A vitória do ‘Não’ no referendo constitucional em Itália pode resultar da distância entre a esfera política, em particular o Partido Democrático (PD), e os jovens, segundo Gregorio Staglianò, da juventude do PD, o partido do primeiro-ministro demissionário, Matteo Renzi.

Em declarações ao Observador, Staglianò sublinha que “19% dos jovens votaram ‘sim’, enquanto 81% votaram ‘não’“. Para o jovem, de 23 anos, “este facto é indicativo, pois revela a distância entre a política e a nossa geração”.

Apesar de tudo, Staglianò não considera que “os italianos quisessem mandar Renzi embora, porque ele não era um primeiro-ministro desastroso”. O que aconteceu, na opinião do jovem do PD, foi que Matteo Renzi “perdeu o contacto com o país real, com as suas necessidades”. E, por isso, “os italianos não consideraram o referendo uma prioridade”, porque lhes pareceu uma realidade distante.

Gregorio Staglianò assume que faz parte da minoria dentro do partido de Matteo Renzi. “O PD, nos anos recentes, virou para o centro, esquecendo-se frequentemente de onde veio. Agora, temos os votos dos banqueiros, das empresas e dos empreendedores, mas estamos a perder os jovens, os desempregados, os trabalhadores temporários, as universidades“, lamenta.

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Para Staglianò, o PD de hoje é um partido muito dividido, e “o resultado do referendo abre uma época de incerteza, por causa da demissão de Renzi”. “Muitos membros do PD não podem aparecer agora, porque acusam Renzi de ter levado o PD para a direita”, acrescenta.

Quero que o partido regresse à esquerda e se foque nos assuntos da esquerda: a imigração, o desemprego, as desigualdades, a segurança social e as diferenças sociais”, afirma o jovem.

A par do distanciamento da esfera política, surge o distanciamento dos próprios jovens, destaca Staglianò, que, além de estar envolvido na juventude partidária do PD, passou os últimos cinco anos a estudar Ciência Política na Universidade de Roma. “Infelizmente, penso que os jovens italianos não estão interessados em política“, sublinha, explicando que isto se deve sobretudo ao facto de “os partidos estarem entrincheirados nos seus gabinetes e de haver um sentimento esmagador de resignação”.

“Os jovens italianos não se informam, não argumentam, falam antes de ouvir e odeiam qualquer político que a televisão lhes diga para odiar. A chave para interpretar tudo isto é cultural”, acrescenta. A solução, defende, é “o PD reescrever a sua ligação com os jovens”.