolução de dois bancos (BES e Banif) e realçou que teve de agir na Caixa para travar a “catástrofe” no setor.

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Acusando o anterior primeiro-ministro de “negação”, lembrou que a Caixa teve problemas (perdas) durante anos, que agora estão a ser assumidos porque só assim podem ser resolvidos. Quanto à possibilidade admitida pelo líder do PSD de que a recapitalização podia não acontecer antes do verão de 2017, Costa acusou Passos de estar sempre a anunciar catástrofes para o futuro.

Caixa não foi discutida no Eurogrupo

Também em resposta a perguntas sobre a Caixa, o ministro das Finanças disse esta segunda-feira, em Bruxelas, que não há “nenhuma razão” para se questionar o acordo com a Comissão Europeia sobre a recapitalização da Caixa Geral de Depósitos (CGD), até porque o novo presidente executivo “cumpre os requisitos”.

Em declarações aos jornalistas à margem de uma reunião de ministros das Finanças da zona euro, Mário Centeno referiu por diversas vezes que a questão da CGD, que “é um assunto doméstico”, não foi abordada na reunião de hoje, escusando-se por isso a fazer muitos comentários, mas garantiu que o processo de recapitalização deverá prosseguir como previsto, apesar da mudança da administração do banco, concretizada na passada sexta-feira, com Paulo Macedo a substituir António Domingues na presidência.

“Não temos nenhuma razão para duvidar desse acordo de princípio que foi assinado pela Comissão Europeia. É evidente que temos todos que estar comprometidos com esse processo. Ele é muito importante e foi um enorme sucesso para a economia portuguesa”, começou por referir o ministro, para de seguida acrescentar que a mudança de administração não deve de forma alguma colocar em causa o processo.

Segundo Centeno, “é evidente que o profissionalismo da administração da Caixa vai manter-se, foi essa a base principal do acordo feito com a Comissão Europeia, e nesse contexto obviamente o dr. Paulo Macedo cumpre os requisitos” estabelecidos para todo o processo.