O eurodeputado Paulo Rangel considera que António Costa, “tal como outros políticos europeus — como Cameron ou talvez Renzi — tem sacrificado o médio-longo prazo ao curto prazo e os resultados para os próprios países não têm sido animadores”. O social democrata falava esta terça-feira, em Bruxelas, a um grupo jornalistas portugueses, comentando a entrevista de António Costa esta segunda-feira à RTP, em que o primeiro-ministro disse não valer a pena falar sobre a renegociação da dívida antes das eleições alemãs.

“Esse tipo de navegação à vista não tem dado grandes frutos a nível europeu”, afirmou o eurodeputado. No entanto, Paulo Rangel discorda sobretudo da maneira como o problema foi abordado pelo primeiro-ministro:

Não concordo com a forma como ele põe a questão. É a mensagem que quer dar para os parceiros de coligação. Não está a falar como político europeu, mas para a sua cozinha doméstica. Depois do congresso do PCP, tinha de dizer qualquer coisa”, afirmou o eurodeputado.

Na perspetiva de Paulo Rangel, o primeiro-ministro sabe, “como político europeu, que as coisas não se põem nesses termos e que a renegociação da divida não se vai colocar”. Critica ainda António Costa por causa da possível reação dos mercados a declarações deste tipo: “Faz muito mal em dizer isto, numa altura em que a pressão sobre os juros portugueses não está baixa. Devia ter sido mais categórico a afastar isso”.

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Na entrevista à RTP, António Costa disse que a União Europeia “não pode continuar a ignorar” o tema da renegociação da dívida, embora Portugal tenha de cumprir as regras enquanto estas não forem ajustadas. O primeiro-ministro disse o seguinte na televisão pública:

Creio que não é preciso ser um grande analista político para perceber que, havendo eleições na Alemanha em Outubro de 2017, até lá, a União Europeia não discutirá nada relativamente à divida”.

E foi mais longe: “Mais tarde ou mais cedo, infelizmente mais tarde do que cedo, é óbvio que a União Europeia não pode continuar a ignorar um problema que afeta o conjunto da Zona Euro e que exige uma resposta europeia integrada”.

Marcelo e Passos deviam ser mais comedidos

Sobre a recente troca de palavras entre o Presidente da República (PR) e o líder do PSD, Paulo Rangel disse que “o PR tem de de realizar o seu papel e o partido da oposição tem de realizar o seu papel. Se cada um realizar o seu papel, penso que não há problema nenhum”, comentou o eurodeputado.

O social-democrata entende, no entanto, que tanto Marcelo Rebelo de Sousa como Pedro Passos Coelho deviam ter mais cuidado com as trocas de palavras públicas. “Eu seria, quer no caso do PSD quer no caso do Presidente, mais comedido. Mas acho tudo normal e é importante separar as duas esferas. E nisso tanto o PSD como o PR estão de acordo, que é o consenso mais importante de todos”.

Paulo Rangel justifica estes choques por Marcelo também ser social-democrata: “Como ele é do PSD e é muito querido no PSD, tem de fazer um esforço para se distanciar. E é natural que o PSD também tenha de afirmar a sua visão”.